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Maio, a liberdade e o reino

Maio, a liberdade e o reino

Artigo de Opinião de JOSÉ ALBERTO BAPTISTA

 “Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo” (Sophia) 

O mês de Maio, o quinto mês do calendário, era o mês em que se festejava a deusa Maia; por isso, transportou para a cultura europeia todo um conjunto de significantes que, a nenhum de nós, torna indiferente. Começando pelo primeiro dia de Maio. Nele, o trabalho merece um respeito superior, o respeito devido à própria dignidade do trabalhador. É esta dignidade que a permanente ilusão de luta dos trabalhadores quer preservar. Algumas absurdas leis do trabalho descuram a essência do descanso semanal e não permitem que ele seja gozado em família e sem pressão do empregador. A lei do lucro é majestática, porque o capital assim o quer e o legislador assim o permite. O trabalho deve exigir para quem o produz “que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo”. Porque o próprio luxo tem, muitas vezes, o cheiro do lixo. Do lixo dos maus salários, do lixo de horários extenuantes, do lixo do desfasamento familiar, do lixo da concorrência delirante. 

Se o desenvolvimento económico é uma esfera imprescindível da dignidade humana, essa esfera não pode ser subvertida em favor de um minoria exclusivista que tem vencimentos e ganhos pecaminosos em relação aos seus trabalhadores. O que Sophia tão bem denunciava num texto dedicado aos irmãos Graco, os primeiros tribunos eleitos pelo povo romano, e que se opunham à  maioria togada do Senado: “Eles nunca perdem a  jogada… / usam a  fraqueza dos outros /apostam na fraqueza dos outros / e ganham”. Maio é também o mês da vitória da liberdade. A Europa e o Mundo comemoram o trágico fim de uma Guerra inaudita, criminosa e apocalíptica. Como é possível que uma Europa culta e uma América em cultivação tenham consentido as mais tenebrosas noites de todas as noites? Ainda hoje não compreendemos como a ascensão do fascismo europeu, e dos criados de quarto que o vestiram, conseguiu iludir, enganar, petrificar milhões de seres humanos, conduzindo-os para os infernos do arame farpado, da fome, da ira, do genocídio… Nem Sodoma nem Gomorra mereciam o castigo que tiverem, se a divindade que os castigou tivesse equiparado os seus erros com o cataclismo moral e humano que decorreu em pleno seculo XX da nossa era. Por isso, no dia 8 de Maio, lá estaremos para lembrar a libertação, não só da guerra, como da humilhação da humanidade. Porque o tempo de guerra é, e será, sempre um  “tempo de covardia e tempo de ira / tempo de mascarada e de mentira /tempo de escravidão”. E, por fim, Maio é o mês da Mãe no que esta tem de mais mágico, de mais misterioso, de mais divino. Ser Mãe é o momento único da criação, em que tudo se concentra num momento. Por isso, mais que a legislação estatal, é o reconhecimento da sociedade que tem que se empenhar, e comprometer, com o futuro que cresce no seio materno. Por menos crédulos que possamos ser, a introdução do mistério cristão da Mãe do fundador no coração do mês de Maio não pode deixar indiferente o mundo da cultura. Até porque, como acima escrevemos, em Maio celebrava-se a divindade que, na sua própria génese, incluía a maternidade. E, como a história da humanidade não é só a história do nosso tempo efémero, o mês de Maio deve ser um mês que faça perdurar tudo o que homem sonha, que a natureza opera e que Deus quer.

Em cada dia de Maio,  “a cada um a liberdade e o reino” (Sophia).


 

 

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