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João Fialho “o rei dos frangos" e não só com história de sucesso

João Fialho “o rei dos frangos" e não só com história de sucesso

João Fialho "Meio Século no Sector de Restauração em Lagos e na  Guerra do Ultramar"

Reportagem Exclusiva e Inédita na Edição 343 · MAIO 2019                                                              

Quem é o nosso “homem de barba rija”?

João Rosário Fialho, completou 67 anos em Março, nasceu em Torrão, concelho de Alcácer do Sal, mas vive em Lagos há mais de 50 anos. Veio residir para o Cotifo (Odiáxere) onde completou o ensino primário, e daí partia ainda muito novo (12 anos), a pé ou de bicicleta a pedal para trabalhar na restauração, no centro histórico de Lagos. Passou pelos cafés históricos lacobrigenses, como “Portugal”, “Restauração” e “Oceano”. Mais tarde, transferiu-se para o Snackbar “O Charco” onde ficou conhecido pelos famosos petiscos quase sempre acompanhados pela “loirinha imperial”. Seguiu-se a “Ferradura” continuando os petiscos, mas a rainha era a “bifana” regada com a tal loirinha. João Fialho conta a história A maior transferência foi do “Oceano” para o “Restauração”. «De 800 escudos fui ganhar 2500.» João recorda quando iniciou o percurso profissional. «A minha referência foi o Joaquim Bruxo que me ensinou tudo. Comecei a lavar loiça, e para tirar cafés tinha que pôr uma caixa de cerveja para chegar à máquina.” Entre diversos episódios rocambolescos recorda: «A trabalhar no Restauração, fui a um baile no mês de Agosto e não me deitei, comecei a ficar amarelo e mal disposto, a dona Julieta ofereceu-me um cálice de vinho do Porto, o patrão viu-me a beber e disse-me que tinha de pagar. Registei e paguei; Nós vendíamos lagosta a montes que vinham de Aljezur, os ingleses não comiam a cabeça e nós ficávamos com o petisco. Um dia, o patrão quis uma cabeça e disse-lhe, se quiser paga!»

A obrigatória viagem para a Guerra do Ultramar

Mas se o percurso profissional ia de vento em popa, eis que a malfadada tropa obrigatória veio estampar uma nova faceta na vida do João. Depois de assentar praça em Beja, Évora, Póvoa do Varzim, Faro, Lagos, saiu-lhe na rifa a mobilização para a guerra de África. O cabo Fialho esteve em Angola, sempre no Norte. Embora permanentemente em perigo, por mor de inesperadas emboscadas, valeu-lhe no entanto a sua profissão na sociedade civil. Assim, o João, ora no bar ou na cozinha, lá ia correndo menos riscos. De registar que na sua área de serviço militar na guerra colonial, recebeu dois louvores, um da parte dos camaradas da tropa e outro da autoria do comandante de batalhão. Esteve em terras angolanas durante 15 meses e um dia, deixando em Lagos um filho e a sua mulher. Viveu dois períodos distintos, antes do 25 de Abril de 1974, e pós revolução em que decorria uma autêntica guerra civil, com mais feridos e mortes do que no mato. João recorda que a vivência em Angola foi dura, mas algo atenuada pela presença de outros camaradas lacobrigenses, tais como o capitão Fausto, o José Vicente (furriel), David Xavier, Higídio, entre outros. Cabo Fialho relata factos: «no bar dos oficiais, um alferes pediu um ovo estrelado extra, tinha que assinar um papel, mas ele não quis. Começou a ofender-me e eu “dei-lhe com a bandeja”. Em consequência, naquela altura fui enviado para o rancho da companhia onde estava à vontade e era o que eu queria.»

Uma recordação memorável

Em 1975 quando regressou ao continente com o seu batalhão, trouxeram o pequeno Benjamin, cuja vida foi alterada para melhor. Hoje em dia, é um homem com vida profissional e uma família, mas continua presente, pois vai regularmente aos encontros anuais do batalhão acompanhado do  Alferes que o adoptou.

Churrasqueira “Maná” foi o passo para o novo empresário

Com Angola para trás, o Fialho regressou à restauração e ao “Charco”, mas depois rumou para a cervejaria “Ferradura”, levando clientela atrás dele, pois continuavam os bons petiscos agora com a bifana como rainha, e quase sempre regada com a “loirinha”. Seguiu-se a “Caçarola”, um novo estabelecimento da restauração que fez furor à época. Porém, sempre em busca de melhores condições, após ter tomado a decisão de montar um negócio por conta própria, eis que surge a “Churrasqueira Maná”, que foi uma das primeiras de Lagos inaugurada em 1988. E aí, o “João do Maná” ganhou ainda mais fama, com sucesso garantido, durante 25 anos de muito esforço como empresário e trabalhador. João conta que na churrasqueira Maná  recebia todos os jogadores do Esperança de Lagos, bem como atletas de outros clubes e respectivos familiares, onde eram celebradas as festas desportivas. «Era engraçado que os miúdos quando me viam na rua e perguntavam-me então quando é que há festa». Todavia, o espaço no “Maná” tornou-se exíguo e pelo caminho houve um incêndio e com o desaparecimento dos serviços da Câmara Municipal na Estrada da Ponta da Piedade e a construção de novos acessos junto à churrasqueira levaram João a procurar novas soluções.  Assim, surgiu mais um desafio e a oportunidade para se mudar de “armas e bagagens” para a Churrasqueira Frangos de S. João, onde já está a laborar com o reconhecido êxito, tendo assinalado justamente no Dia do Trabalhador (1 de Maio) sete anos sempre a crescer. 

Churrasqueira Frangos de S. João passou a ser um local de eleição para  uma refeição típica portuguesa em Lagos

A paixão pelo Desporto 

De realçar que João, ao longos dos anos, sempre foi um aficionado e associado ao desporto. Como foi referido anteriormente, recebia jogadores do Esperança e atletas de outras colectividades no “Maná”. No entanto, convém relembrar que o “rei dos frangos” chegou a ser atleta como guarda redes de futebol, na célebre equipa de Juvenis do Esperança que foi pela primeira campeã do Algarve. Mas devido à profissão na restauração, com horários incompatíveis, limitava-se a fazer alguns treinos sem oportunidade de convocação para jogos oficiais. Por isso, alinhava nos famosos torneios de futebol de salão. Sem esquecer que na tropa integrava as equipas nos vários quartéis onde esteve a cumprir serviço militar, chegando a alinhar ao lado e a defrontar jogadores de craveira nacional e internacional. A sua paixão pelo desporto mantém a chama viva, pois continua a dar apoio às equipas e clubes desportivos da terra e de outras paragens, através de patrocínios, fornecimento de refeições a preços acessíveis, assegurando assim uma clientela desportiva assinalável na Churrasqueira Frangos de S. João. 

Família unida e trabalhadora 

João é o “patrão” mas a dona Susete também risca. O casal já trabalha junto há mais de três décadas, pautando a harmonia, a dedicação e a eficiência. E onde não falta o resto da família. Na verdade, os filhos (4), cada um com o seu ramo profissional, sempre que é preciso também arregaçam as mangas na churrasqueira. E até os quatro netos (dois miúdos e duas meninas) já visitam regularmente o local de trabalho dos avós paternos e começam a dar sinais que gostam daquele ambiente. Tal como a dona Fernanda (mana da Susete) que acompanha o casal há alguns anos, sem esquecer as dedicadas empregadas que espalham qualidade no serviço e a inegável simpatia. A clientela gosta, com pratos tradicionais  que toda a gente adora são confeccionados de forma primorosa, dando como exemplos a típica  feijoada de búzios, lulas recheadas,  polvo assado no forno, arroz de cabidela, cozido à portuguesa, as famosas costeletas de borrego com molho especial, grelhados para todos os gostos, e no Verão saltam as ilustres sardinhas assadas e onde o carapau e outros peixes também fazem as delícias de residentes e turistas. O espaço é amplo, acolhedor e bem localizado na entrada da cidade (junto à “Rotunda do Barco”), na Urbanização Marina Sol. Actualmente são 6 pessoas a laborar no restaurante  a tempo inteiro e o ambiente de trabalho e amizade entre todos é visível pela boa disposição sempre presente. O João tem a carteira profissional e a  experiência de muitos anos na sua profissão, com brio e dedicação mantém sempre o gosto por cozinhar na perfeição. João Fialho reporta a mudança e os sete anos na Churrasqueira Frangos de S. João. «A comunidade estrangeira, portugueses de distintas paragens e os lacobrigenses são clientes habituais, pois o restaurante passou a ser um local de eleição para uma refeição típica portuguesa em Lagos.» Acrescenta com brilho ns olhos. Em Janeiro de 2019 reformou-se, mas continua a trabalhar e a gerir o negócio. João vai continuar enquanto a saúde deixar, porque o faz por gosto. Porventura, será o profissional mais antigo na área da restauração em Lagos. Embora esteja aí para as curvas, anuncia que um dia que deixe de trabalhar e de gerir o negócio, gostava que um familiar seguisse as suas pisadas. Expressa que «o sector da restauração está muito melhor, as condições de trabalho, higiene e segurança, fiscalização e claro uma clientela exigente. No entanto, considera importante preservar a comida tradicional portuguesa. Acrescentou ainda que 2018 foi o seu melhor ano neste ramo, e espera que haja continuidade. Concluindo, deixa uma mensagem aos novos profissionais da restauração, para manterem a tradição viva e que aproveitem as oportunidades e as condições que hoje existem neste sector.

João vai continuar enquanto a saúde deixar,  porque o faz por gosto.
 

 

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