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Eurico Correia Volta à Carga

Eurico Correia Volta à Carga

“O que é feito de si” é mais uma nova rubrica do CL, que pretende trazer à memória ilustres figuras lacobrigenses.

Rostos que fizeram história na política e no associativismo e que ainda mantêm a “chama viva”. É o caso do nosso primeiro convidado, Eurico Correia. Foi o único presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião eleito nas listas do PSD. Ao longo de muitos anos foi dirigente de várias colectividades: CF Esperança de Lagos; Clube Artístico Lacobrigense; Clube Recreativo Metalúrgico Lacobrigense; TEL (Teatro Experimental de Lagos); Liga dos Amigos do Hospital de Lagos; CASLAS (Centro de Assistência Lucinda Anino dos Santos),e actualmente integra a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Lagos. Profissionalmente, Eurico foi um conhecido lojista e mais tarde desempenhou um cargo de chefia na Casa de Santa Amaro (CASLAS). Estando presentemente aposentado.

“… a minha experiência de vida e todo o meu saber ao serviço daqueles que mais precisam, os idosos e os desamparados”.

Eurico José dos Reis Correia, tem 74 anos. É casado com Maria de Lurdes, tem um filho (Luís Correia) e dois netos (Matilde e Martim Correia). Tal como foi referido atrás, este ilustre lacobrigense mantém-se em actividade no associativismo emprestando a sua experiência e saber à Misericórdia de Lagos onde desempenha o cargo de Secretário.

Correio de Lagos- Que razões determinaram aceitar este desafio na S.C.M Lagos?

Eurico Correia - O que descreve sobre o meu passado associativista, depressa nos apercebemos para a minha apetência para tal, no entanto, as razões foram várias. A primeira razão pelo tempo disponível que tinha, segunda razão por se tratar de um dever cívico, porque se tratava da S.C.M Lagos e como cidadão lacobrigense tinha essa obrigação, mas fundamentalmente para responder ao convite que me foi feito pelo actual provedor Fernando Graça, o seu projecto para a S.C.M.L passava por um grupo de irmãos que ofereciam toda a confiança dos valores que eu defendo. Para desempenhar tais funções que eram, voluntariado, 
honestidade, capacidade e dedicação a uma causa meritória que todos os lacobrigenses se deviam preocupar, ou seja a sustentabilidade da Santa Casa, o bem estar dos seus utentes, e a atenção merecida a todas as funcionárias, que no dia-a-dia com o seu empenho, esforço e dedicação ajudam e levam todos os dias um pouco mais de felicidade e carinho a quem mais necessita nesta casa, aqueles que ali residem. Já agora deixe-me recordar, a Santa Casa da Misericórdia, não é do provedor, nem da mesa administrativa, mas sim de todos os cidadãos e de todo o concelho.

CL - Quais os momentos que mais o marcaram nas Lides do Associativismo?

EC- Embora tivesse gostado do trabalho que desenvolvi em todas as associações e Instituições que passei, possa destacar três. Primeiro, pertencer à comissão da criação e seguidamente como membro, da Liga dos Amigos do Hospital. Segundo a minha passagem pela direcção do C.A.S.L.A.S.. Regozija-me de com o José António Carreiro, presidente e outros colegas termos desenvolvido, uma das maiores redes de creche e jardins de infância do Algarve. Por último, o que faço agora, por toda a minha experiência de vida e todo o meu saber ao serviço daqueles que mais precisam, os idosos e os desamparados.

CL- Foi o primeiro Presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião a destronar a Hegemonia do P.S. Esperava ganhar as eleições e como reagiu na ocasião?

EC- Vamos recuar ao ano de 1989, como se deve recordar entrei para a politica nas listas do P.S.D., pela mão de José Valentim na altura não foi por uma questão partidária, porque eu estaria mais ligado ao Partido Socialista, do que propriamente ao partido liderado por Cavaco Silva. No entanto e a discordar da maneira como o partido socialista conduzia os destinos do concelho, acabei por aceitar o convite feito por José Valentim no Verão de 1989 e candidatar-me à Junta de Freguesia de S. Sebastião integrado nas listas do P.S.D., fazendo uma campanha pelos interesses do Concelho e das pessoas que nele viviam. É verdade que não esperava ganhar, até porque sendo eu uma pessoa bastante conhecida, não tinha até então qualquer visibilidade política. Quiseram os cidadãos de S. Sebastião dar-me a sua confiança e o seu voto, e nessa noite de vitória ao ponto de ter ficado eufórico com a mesma, pois desde 1975 que a Junta de Freguesia não saía das mãos do P.S. A verdade é que nessa noite e sem dormir, comecei a sentir o peso nos ombros, da responsabilidade que a população tinha depositado em mim, e comecei a preparar-me para cumprir o meu dever e cumprir tudo o que ao longo da minha campanha eleitoral, tinha prometido, não podia desiludir os meus eleitores e toda a população de S. Sebastião, pois mesmo aqueles que não votaram em mim, teria que merecer também a minha atenção. E assim comecei a minha vida política de mais de 20 anos.

CL- Chegado ao poder como se adaptou ao novo cargo e quais as principais medidas desencadeadas?

EC- Naquele tempo não era fácil ser presidente da maior Junta de Freguesia do Concelho, havia carências de toda a ordem, confesso que não foi tarefa fácil, mas tinha duas coisas comigo que viria a ser a pedra fundamental na minha carreira como politico, a vontade de participar no desenvolvimento da minha cidade e a vontade de contribuir o melhor possível para o bem-estar da população de S. Sebastião, nomeadamente os mais carenciados. Assim, quando cheguei à Junta de Freguesia encontrei um espaço com pouca intervenção no plano político da sua área, limitava-se à passagem de atestados e pouco mais, tudo isto contrário ao meu pensamento. Uma Junta de Freguesia para mim, devia ser interventora, reivindicativa, dinâmica e defensora da população e dos seus interesses, não olhando a cores partidárias e foi com esta linha de pensamento que quando cheguei à junta, comecei a actuar. Assim comecei por recuperar espaços abandonados que existiam em toda a minha área de intervenção. Na educação mandei colocar telefones em todas as escolas primárias da minha área, e suportava a facturação, mandei construir também Polidesportivos em todas, apoiava todas as escolas com material e equipamento escolar. Comecei a apoiar com mais intensidade, as colectividades desportivas e culturais, promovendo uma maior acção nas mesmas, contribuindo assim para uma vida mais saudável e social dos nossos jovens. Dei seguimento  à meia-maratona e criei o torneio de futebol jovem Júlio do Serro. Comecei a ocupação dos tempos livres para os reformados, através de trabalhos manuais no salão da Junta de Freguesia, iniciei os passeios para a terceira idade, por todo o país e até Espanha. Implementei os primeiros serviços de Saúde ao domicílio nas povoações rurais. Comecei com a animação de Rua de Verão, com bailes no centro e na parte alta da cidade, colaborei com melhoramentos na habitação para melhorar a condição de vida de muitas famílias. Melhorei a limpeza e os acessos nas zonas rurais, mandei construir um parque infantil, nas Portelas, um salão convívio e abrigos de passageiros de autocarro em algumas povoações. Informatizei a Junta de Freguesia para termos um espaço preparado para o Século XXI, e fomos parceiros de vários projectos, tudo isto sem deixar de fazer o atendimento normal e diário aos nossos fregueses. Enfim, haveria mais coisas, o que é difícil em uma só entrevista.

“…nessa noite e sem dormir, comecei a sentir o peso nos ombros, da responsabilidade que a população tinha depositado em mim”

CL – Cumpriu três mandatos, mas em 2001 o P.S. recuperou a autarquia, como encarou a derrota, e que projectos mais relevantes ficaram por cumprir?

EC-Depois de cumprir três mandatos e do trabalho desenvolvido por mim e por quem me acompanhou, não foi fácil perder eleições. Ficamos sempre com a sensação de que alguma coisa correu mal, e correu! Isto porque não foi o P.S. que ganhou, mas sim o P.S.D. que perdeu. Lembro-me como se fosse hoje, no último plenário no P.S.D. antes das eleições tive uma intervenção em que dizia “temos que atacar bem na campanha eleitoral, por as minhas informações vamos perder as eleições”, o Presidente da concelhia respondeu-me que "estás enganado pois as informações que tenho é que vamos ganhar com maioria". Eu respondi “temos que ter cuidado, porque se perdermos as eleições nem daqui a 20 anos voltamos a ganhar”, tinha o presidente razão e eu estava enganado, devia ter dito 50 anos. Nesta derrota, tive a mesma reacção, quando ganhei em 1989, na noite não dormi e no outro dia pensei que a democracia é isto mesmo, a alternância da vontade popular, melhor para quem ganhou, já tem todo o trabalho feito e agora é só seguir. No entanto deixei por cumprir três projectos importantes para Lagos, uma casa para os sem abrigo que consistia numa camarata para dez camas, refeitório, duches e acabou por ficar na gaveta. O outro seria uma delegação da Junta de Freguesia no Chinicato com um posto médico. Por último, não concretizei aquilo que todos eram contra na altura, a Polícia Municipal. Hoje passados mais de 20 anos, algumas câmaras do Algarve inclusive Lagos têm pretensões de criar,. Admito que à data tivesse falta de visão de futuro.

“Fiquei foi farto de infantilidades, mentiras e de facadas nas costas que já batiam umas nas outras”

CL- Ainda continuou na política, e até esteve na calha para número 2 à câmara municipal de Lagos em 2013, daí para cá, parece que se arredou da política. Está desiludido?

EC-É verdade, ainda continuei na política, estive mais 4 anos como deputado municipal, onde continuava a defender as minhas ideias. Não, não fiquei nem estou desiludido com a política, aliás foi a coisa que mais gostei de fazer, servir a causa pública. Fiquei foi farto de infantilidades, mentiras e de facadas nas costas que já batiam umas nas outras, por parte de quem devia ter mais respeito para quem serviu o P.S.D. durante 20 anos com dignidade. Sabe? Na política não vale tudo, nunca andei na política por interesses pessoais e nunca gostei de golpes políticos baixos e internos, mas este partido está cheio de gente que pensa que o P.S.D. quanto pior estiver melhor. É verdade que em 2013, comecei por ser convidado para ser novamente candidato à Junta de Freguesia, acabou por fracassar, pois depois convidaram outro, e eu seria o segundo, a comissão política assim entendeu, eu não aceitei. Depois, o cabeça de lista para a Assembleia Municipal procurou-me, a convidar para o quarto candidato à Assembleia. Ficou tudo em banho maria e ainda hoje estou à espera da confirmação. Finalmente como numa revista à portuguesa o candidato à câmara, Nuno Serafim visitou-me no meu local de trabalho com uma lista onde constava o meu nome em quarto lugar, pedi terceiro, diz-me não pode ser e que iria pensar. Quinze dias depois voltou com a lista feita, onde e pensando melhor o meu nome constava em 2º lugar, alegando segundo palavras dele que precisavam de uma pessoa como eu em 2º lugar da lista, pela minha experiência política e captação de votos, explicou-me que a senhora passaria para terceiro e o João Bravo para quarto da lista. Tudo bem, tudo acertado e lista fechada. Comecei então a fazer a minha campanha individual no dia a dia, e aqui entra um golpe baixo, na véspera da lista entrar no tribunal, recebi um telefonema do Nuno Serafim, a dizer que eu afinal seria o quarto da lista. Estava na minha sala e fiquei com a sensação que estava num banho de duche de água gelada, a minha resposta foi rápida e simples quanto a isto. Nem 2º ,3º ou 4º e nem P.S.D., se o meu nome for para a lista vou ao tribunal mandar retirar. O Nuno Serafim vai a eleições, é eleito e por poucos votos não elege o segundo da lista que tiraria a maioria ao P.S. Razão tinha um meu amigo e grande político local (não populista nem demagogo) eles dão um abraço e ao mesmo tempo metem uma faca nas costas. Resumindo, alguns membros do P.S.D. e Nuno Serafim, sabem que eu sei que sabem, porque deixei o P.S.D., mas digo-lhe uma coisa, ser presidente de Junta de Freguesia é um serviço público altamente gratificante. A comissão política do P.S.D. Distrital, tem de fazer uma reflexão muito profunda em relação à concelhia de Lagos. Ficam aqui os meus agradecimentos a todas as funcionárias da Junta de Freguesia, o meu obrigado a Carlos Lucas, Virgínia Silva, José Escala, António Marreiros, António Moreira, Victor Moreira e Aníbal Camacho que me acompanharam neste caminho. Outros já faleceram, descansem em paz (António Júlio, Margarida Mesquita, Manecas). Agora vou andando por aí, dedicado à Santa Casa da Misericórdia, à família e em especial aos netos.

Obrigado ao Jornal Correio de Lagos, por se lembrar de mim.

Eurico Correia em Entrevista a Revista Nova Costa de Oiro em Agosto de 1997 Recorde-se que Eurico Correia deu numa entrevista à Revista Nova Costa de Oiro proferiu as seguintes mensagens: “Não sou um Autarca de segunda! “e “Nunca Pensei ser uma alternativa a Valentim Rosado”
 

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