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Viv’ó Mercado: bio do convívio às couves


 "Um espaço orgânico de relações e produtos biológicos"  Venha visitar o “Viv’ó Mercado”, aberto todas as quartas-feiras das 17h00 às 22h00.

Edição Impressa  347 · SETEMBRO 2019 do Jornal Correio de Lagos

Os finais de tarde de quarta-feira no Mercado de Levante estão envoltos de cor, sabor e diversidade cultural graças ao “Viv’ó Mercado”, um local diversificado e de ambiente agradável, onde pode comprar biológico junto dos comerciantes locais tradicionais. O espaço é animado, ideal para todos os que desejam descontrair das “canseiras da vida” e passar um bom momento de convívio. Este mercado é complementar ao mercado que se realiza aos sábados de manhã no mesmo sítio, está aberto todo o ano e possibilita aos residentes e visitantes consumir produtos de forma mais consciente, sendo que estes são predominantemente de origem biológica.

Neste sentido, o projecto mantém-se fiel aos seus objectivos iniciais, nomeadamente, promover modos de vida mais saudáveis e sensibilizar para a importância de práticas socioambientais que sejam sustentáveis e inclusivas. Além do foco na promoção da agricultura biológica, o “Viv’ó Mercado” distingue-se, igualmente, por dispor de uma zona de convívio com diversão, espaço para crianças e ainda um conjunto de tasquinhas, cujo lema é “da banca ao prato”, ou seja, a grande maioria dos produtos comercializados são adquiridos junto dos vendedores do Viv’ó Mercado.

Assim, o “Viv’ó Mercado” permite às entidades locais a utilização de mais um espaço para mostrar o trabalho que desenvolvem, sendo uma iniciativa que procura envolver os participantes na dinamização do mercado, inclusive através de reuniões plenárias, onde todos são convidados a dar o seu contributo para a consolidação e melhoria do projecto.

O “Viv’ó Mercado” é gerido por uma Comissão Organizadora composta por 5 entidades parceiras da Rede Social de Lagos – Câmara Municipal de Lagos; NECI - Núcleo Especializado para o Cidadão Incluso; Projecto ‘Novas Descobertas’; Associação ‘Infância Viva’ - Jardim Waldorf Internacional; e C.A.S.L.A.S. - Centro de Assistência Social Lucinda Anino dos Santos – bem como por 3 produtoras biológicas certificadas: Fátima Torres (Quinta das Seis Marias); Délia Kegel (Vinha Velha Agropecuária) e Maria de Lurdes Borralho.

Em visita ao “Viv’ó Mercado”, o Correio de Lagos fez  algumas questões aos membros da Comissão Organizadora.  Rita Silva (Presidente da NECI), Lúcia Santos (CML) e Ana Poupino (CML), dinamizadoras da Rede Social de Lagos, responderam numa só voz demonstrando a união, a cooperação e o entendimento que existe na organização.

Correio de Lagos - Como surgiu este projecto e quais os objectivos do Viv’ó Mercado?

Comissão Organizadora - O Viv’ó Mercado surge de uma proposta da Rede Social de Lagos para a dinamização de iniciativas promotoras do empreendedorismo inclusivo no Município, tendo em conta o crescente potencial dos negócios na área da agricultura biológica e podendo evoluir para formas inovadoras de distribuição e conexão com a indústria turística e a restauração do concelho. Outra componente é o envolvimento na produção e comercialização biológica, por instituições da economia social, assumindo uma vertente de empreendedorismo organizacional. Neste sentido, o Viv’ó Mercado é um mercado de venda, um estímulo à produção local e biológica, bem como à distribuição e apresentação de: produtos de origem vegetal, frescos, secos ou transformados; de origem animal; mostra e venda de artesanato (artes e ofícios cuja matéria-prima seja proveniente das terras), sendo, igualmente, um ponto de encomenda e recolha de cabazes. Incentiva a população residente e os/as turistas que nos visitam a consumir produtos locais e biológicos e, ao mesmo tempo, ajuda a promover modos de vida saudáveis e a desenvolver a sustentabilidade e a inclusão, contribuindo para o aumento da produção  biológica e local quer por via do acréscimo da procura, quer pelo aumento do número de novos produtores/as, quer pela conversão de modos de produção.

CL - O que é necessário para ter uma banca de venda no mercado?

CO - Para participar é necessário que os/as produtores/as efectuem a candidatura através do formulário de inscrição e apresentem a documentação solicitada no artigo referente à sua modalidade de inscrição.  A participação implica o pagamento da taxa de ocupação por m2, estabelecida na Tabela de Taxas e Licenças do Município de Lagos e pressupõe a aceitação de visitas técnicas da Comissão Organizadora às explorações agrícolas e outras instalações utilizadas para a produção dos bens comercializados. O pagamento é efectuado semanalmente no local, por cobrança do representante do Serviço de Mercados e Feiras, que faculta o respectivo comprovativo de pagamento. Cada  participante é responsável pela sua área de acção , tal como a montagem do seu próprio expositor e deve ocupar apenas o local de venda atribuído sem condicionar a circulação de pessoas e mercadorias.

CL - De que forma estão categorizados os produtos comercializados no Viv´o mercado?

CO - De modo a promover a inclusão da comunidade local, o Viv’ó Mercado compreende 3 modalidades de categorização dos produtos nele comercializados: produtos biológicos certificados; produtos resultantes de boas práticas ambientais devidamente verificadas pela Comissão Organizadora e produtos convencionais. Queria só aqui também dizer algo em relação a diferenciarmos os espaços onde estão os convencionais e onde estão os outros, que também vem do ano passado: havia a crítica de as pessoas não saberem o que era biológico. Não estava identificado, nalgumas bancas não dizia. Mas aqui, como estão as áreas definidas, há um espaço para tudo o que é biológico para esclarecer o consumidor  para estar informado. Existem os produtos  “Viv’ó Verificados” e os convencionais e dentro destas categorias temos vários: os produtos frescos (biológicos), os transformados (alimentos) e os cosméticos. Há esta diversidade no espaço. Há de tudo!

CL - O que são produtos «Viv’ó Verificados”?

CO - São aqueles em que os produtores agrícolas têm os seguintes procedimentos: produção sem pesticidas e fertilizantes sintéticos; sementes de produção biológica ou de produção própria;  plantas de produção biológica ou de produção própria. No caso da produção própria: uso de sementes e substratos biológicos; explicação das técnicas usadas, plano de produção e rotação e do controlo das pragas e doenças; verificação via documentos/facturas que comprovem as práticas mencionadas.

CL - Como tem sido a afluência das pessoas (visitantes/vendedores) ao Viv’ó Mercado?

CO - Nós continuamos sempre a receber visitantes, o mercado tem vindo a crescer em termos de visitantes e participação. Na perspectiva dos vendedores, este sítio também é inovador e estratégico, é um sítio onde as pessoas podem alavancar, fazer florescer os seus negócios. O Stefan da “Mania Beer”, por exemplo, já fazia cerveja artesanal há imenso tempo e nunca tinha vendido a não ser quando ganhou o concurso na feira. Mas ele não vendia nada sistematicamente, e aqui incentiva-o a registar-se. Há pessoas que vêm aqui, levam os cartões e vão vender noutro sítio. Este é um sítio que pode ser visto como uma start up. Mesmo pessoas que não faziam isto, que tinham só as suas coisinhas, acabam por criar o seu próprio negócio.

CL - Quais as perspectivas de futuro e que inovações pretendem implementar?

CO - A meta é tornar este mercado exclusivamente biológico e local, criando condições para a conversão de formas de produção e incentivando e dando visibilidade às boas práticas existentes. No futuro pretendemos implementar os produtos com o selo de qualidade “Bio Lagos” e realizar uma expansão dos mesmos para a restauração e comércio local, promovendo o desenvolvimento e ligação dos produtores aos sectores da distribuição e  comercialização de produtos biologicos certificados com a qualidade e referência da “Bio Lagos”.

CL - Uma mensagem que gostassem de transmitir...?

CO - Consumam biológico, venham ao Viv’ó Mercado. A iniciativa está muito agradável. Esta questão de podermos comprar os produtos a pessoas que normalmente são muito simpáticas, o acolhimento, as bancas são bonitas... é um espaço muito bonito, um ambiente de bem-estar, de convívio e também de incentivo ao consumo local. Venham conhecer e apaixonem-se pelo projecto, comecem a criar o gosto, a virem consumir.

O CL entrevistou também alguns comerciantes e visitantes do  “Viv’ó Mercado”, de forma a perceber o que torna este espaço tão especial. 

Uma das vendedoras mais antigas de Lagos que, com a sua banca de doces caseiros, adoça a vida de outros há mais de 40 anos, incentivou os visitantes a ir experimentar e elogiou a «grande adesão» ao projecto. A prestigiada doceira Gracinda refere que «quando isto fechou, as pessoas acharam muita falta», referiu, acrescentando que em termos de organização estava tudo «impecável».

Conversámos ainda com Mª Odete Singaré Praça, que se identificou de forma viçosa e simpática. Comentou a transição da «horta antigamente normal» para a produção biológica. «Mudámos para bem», confessa , porém desabafando que «dá muito mais trabalho». Também salientou a boa organização do mercado. E porque a diversidade abunda neste mercado, as opiniões “de fora” também contam bastante.

Bunhenut, turista de origem asiática, contou-nos frequentar o espaço todas as quartas e sábados antes de ir para o trabalho e que adora. Já Julia, cercada de apetitosas verduras, disse-nos que apenas ajuda esporadicamente na banca. Considera importante o interesse das pessoas nos produtos de origem biológica visto que «é uma forma das pessoas contactarem com uma realidade diferente» por oposição à compra de produtos de supermercado. «É muito bonito. Vejo que as pessoas apreciam muito este tipo de coisas e estão cada vez mais interessadas», conclui.

Entretanto, visitámos a banca Cerveja Artesanal A Mania e seus proprietários, Stefan e Joana, que se mostraram igualmente satisfeitos com o “Viv’ó Mercado”, bem como com a sua afluência, promovendo as suas galardoadas cervejas:

CL - Fale-nos um pouco do seu negócio.

Stefan - Eu sou o produtor da cerveja, a Joana ajuda e faz o marketing. Ela é que é a dona da marca realmente e teve a ideia de chamar-lhe “A Mania” porque ela tem de viver com um maníaco (risos). E pronto, faço manicamente cerveja. Já fiz isto antes de comercializar, por 5 anos, em casa. Fiz umas 150 cervejas na garagem e consegui   vencer um concurso nacional de cerveja artesanal aqui em Portugal com as minhas cervejas Lager. Há alguns anos decidi começar a comercializar e estava a pensar abrir uma fábrica, andava à procura de um sítio para produzir e como é bem difícil aqui em Lagos por causa dos preços, basicamente, eu decidi que ia fazer a cerveja na fábrica de um amigo (...). Estou no mercado há dois anos.

CL -  Gostaria de apelar a alguém que não costume vir cá?

S -  Quem nunca bebeu uma cerveja realmente artesanal e “mais fresca não dá”, devia vir cá e experimentar. Em relação ao Viv’ó Mercado, é um ambiente bem engraçado e com muita variação, boa música (...). É uma coisa excepcional, as tascas também, as bancas dos biológicos que estão a vender aqui... é uma coisa fantástica.

CL - E relativamente à marca e à cerveja que vocês estão a fazer  aqui, como é que o Viv’ó Mercado expandiu o negócio, Joana?

Joana - O negócio é pequenino, começou só há um ano e não expandiu assim tanto ainda. Mas o Viv’ó Mercado tem contribuído.

CL - E em relação ao espaço em si, o ambiente...?

J - As pessoas são muito receptivas à cerveja, é muito bom vir directamente aos residentes. Claro que aos turistas também, mas sobretudo aos que estão cá sempre. As pessoas interessam-se e temos muitos clientes que vêm sempre.

CL - De onde surgiu o slogan?

J - De forma muito natural. Não foi a marca que me veio à cabeça logo, foi um processo ainda penoso, mas acabou por surgir. Como o Stefan diz, “somos todos” [maníacos]. Todos temos manias, mas o Stefan tem muitas, então foi de forma natural.

Venha visitar o “Viv’ó Mercado”, aberto todas as quartas-feiras das 17h00 às 22h00.
 

 


 


 

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