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Mariana Guerreiro, atleta de Bikini Fitness: a alcançar metas de Portugal a além-mar

Mariana Guerreiro, atleta de Bikini Fitness: a alcançar metas de Portugal a além-mar

Na passada edição de Outubro 2020 trouxemos a jovem lacobrigense Mariana Guerreiro, determinada e de inspirações fortes, para uma entrevista exclusiva conduzida por Marta Ferreira.

Mariana é atleta de Bikini Fitness e já participou em várias competições a nível nacional, tendo inclusive sido convidada a representar Portugal lá fora na sua categoria. Tem 27 anos e vive em Inglaterra. Nascida e criada na cidade de Lagos, trabalha actualmente como auxiliar de saúde numa Care Home, considerando já ter feito um pouco de tudo a nível profissional, desde Vendas a Administração. Além do Desporto, uma das suas grandes paixões é e sempre foi a Maquilhagem. O seu principal foco de momento é precisamente terminar o curso de Nutrição, algo que a motiva no sentido de poder ajudar outras pessoas a atingir os seus objectivos. Rotina, ambições e sauda-des de casa foram alguns dos temas abordados nesta entrevista, que fluiu de forma muito orgânica e permitiu conhecer melhor Mariana, o seu percurso e opiniões.

Correio de Lagos O que te incentivou a começar a treinar/ter mais cuidado com a tua forma física?

Mariana Guerreiro – Desde já o meu maior agradecimento à Marta e ao Correio de Lagos pela amabilidade e por me terem convidado para esta entrevista (não poderia deixar de salientar). A actividade física foi algo que sempre fez parte da minha vida. Posso dizer que comecei a praticar desporto desde muito nova. Aos 5 anos comecei a fazer natação, até aos meus 16. Fiz patinagem durante um curto período também, mas sem dúvida que a musculação foi algo que apareceu posteriormente e tornou-se parte de mim. Comecei aos 17 a ir ao ginásio, por uma questão de querer melhorar o meu aspecto físico. Apesar de sempre ter sido magra, na altura já ambicionava ter um aspecto mais tonificado, mas sem objectivos competitivos. O “bichinho” simplesmente foi dando de si, com o tempo, e à medida que fui “à descoberta”.

CL O desporto está sempre presente na tua rotina diária ou tens “folgas”?

MG – O desporto faz parte da minha rotina diária durante todo o ano, seja em pre-contest [pré-concurso] ou em off season [fora de competição]. Quando me refiro a pre-contest, significa que estou numa fase de preparação a algumas semanas de uma competição. Quanto à off season, significa que estou numa fase sem datas previstas para uma competição, ou num largo período até à proximidade da mesma. O que distingue uma fase da outra, para mim, é a forma como os seguintes factores são geridos: a dieta, o cardio e o treino. São as peças fundamentais neste desporto e que definem a nossa performance e o nosso físico, principalmente. No entanto, tenho dias de descanso durante a semana, sim. Normalmente, seja em “on” ou em “off season”, treino musculação entre 5 a 6 vezes por semana.

CL Como encaras aqueles dias em que a motivação para treinar é mais escassa?

MG – Quanto comecei a treinar, por vezes sentia-me desanimada comigo mesma. Chegava a sentir-me mal e a “culpar-me”. No entanto, com o tempo, fui aprendendo a lidar com isso e a gerir esses mesmos dias. Sei reconhecer quando o meu corpo precisa de descanso e respeito isso, mas no que diz respeito à motivação há dias em que simplesmente a mesma não está muito elevada e é normal que isso aconteça, mas aí não me posso deixar levar por ela; a disciplina comanda em mim e vence essa mesma desmotivação.

CL Sabemos que, por vezes, a vontade de alcançar determinada imagem pode desencadear uma má relação com a comida. Como geres as tuas escolhas alimentares de modo a manter também a tua sanidade mental?

MG – É uma realidade que é fundamental mantermos uma boa relação com a comida quando estamos num processo de melhorar o nosso físico, ou mesmo até na manutenção do mesmo. Por experiência própria, e por já ter sofrido com isso no passado, tenho consciência e aconselho sempre as pessoas a ter em mente que fazem “isto” porque gostam e querem cuidar de si mesmas, e não por obrigação ou por pressões externas. Todo o trabalho envolvente é por nós mesmos e acima de tudo pela nossa saúde, porque nos queremos sentir bem e, como tal, tudo deve ser feito “com pés e cabeça”, com equilíbrio. Devemo-nos sentir bem com as escolhas alimentares que fazemos. Tudo o que é extremo leva ao extremo, por isso dietas demasiado restritas, quando aplicadas, podem levar a comportamentos compulsivos e isso gera um ciclo muito negativo na vida de uma pessoa que só por si já se sente mal ao olhar para si no espelho. A forma como vejo a minha dieta, que devido ao meu desporto pode variar muito, é muito simples: faço isto como uma opção de vida e a mesma leva-me aos objectivos que pretendo. Além disso, incluo alimentos que adoro no meu dia-a-dia. Esta é a minha base, o que me faz ter consistência para continuar e amar o meu desporto.

«Tudo o que vem rápido, vai rápido. Querer emagrecer depressa, com dietas que nem sequer são sustentáveis, pode correr muito mal. (...) As más rotinas voltam, e a pessoa desiste completamente de si»

CL O que pensas das ditas “dietas milagrosas” como meio para atingir o corpo ideal?

MG – As “dietas milagrosas”... Creio que te referes a dietas super restritas e com objectivos rápidos. O que penso vai muito de encontro ao que já referi na pergunta anterior e é tão simples quanto isto: tudo o que vem rápido, vai rápido. Querer emagrecer depressa, com dietas que nem sequer são sustentáveis, pode correr muito mal para a pessoa. Como consequência, poderão surgir comportamentos compulsivos, como já salientei anteriormente, pois o indivíduo pode não conseguir atingir a meta que queria em “x” tempo, levando a uma enorme frustração e, consequentemente, à desistência. As más rotinas voltam, e a pessoa desiste completamente de si mesma por não ter conseguido o que pretendia. Nada nesta vida vem sem trabalho, esforço e, acima de tudo, como também já disse, consistência. É preferível uma dieta equilibrada e sem grandes restrições, que nos faça sentir bem ao cumpri-la e que os objectivos a longo prazo sejam evidentes do que arranjar problemas de saúde por dietas pobres em nutrientes e sem sucesso.

CL Como foi subir ao palco pela primeira vez numa competição?

MG – Foi das melhores coisas que já fiz na vida. Causou-me muitas borboletas na barriga e hoje em dia ainda tem esse efeito em mim sempre que torno a competir. Senti algum nervosismo, claro. Não sabia como iria correr, mas sem dúvida que foi uma experiência que valeu super a pena, que me preenche e é como “uma cereja no topo do bolo”. Após um longo período de trabalho árduo e um processo de mudança física e, acima de tudo, psicológica, é definitivamente uma enorme conquista pessoal.

«A nossa mente realmente comanda tudo. Amadureci e aprendi muito também graças a este desporto»

CL De todos os concursos em que participaste, qual foi o que mais te marcou e porquê?

MG – Todos eles me marcaram, cada um à sua maneira e por motivos diferentes. Mas posso dizer que o primeiro foi sem dúvida aquele que me marcou mais, por ter sido a minha primeira experiência; por nunca ter imaginado que chegaria até ali e conseguir finalizar todo o processo que anteriormente idealizava como algo quase inalcançável. A nossa mente realmente comanda tudo. Amadureci e aprendi muito também graças a este desporto.

«Fui uma das atletas que ficou apurada para a Selecção Portuguesa da Federação IFBB 2020, algo que foi sem dúvida muito honroso e me deixou com mais vontade para competir no estrangeiro e representar o meu país»

CL Estavas à espera de ter sido convidada para representar Portugal no estrangeiro? Fala-nos disso.

MG – De todo, não esperava. Quando fiz a minha competição para a prova “Carlos Rebolo 2019” tinha ideia de tentar ir à prova internacional “Mediterranean Championships”, mas nada certo. Entretanto, decidi ir para poder experimentar após essa competição, tendo tido apenas duas semanas de intervalo entre elas e, sem esperar, ganhei o Overall da minha categoria (“Bikini Fitness”) e ainda o “Elite Pro Card”, um cartão que permite aceder a provas profissionais, seja em Portugal ou no estrangeiro. Posteriormente, fui uma das atletas que ficou apurada para a Selecção Portuguesa da Federação IFBB 2020 (Federação Internacional de Fisiculturismo e Fitness), algo que foi sem dúvida muito honroso e me deixou com mais vontade para competir no estrangeiro e representar o meu país.

CL Vives em Inglaterra de momento. Onde vais buscar forças quando a saudade bate à porta?

MG – Confesso que com todas as circunstâncias com que todos nós infelizmente estamos a lidar neste momento devido à pandemia, não tem sido fácil. Já estive para ir mais cedo a Portugal, mas com as restrições inerentes ao que se está a passar ainda não consegui viajar e, como tal, a saudade vai apertando cada vez mais. Vou buscar muitas vezes força ao meu namorado, que está sempre do meu lado, me apoia e nunca me deixa ir abaixo. É sem dúvida a minha fonte de inspiração também e a minha tranquilidade, o meu porto-seguro. Se tudo correr bem, estarei por aí em breve, bem breve.

CL Planos para o futuro, tens?

MG – Tenho sim, é importante mantermos objectivos na nossa vida, sempre. Pretendo continuar a viver por aqui, trabalhar para conseguir atingir as minhas metas pessoais e profissionais, praticar o meu desporto, manter-me em forma física e psicológica – porque a nossa mente também conta e tem que se manter saudável para tudo o resto funcionar devidamente; trabalhar em conjunto com o meu namorado, mantendo-nos firmes e a fazer o que realmente nos faz felizes. É a base de tudo e o que funciona para mim: fazer o que gosto e manter metas.

CL Se pudesses dar um conselho àqueles que pensam estrear-se neste mundo do Fitness/Wellness, qual seria?

MG – Primeiramente, aconselho a fazerem-no para o seu bem-estar pessoal, e não para agradar/provar algo aos outros. Este desporto deve ser visto como uma concretização individual, a longo prazo. Depois, procurar a ajuda de um profissional, alguém que saiba o que faz, pois sozinhos podemos meter “os pés pelas mãos” e ir por caminhos que nos podem prejudicar muito, principalmente no que toca à nossa saúde, que é a maior dádiva que temos. Queremos e devemos fazer este desporto para cuidar de nós acima de tudo. Acho que isso é o fundamental para quem quer ingressar nesta área.

In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº360 · OUTUBRO 2020

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