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Alberto Encarnação, Presidente da Junta de Freguesia de Barão de São Miguel

Alberto Encarnação, Presidente da Junta de Freguesia de Barão de São Miguel

No âmbito da «Ronda pelas Juntas» dos municípios das Terras do Infante, a edição de Outubro 2020 foi dedicada a Barão de São Miguel, com uma entrevista exclusiva de Carlos Conceição e José Manuel Oliveira a Alberto Encarnação, Presidente da Junta de Freguesia de Barão de São Miguel.

«Sinto que a freguesia de Barão de São Miguel tem sido menosprezada ao longo destes anos»

Em entrevista ao Correio de Lagos, o autarca diz que «muita gente está desiludida» com o actual mandato do PS na Câmara Municipal de Vila do Bispo e queixa-se dos sucessivos governos: «Perdemos a escola, perdemos a Extensão de Saúde, perdemos o Centro de Dia... Perdemos o acesso a Barão de São Miguel, na Estrada Nacio-nal 125, para quem vem de Vila do Bispo, além de nos obrigar a dar outra volta quando daqui saímos, por exemplo, em direcção a Lagos. E quase que íamos perdendo o transporte público por causa da Covid-19, tendo sido agora retomado devido ao novo ano lectivo. Mesmo assim, não é o mesmo transporte que tínhamos antes».

Correio de Lagos – Qual é o seu balanço destes dois anos e meio do primeiro mandato como Presidente da Junta de Freguesia de Barão de São Miguel? O que já foi feito e o que falta fazer até 2021?

Alberto Encarnação Até agora, consegui instalar a sede da Junta de Freguesia num novo edifício, requalifiquei o cemitério e, com a contratação de um funcionário, também fiz uma requalificação na aldeia, com umas pinturas, pelo que está tudo agora mais arranjadinho. Tenho de fazer obras de requalificação nas ruas e na ribeira, onde o muro, já antigo, abateu devido a uma enxurrada no último Inverno. Por causa da Covid e por impossibilidade de limpezas, isto tem-se arrastado. Mas estou a ver se consigo ainda neste ano e para o próximo fazer essas obras, que são a reconstrução do muro da ribeira, a requalificação das ruas, da calçada e também de uma cerca de madeira que caiu. Não são grandes obras, mas são trabalhos necessários. Que mais podemos fazer aqui?

CL – Qual é o orçamento anual desta Junta de Freguesia?

AE Trabalhamos com cerca de 40 mil euros. Temos 27 mil euros provenientes do Fundo de Equilíbrio Financeiro (FEF), atribuídos pelo Governo, a que se juntam 20 mil euros resultantes de um protocolo com a Câmara Municipal de Vila do Bispo, verba que nos chega aos poucos, mas que não é esse montante.

CL – E de quanto necessitaria para fazer o trabalho como pretende, nomeadamente a reabilitação das ruas e do muro junto à ribeira, e limpeza deste curso de água?

AE O que estou pensando fazer aqui, nas ruas, anda à volta dos dois mil euros. Já o muro é cerca de trinta mil. E a limpeza da ribeira deverá custar alguns 50, 60, 70 mil euros. Tem de haver um projecto.

CL – Que outras obras considera necessárias para a fixação de pessoas nesta freguesia?

AE Ainda estamos à espera da remodelação da rede de esgotos, construída há mais de 12 anos, no tempo do anterior presidente da Câmara, Gilberto Viegas. Tenho estado a fazer pressão nesse sentido.«Apostaria na habitação social para permitir o alargamento do perímetro urbano, de forma a possibilitar às pessoas adquirir lotes e construir habitações nesses terrenos»

CL – Qual a grande obra que gostaria de ver em Barão de São Miguel?

AE – O que gostaria de ver é o acesso a esta aldeia, na Estrada Nacional 125, voltar ao normal, como estava. Por outro lado, apostaria na habitação social para permitir o alargamento do perímetro urbano, de forma a possibilitar às pessoas adquirir lotes e construir habitações nesses terrenos. Se não houver uma ocupação de oitenta por cento da aldeia, com casas, não será permitido o alargamento do perímetro urbano. E existem terrenos junto à estrada, que são propícios para a construção de habitação, pois já há ali infraestruturas básicas, nomeadamente electricidade. Também existem casas antigas nessa zona, além de muitas devolutas, abandonadas por aí. Em Barão de São Miguel tem havido, ainda, a reconstrução de algumas casas de segunda habitação, para alugar, como alojamento local. E há estrangeiros que com-pram moradias para viver cá. Por outro lado, tem-se falado muito na criação de um parque industrial em Barão de São Miguel. Mas em que sítio é que pode ser implantado? Há um terreno para isso, mas fica longe da aldeia e é em terra batida, o que não tem muita lógica para um equipamento dessa natureza. Teria de ficar mais perto daqui.

O problema do acesso a Barão de São Miguel pela EN 125 «é uma coisa sem nexo» e «só vai complicar a vida das pessoas que vivem aqui»

CL – Como avalia o problema do acesso a Barão de São Miguel, que tanta polémica tem suscitado, após a requalificação da Estrada Nacional 125, obrigando quem vem de Vila do Bispo a ir a uma rotunda e voltar para trás para seguir em direcção à sua aldeia? E aos condutores que, ao rumar a Lagos, por exemplo, têm de dar uma volta em sentido contrário para entrar noutra rotunda e inverter a marcha, com tudo isso a provocar perdas de tempo e confusão para os que não conhecem a zona?

AE – A minha opinião é que aquilo é uma coisa sem nexo porque só vai complicar a vida das pessoas que vivem aqui. Agora, com o transporte dos alunos para a escola, compreendo que a empresa de transportes EVA tenha dificuldade em cumprir horários com estas voltas todas e perde mais tempo.

CL – Qual seria a solução?

AE Voltar a pôr o cruzamento como estava. Nas últimas eleições autárquicas, o presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, Adelino Soares, apresentou aqui, durante a campanha eleitoral, um projecto de alteração para recuperar o cruzamento na Estrada Nacional 125 para Barão de São Miguel, pois sabia que as pessoas estavam descontentes. A empresa Infraestruturas de Portugal ainda nos questionou se aquela proposta servia e eu respondi que sim. Penso que a Câmara também tivesse respondido que sim, em sinal de concordância. Mas, depois, isso "morreu". Nunca mais foi feito nada.

CL – E o que é feito em situações de urgência? Por exemplo com uma ambulância proveniente de Vila do Bispo, para entrar no acesso a Barão de São Miguel?

AE – Ou vai à rotunda e volta para trás, como sucede com os outros veículos, ou atravessa a zona por meio dos "pines" se o condutor conseguir. Os "pines" estão sempre a cair, mas há espaço para passar um carro.

CL – Que outros problemas existem nesta freguesia?

AE Não temos escola primária, o que obriga os alunos a irem para Budens. Não temos Centro de Saúde, nem temos Centro de Dia, pelo que os mais idosos têm de conviver no largo da aldeia. Onde funcionava um espaço para os idosos, é a agora a sede da Junta de Freguesia. E como este edifício dispõe de espaço, antes da Covid-19, alugámos parte das instalações para festas de aniversário, exposição de bordados e festas de Natal.

CL – Porque é que Barão de São Miguel perdeu a escola primária?

AE Foi uma decisão dos responsáveis do ensino, do Ministério da Educação. Mas não foi só aqui. Foi numa altura em que acabou, também, na Salema, na Figueira e em Burgau.

CL – E com o número de alunos existente, justificava-se haver escola primária numa aldeia que é sede de freguesia?

AE – Teríamos de ter um professor para toda a escola e 15 crianças. Tínhamos vinte. Depois, o mal é que a Câmara também permite que quem mora aqui possa pôr os filhos na Escola Primária de Vila do Bispo, porque trabalha lá e fica mais perto. Como disse, perdemos a escola, perdemos a Extensão de Saúde, perdemos o Centro de Dia, perdemos o acesso a Barão de São Miguel, na Estrada Nacional 125, para quem vem de Vila do Bispo, além de nos obrigar a dar outra volta, quando daqui saímos, por exemplo, em direcção a Lagos. E quase que íamos perdendo o transporte público por causa da Covid-19, tendo sido agora retomado devido ao novo ano lectivo. Mesmo assim, não é o mesmo transporte que tínhamos antes.

CL – Sem Centro de Saúde, como é a assistência médica em Barão de São Miguel?

AE Quando as pessoas se sentem doentes têm de ir ao Centro de Saúde de Vila do Bispo. Tínhamos médicos na Extensão de Saúde de Barão de São Miguel, mas por opção da Administração Regional de Saúde do Algarve, deixámos de os ter. Depois, começou a aparecer a "carrinha da saúde", onde as pessoas, por exemplo, podiam medir a tensão arterial, entre outro tipo de assistência. Mas, agora, desde que começou a pandemia da Covid-19, nem isso temos.

CL – Ao ficar sem a escola primária, a Extensão de Saúde, o Centro de Dia e com os proble-mas na Estrada Nacional 125, o que resta a esta freguesia?

AE As pessoas que vivem aqui são, na sua maioria, reformadas. Mesmo assim, nesta freguesia temos um pouco de tudo. Temos uma carpintaria, temos uma fábrica de alumínios, uma fábrica de mármores, temos uma oficina de reparação de motos, uma oficina de reparação de carros, uma empresa de construção de máquinas e vários armazéns de outras empresas, que dão alguma dinâmica à aldeia.

CL – Sente que esta freguesia tem sido marginalizada pelos sucessivos governos?

AE Sim, sinto que a freguesia de Barão de São Miguel tem sido menosprezada ao longo destes anos.

CL – O facto de, há muitos anos, os órgãos desta Junta de Freguesia serem constituídos por cidadãos independentes, sem ligação a partidos políticos, poderá contribuir para essa situação?

AE (após breve reflexão) Eu penso que não. Espero bem que não.

CL – Como tem reagido a população à Covid-19, apesar de ainda não ter sido aqui registado qualquer caso de infecção?

AE No princípio, as pessoas tinham muito receio, é claro. Mas, agora, já se vão habituando e alguns já vão ficando muito afoitos, até demais.

CL – Tem visto ajuntamentos, por exemplo, nos cafés, e falta de máscaras?

AE Falta de máscaras, não. É mais a questão de ajuntamentos no largo da aldeia, onde pessoas se juntam em bancos para convívio. Não é, assim, também, nada de especial.

CL – Têm sensibilizado as pessoas para cumprirem as regras de segurança, evitando ajuntamentos?

AE Sim. Eles concordam, dizem que sim, mas, depois, fica tudo na mesma.

CL – Receia que possa surgir algum problema?

AE O receio aqui não é ao nível da comunidade local, mas, sim, vindo de fora.

«A Junta de Freguesia, em acordo com Câmara Municipal, andou a distribuir cabazes de alimentos de porta a porta»

CL – Há pessoas a pedirem à Junta de Freguesia ajuda alimentar?

AE – Sim. A Junta de Freguesia, em acordo com a Câmara Municipal, andou a distribuir cabazes de alimentos de porta a porta. Na sua maior parte, eram pessoas que se identificavam na Câmara a precisarem de apoio. Encomendámos alimentos nos supermercados e entregámos às pessoas necessitadas.

CL – Quantos cabazes alimentares já foram distribuídos?

AE Agora passou tudo para o Banco Alimentar e para o FEAC – programa do Fundo Europeu de Apoio a Carenciados, que é outro sistema de apoio, e a Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo é que está encarregue de fazer esse trabalho. Às vezes, deixa os cabazes aqui na sede da Junta de Freguesia e as pessoas vêm cá buscá-los. Mas quando os cabazes eram comprados pela Câmara e a Junta de Freguesia os distribuía, em Barão de São Miguel o apoio abrangia talvez umas 15 pessoas.

CL – Há pessoas a passar mal? Há aqui fome?

AE Fome, não. Mas existem problemas. Contudo, já houve mais, na altura do "lay-off", com pessoas a passar dificuldades. Com a retoma da economia, a situação acalmou um pouco. Agora, neste período de Outono/Inverno, não sei. Mas penso que se poderá complicar, com mais desemprego.

CL – E a Junta de Freguesia está preparada para essa situação, com apoio social, cabazes alimentares?

AE Temos de nos adaptar. Foi opção da Junta de Freguesia comprarmos e entregarmos. Isto implica outras situações, tem de haver regulamentos. E depois, as pessoas habituam-se e é outra carga de trabalhos. Mas sempre que uma pessoa vem aqui pedir ajuda, identificamos o problema na Câmara Municipal, os serviços sociais verificam a situação e, em acordo, connosco resolvemos. Chegámos a ter uma pequena dispensa com comida que recebíamos com donativos para entregar a pessoas que vinham aqui pedir ajuda. Depois, víamos quem precisava mesmo de apoio e procedíamos à entrega desses produtos alimentares. Na altura do incêndio, em Junho deste ano, chegámos a ter também roupa para entregar a quem necessitasse.

CL – Em virtude da pandemia da Covid-19, o que deixou de fazer ao nível de festas e outros eventos durante o Verão?

AE A Junta de Freguesia apoia as festas da Sociedade Recreativa de Barão de São Miguel, que é a principal associação nesta zona. Mas tudo isso parou. Tal situação teve reflexos económicos na Sociedade Recreativa, já que as festas são a sua principal fonte de rendimento.

«Há anos que não aconteciam casos de burla, mas recentemente houve um em Barão de São Miguel, tendo uma pessoa ficado sem mil euros porque alguém lhe disse que o euro ia acabar e tinha de levar o dinheiro»

CL – Como está Barão de São Miguel em termos de segurança, sobretudo depois do homicídio de um cidadão holandês, de 60 anos, em Maio deste ano, na sua casa, numa zona isolada da freguesia e onde muitas ve-zes as autoridades procedem à detenção de indivíduos com plantações de Cannabis?

AE Há uma realidade nova. Lembro-me do tempo em que toda a gente deixava a porta aberta, ou a chave na porta. Ainda se vêem situações dessas, eu próprio às ve-zes deixo, também, a chavinha na porta. Há anos que não aconteciam casos de burla, mas recentemente houve um em Barão de São Miguel, tendo uma pessoa ficado sem mil euros porque alguém lhe disse que o euro ia acabar e tinha de levar o dinheiro. Foi apresentada queixa na Guarda Nacional Republicana e vieram aqui militares desta força de segurança para investigar a situação. E sempre que eu peço apoio à GNR de Vila do Bispo, o comandante está pronto.

CL – Mesmo assim, com novos problemas nesta freguesia, sente necessidade de mais presença da GNR ao nível de rondas, para garantir maior segurança à população?

AE A GNR tem o que tem. Só tem uma viatura, dispõe de poucos meios. Os seus elementos fazem o que podem. As pessoas que aqui vivem também têm de ter mais cuidado. Por causa do recente caso de burla, e porque devido à Covid-19 não pode haver palestras, para evitar ajuntamentos, pedi ao comandante da GNR que me entregasse panfletos com alertas à população e depois fui entregá-los eu de porta a porta. E até comentaram como é possível ainda ocorrerem estes casos de burla, com a história de que o euro vai acabar e é preciso entregar o dinheiro, se tem havido tantos alertas nesse sentido por parte das autoridades.

«Não me sinto inseguro. Quando ligamos para a GNR, aparece logo»

CL – E como encara os casos que têm sido descobertos pelas forças de segurança, com cidadãos estrangeiros detentores de estupefacientes, nomeadamente plantações de Cannabis, em Barão de São Miguel?

AE O que sei é o que tem sido noticiado. Não sei se existem plantações de Cannabis. É um problema que cabe à GNR investigar.

CL – Perante as situações que têm ocorrido, sente segurança nesta freguesia?

AE Não me sinto inseguro. Quando ligamos para a GNR, aparece logo.

CL – Mesmo assim, o homicídio de um cidadão holandês provocou algum sentimento de desconfiança. O que poderá ter acontecido?

AE Não sei. São estrangeiros. Não me provoca insegurança, porque isso aconteceu na comunidade estrangeira. É um problema deles. Não afecta aqui a população da aldeia. As pessoas ficaram surpreendidas, mas não é por causa disso que se sentem com mais medo. Soubemos do sucedido através das notícias transmitidas pela comunicação social, na televisão, e pronto, já passou.

CL – Há muitos estrangeiros a viver em Barão de São Miguel? Como é o seu relacionamento com a comunidade local, constituída por portugueses e na sua maioria idosos?

AE Há e são sobretudo ingleses e alemães. Eles vivem um pouco na sua própria comunidade e são pacíficos. Não temos qualquer razão de queixa. Os nossos velhotes vão para a rua de baixo na aldeia e os estrangeiros vão para a rua de cima, estão noutro café, convivendo mais entre eles. São muito recatados.

CL – Em Junho deste ano, ocorreu um incêndio no concelho de Aljezur, que se alastrou ao de Lagos e de Vila do Bispo, obrigando estrangeiros a sair à pres-sa de roulotes e de construções ilegais antes que o fogo chegasse a Barão de São Miguel. Existem muitos cidadãos de outros países em zonas isoladas desta freguesia e de forma clandestina?

AE Isso é como em todo o lado. Uma pessoa adquire um terreno e depois acha que tem o direito de viver lá e a única maneira de o conseguir é através de construções ilegais ou através de uma roulote.

CL – E quem controla isso?

AE Quem deve controlar é a Câmara Municipal. Não sei até que ponto qualquer pessoa pode colocar uma roulote no seu terreno e viver ali. Construir uma casa em madeira, já é uma situação ilegal. Agora, o resto...

CL – Quantos estrangeiros estarão a viver nessas condições, de forma ilegal, na freguesia de Barão de São Miguel?

AE Como os estrangeiros que aqui vivem são cidadãos europeus, não se pode dizer que estão ilegais. Podem entrar no nosso país, têm o direito de comprar um terreno e deveriam poder construir quando é permitido. Eles deviam informar-se antes se podiam, ou não, construir, ou, então, procurar casas na aldeia, reabilitá-las e viver legalmente.

CL – E quando fazem alguma construção ilegal nesses terrenos no interior da freguesia, a Câmara Municipal de Vila do Bispo deveria fiscalizar, de forma a impedir essas situações...?

AE Acho que sim.

CL – Falta limpeza nas matas?

AE Os estrangeiros não limpam, por sua iniciativa, a parte da vegetação dos terrenos onde vivem. Só limpam quando são obrigados pela GNR. É certo que o incêndio registado no último Verão começou no concelho de Aljezur, mas acabou por chegar aqui. Temos tido sorte, noutros anos, de incêndios não atingirem a freguesia de Barão de São Miguel.

CL – Deve haver mais fiscalização por parte das autoridades?

AE – Sim, sim. Caso contrário, pode haver problemas, como houve no último Verão.

CL – E o que pode a Junta de Freguesia fazer?

AE Nada. Não temos meios para tal. Posso é comunicar às autoridades, como qualquer pessoa pode fazê-lo. Mas também não se pode limpar tudo. É preciso saber o que se limpa. Nem oito, nem oitenta.

CL – Quando, em 2013, o Governo de Passos Coelho procedeu à extinção e agregação de freguesias no país, Barão de São Miguel esteve para ficar unida à de Budens. Como viu esse processo e o que foi feito na altura para impedir essa situação?

AE Tínhamos essa noção se nada fizéssemos. Conseguimos convencer a Assembleia Municipal de Vila do Bispo a votar a agregação da Raposeira e Vila do Bispo, devido à proximidade entre as duas localidades. Se a freguesia de Barão de São Miguel tivesse sido agregada, em 2013, teria sido à de Budens, mas a presidente na altura desta Junta de Freguesia não concordava com a agregação porque já tem muitas localidades nessa zona. Basta dizer que é a maior freguesia do concelho de Vila do Bispo.

Falta de limpeza da ribeira pode provocar poluição

CL – Se isso se tivesse concretizado, quais as repercussões para Barão de São Miguel?

AE Barão de São Miguel ficaria mais isolada. Barão de São Miguel já está isolada, mas tem uma voz, algum poder de intervenção junto da Câmara Municipal de Vila do Bispo, mesmo que seja pouco. Sem isso, depois teríamos de contar com Budens. E como tal, ainda ficaríamos mais isolados.

Mais competências para as juntas freguesias: «um pau de dois bicos»

CL – As juntas de freguesia devem ter mais competências?

AE Isso é um pau de dois bicos. A gente diz sempre que quer mais competências, mas depois não conseguimos orçamento para tal, nem ter meios humanos para gerir.

CL – Que competências gostaria de ter na sua freguesia?

AE – Aquelas competências que o Governo indica.

CL – Na saúde, por exemplo?

AE Estas freguesias, como a nossa, não têm qualquer capacidade para dar resposta a um sector como a saúde. O que nós podemos fazer aqui é arranjar as ruas, os caminhos. Mas com as competências que nos querem atribuir, é apostar na limpeza urbana, jardins, pequenos licenciamentos. A lógica de novas competências é só para grandes freguesias e câmaras municipais que têm meios, estrutura, pessoal e organização. É que para fazer qualquer coisa, hoje em dia, é necessário contar com pessoal administrativo, incluindo técnicos superiores que tenham conhecimentos para dirigir isso tudo. E nós não temos. É preciso organização nesse sentido. Não estou a ver colocar aqui um técnico superior para uma freguesia desta dimensão.

CL – Como é a relação entre a Junta de Freguesia de Barão de São Miguel e a Câmara Municipal de Vila do Bispo? Há cooperação entre as duas entidades?

AE Sim, há cooperação com os vereadores e com o presidente, Adelino Soares. Tenho bom entendimento com eles. Contudo, certas coisas – obras prometidas pela Câmara – nesta freguesia não foram concretizadas.

CL – Como por exemplo?

AE – Só para enumerar alguns exemplos, destaco a requalificação da ribeira, que já tinha sido pedida em orçamento do Município. Por outro lado, há anos que se está a espera das infraestruturas na urbanização Rui Vaz. No pavilhão da Sociedade Recreativa de Barão de São Miguel, foi prometida a instalação de balneários e nada foi feito. Depois, há por aí coisas mais pequenas. Tudo é necessário.

CL – O que falta na ribeira?

AE – Em todos os anos tem de ser feita uma limpeza. Se nada for feito, depois formam-se espelhos de água, surgem águas salobras, há o risco de poder provocar poluição. O ideal seria como a Pedralva, Salema e Bensafrim têm, em que é mais fácil fazer a limpeza e dá um melhor aspecto.

CL – E qual é a justificação da Câmara para não realizar essas obras?

AE Não dá justificação. O que o presidente, Adelino Soares, me falou, é que não são obras possíveis de receberem apoios financeiros. Isto, porque a maior parte das obras que a Câmara Municipal de Vila do Bispo leva a efeito é com apoios.

CL – Mas construir balneários no pavilhão da Sociedade Recreativa também é difícil?

AE Se foi gasto um milhão de euros na construção de um pavilhão noutra localidade do concelho, aqui seriam só necessários balneários. Quando a Câmara realiza eventos, ainda aluga o pavilhão da Sociedade Recreativa de Barão de São Miguel. Em Sagres, não pode neste momento haver aulas de Karaté, porque nesse mesmo espaço está agora instalada uma Zona de Apoio à População (ZAP), com camas, tudo montado e reservado para caso de emergência devido a este problema da Covid. Além do espaço existente na Raposeira para eventos mais pequenos, como espectáculos de fado e acordeão, o que está disponível é o pavilhão em Barão de São Miguel.

«Esperava mais do PS, pois até à data não cumpriu nada do seu programa eleitoral. E as pessoas em Barão de São Miguel reconhecem que nada foi feito nestes anos»

CL – Como avalia este último mandato camarário do Presidente Adelino Soares?

AE (hesitante) - Prefiro não comentar... Não quero dizer mal, mas muita gente está desiludida.

CL – Esperava mais?

AE Sim. Esperava mais. Se calhar, não a nível dele, mas esperava mais do PS, pois até à data não cumpriu nada do seu programa eleitoral. Já lhe disse isso na Assembleia Municipal de Vila do Bispo, ao apresentar uma declaração de voto na aprovação do orçamento da Câmara, em que votei contra. E as pessoas em Barão de São Miguel reconhecem que nada foi feito nestes anos.

CL – Falta diálogo?

AE Não. Já falei muitas vezes com o presidente Adelino Soares, mas as coisas ficam "em águas de bacalhau", como se costuma dizer.

«Quero manter-me independente. Gostaria de fazer mais um mandato como Presidente da Junta de Freguesia de Barão de São Miguel para dar continuidade ao trabalho»

CL – Nas próximas eleições autárquicas, em Outubro de 2021, prefere recandidatar-se a Presidente da Junta de Freguesia de Barão de São Miguel numa lista de independentes, ou admite apostar num partido político?

AE Prefiro continuar como independente. Não vou filiar-me em partido nenhum.

CL – Mesmo se algum partido o convidasse?

AE Sim, quero manter-me independente. Gostaria de fazer mais um mandato como Presidente da Junta de Freguesia de Barão de São Miguel para dar continuidade ao trabalho. Há aí umas coisas por fazer.

«Tenho sempre o telemóvel ligado e estou disponível para ajudar seja quem for»

Com 52 anos de idade (nascido a 8 de Junho de 1976) e natural de Lisboa, Alberto Jorge da Luz Encarnação é casado e tem um filho de 11 anos. Trabalha nas oficinas da Câmara Municipal de Vila do Bispo e está a cumprir o seu primeiro mandato como presidente da Junta de Freguesia de Barão de São Miguel, onde reside há 16 anos.

Perguntas Rápidas

CL – Como nasceu o "bichinho" pela política?

AE Não me considero muito político. Moro aqui na aldeia, gosto disto e é uma oportunidade de tentar ajudar a população.

CL – Como passa os tempos livres?

AE Dedico-me à caça no concelho de Vila do Bispo, sobretudo de perdiz e javali. Também gosto de ver filmes.

CL – Qual é o seu prato preferido?

AE Gosto muito das lulas recheadas da minha sogra.

CL – Clube desportivo?

AE Benfica.

CL – Qual a figura nacional que mais admira?

AE Não tenho nenhuma figura a destacar. Nunca liguei a isso.

CL – E a nível internacional?

AE Também não.

CL – Qual a sua principal virtude?

AE A minha maior virtude é cumprir. Sou acessível a toda a gente, trato todas as pessoas da mesma maneira, sejam portugueses ou estrangeiros. E os estrangeiros reconhecem isso. Sou humilde. Tenho sempre o telemóvel ligado e estou disponível para ajudar seja quem for. E, muitas vezes, as pessoas vão bater à porta da minha casa para resolver problemas, como por exemplo atestados que a Junta de Freguesia tem de passar.

CL – E qual o seu maior defeito?

AE Defeito? Sei lá... Para já, não consigo encontrar nenhum.

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Carlos Conceição
José Manuel Oliveira

In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº360 · OUTUBRO 2020

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