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Último espectáculo do terceiro ciclo Lavrar o Mar, EVA PORO : o tema do desaparecimento numa perspectiva feminina

Último espectáculo do terceiro ciclo Lavrar o Mar, EVA PORO : o tema do desaparecimento numa perspectiva feminina

EVA PORO #2, com direcção artística de Madalena Victorino e André Duarte, em co-criação com Alice Duarte, Ana Raquel Martins, Ana Root, Arantxa Joseph, Beatriz Dias, Marta Jardim, Nídia Barata e inúmeras convidadas, tem ESTREIA ABSOLUTA marcada para dia 17 Maio e representações a 18, 19, 31 Maio e 1, 2 Junho, num monte remoto na Freguesia da Bordeira, Aljezur: Monte da Lagoa Saborosa. O ponto de encontro será na Aldeia da Bordeira, sempre pelas 17h30.

Em Maio 2019, a programação cultural 'Lavrar o Mar' volta a utilizar como palco a natureza da Costa Vicentina, para apresentar uma nova criação de arte comunitária, assente nas linguagens da música, do canto e da dança.

Este é um espectáculo a perseguir o ar que sopra nas coisas vivas: a pele, os pulmões a terra ou a galáxia, tudo corpos que respiram. 
Incide sobre a ausência de ar na relação com a sua presença, na tentativa de habitar a fragilidade que propulsiona a descoberta de novos espaços vitais, quando a respiração se consome a si mesma. A resiliência de aprender a respirar para dentro de outros pulmões.

Um homem, várias mulheres, meninas oriundas de diferentes contextos escolares e animais (reais - éguas, javalis e cães, e oníricos), corporificam uma performance rendilhada de palavras invisíveis, poemas de oxigénio que espalham aos sete ventos pela paisagem, enquanto dançam a plenos pulmões. Como se não as estivéssemos a ver.

EVA é a primeira mulher e é também uma égua que se evaporou do prado sem que ninguém desse por isso. PORO é o que, à flor da pele, nos liga ao interior do corpo, do coração. 

É uma experiência performativa que quer falar de um espaço intermediário que circula e se sustem entre imagens antigas, entre o céu e a terra e a questão do desaparecimento.  Foram os prazeres e as perplexidades, a leveza e a densidade das coisas que encontrámos neste percurso, que nos deram os sinais de uma corporalidade infantil que fomos trabalhando e de uma animalidade adulta que se desvendou e revelou a pouco e pouco. Atiramo-nos ao prazer de brincar com o que já lá não está, de contar com o corpo aquilo que nos aproxima dos animais, da terra e do céu dos sonhos.  Este espectáculo neste monte desaparecido na serra, com  marcas de vida poderosas, envolveu-nos como um abraço de terra que nos interpela em cada casa que habitámos. Foi com um grupo de bailarinas e meninas com idades compreendidas entre os 5 e os 16 anos,  que usámos o movimento, o canto e a música para criar um vocabulário que nos ofereceu um sentido estranho de comunidade onde a transmissão, a proximidade fraterna e a interpelação desta paisagem desertificada que nos chamava para o trabalho, para a festa, para o sentido de família que já lá não estava, mas que mesmo assim, nos segredava. Sem estar, estivemos, sem compreender, compreendemos. Sem saber, ouvimos as vozes e as canções que por ventura nunca lá ecoaram, lá, no Monte da Lagoa Saborosa, muito perto do lugar da Endiabrada. 

Fomos acompanhadas por uma presença masculina que insuflou para o interior desta pesquisa um som que ressoa nas paredes de taipa deste monte e perfura as reentrâncias escavadas pelo vento e pela chuva para chegar perto do coração do desaparecimento. Dançámos, cantámos, tocámos os nossos instrumentos para chamar de novo à vida aquilo que o tempo comeu. A energia do nosso chamar, incendiou o lugar e aqui estamos a sentir-lhe o ressoar de uma vida passada que agora canta como uma catedral de memórias,

Madalena Victorino


 

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