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(Rua) Lançarote de Freitas, um mercador de escravos

(Rua) Lançarote de Freitas, um mercador de escravos

Artigo da revista Nova Costa de Oiro em https://www.novacostadeoiro.com/

Lançarote de Freitas nasceu e viveu em Lagos, no Século XV.

Foi cavaleiro e almoxarife de Lagos, às ordens do Infante Dom Henrique (Infante Dom Henrique de Avis, 1.º duque de Viseu e 1.º senhor da Covilhã, nascido no Porto, a 4 de Março de 1394 e falecido em Sagres, a 13 de Novembro de 1460 e reconhecido como o impulsionador do que se chama vulgarmente como o período das descobertas).

Ao serviço do seu Príncipe (que arrecadava para a sua riqueza pessoal parte substancial do espólio arrecadado pelos seus vassalos, como era Lançarote de Freitas), o mercador e marinheiro português fez várias viagens a África, com objectivos comerciais.

Entenda-se, Lançarote buscava riquezas, quer fossem metais precisosos, quer fossem seres humanos. E, à falta de ouro, Lançarote dedicou-se à escravatura e ao tráfico de seres humanos.

Nos primeiros dias do mês de Agosto de 1444, uma frota algarvia de 6 caravelas chega a Lagos, após uma expedição ao golfo de Arguim (actual Mauritânia).

Trazia como «presa», para si e para o seu patrão, o Infante Dom Henrique (que lucrou 1/5 com essa venda), 235 escravos africanos.

A notícia do seu «feito» correu de boca em boca e a população local quis ver o «espectáculo» do desembarque e venda da «mercadoria». Recorde-se que esta não foi a primeira vez que chegavam escravos negros a Lagos. Mas, os locais, nunca os tinham vindo em tão grande número, como desta feita. Gomes Eanes de Zurara (Cronista), relata, de forma comovente, na sua «Crónica da Guiné», a partilha dos cativos: homens e mulheres inconsoláveis, rostos lavados em lágrimas, gritando e gemendo, tentando desesperadamente não ser separados dos filhos.

E é também nessa obra e nesse relato que se diz que os escravos não foram vendidos no edifício actualmente conhecido como «Mercado dos Escravos», mas sim num descampacado: «...tirar aquelles cativos pera os levarem, segundo lhe fora mandado; os quaaes, postos juntamente naquelle campo, era hüa maravilhosa cousa de veer, ca antre elles avya alguüs de razoajda brancura, fremosos e apostos; outros menos brancos, que queryam semelhar pardos; outros tam negros come tiopios, tam desafeiçoado, assy nas caras como nos corpos, que casy parecia, aos homeês que os esguardavam, que vyam as imageès do imisperyo mais baixo».

Podem ser retiradas algumas ilações do que foi escrito atrás: Uma, que o edifício de Lagos que, actualmente é conhecido como «Mercado de Escravos», nunca o foi, não é, nem o será (como já tínhamos afirmado em edição anterior da Nova Costa de Oiro). A persistência num erro histórico não faz qualquer sentido e não traz qualquer benefício nem à comunidade local, nem aos muitos visitantes desta cidade algarvia, que ficam a acreditar erradamente que neste local se traficavam pessoas.

Outra, tem a ver com as personagens citadas neste texto. O Infante Dom Henrique e o seu criado Lançarote Freitas, dedicavam-se a uma vil e ignóbil actividades, em proveito próprio: o tráfico humano. Contudo, à luz do Século XV, esta não era assim considerada pela sociedade e, logo, era tida como «normal» e respeitável.

Assim, fará sentido atribuir-se o nome de uma rua a alguém que teve uma actividade execrável, repugnante, reprovável? E, se sim, o nome de Lançarote Freitas deveria ser substituído por algum outro?

E o do Infante Dom Henrique, que deixou o seu irmão Fernando a apodrecer em cativeiro?

Esta ideia poderá conduzir a uma última conclusão: não seria possível a utilização de novas tecnologias para prestar informações complementares quanto aos locais visitados? Existem aplicações para telemóvel que o fazem... Por que não implementar esta tecnologia, em Lagos?

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