Trump a caminho de ser o quinto presidente a receber o Nobel da Paz? Obama só precisou de nove meses para o receber

A eventual atribuição do Prémio Nobel da Paz a Donald Trump voltaria a colocar um presidente dos Estados Unidos entre os laureados de Oslo. Se tal acontecer, Trump tornar-se-á o quinto chefe de Estado norte-americano a inscrever o seu nome nesta prestigiada distinção, ao lado de Theodore Roosevelt, Woodrow Wilson, Jimmy Carter e Barack Obama.
A história mostra que o Nobel da Paz, quando entregue a presidentes americanos, nunca foi indiferente nem consensual. Theodore Roosevelt recebeu-o em 1906 pelo seu papel na mediação do conflito russo-japonês, abrindo caminho a uma diplomacia internacional que os Estados Unidos começavam a afirmar no início do século XX. Poucos anos depois, em 1919, Woodrow Wilson seria distinguido como o idealista fundador da Sociedade das Nações, precursora das atuais Nações Unidas.
Décadas mais tarde, Jimmy Carter, já fora da Casa Branca, foi premiado em 2002 pela sua ação humanitária e diplomática em defesa dos direitos humanos e da resolução pacífica de conflitos. O reconhecimento, embora tardio, foi amplamente consensual e refletiu o trabalho continuado do Carter Center, instituição dedicada à promoção da paz e à luta contra a pobreza e as doenças em várias regiões do mundo.
Mas o caso mais mediático e controverso foi o de Barack Obama, distinguido em 2009, apenas nove meses depois de assumir a presidência. O Comité Nobel justificou a escolha pelos “esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”. A decisão, contudo, gerou polémica em todo o mundo. Muitos viram nela um prémio à promessa e não à ação, uma espécie de voto de confiança no recém-eleito líder que simbolizava esperança e mudança. À época, os Estados Unidos continuavam envolvidos em operações militares no Afeganistão e no Iraque, e a política externa de Washington ainda não tinha apresentado resultados palpáveis em matéria de paz. O próprio Obama admitiu estar “surpreendido e humildemente honrado”, reconhecendo que não tinha ainda feito o suficiente para justificar tamanha distinção. A atribuição acabou por se transformar num gesto simbólico: um prémio à expectativa de um novo tempo político.
Com Donald Trump, o debate reacende-se. Durante o seu mandato entre 2017 e 2021, o ex-presidente reclamou méritos diplomáticos, nomeadamente o acordo de normalização entre Israel e vários países árabes — os chamados Acordos de Abraão —, bem como a inédita tentativa de aproximação à Coreia do Norte. Foram precisamente esses episódios que levaram alguns apoiantes a propor o seu nome ao Comité de Oslo, ainda que entre fortes divisões e resistências.
O Nobel da Paz é, contudo, mais do que um troféu político. É um símbolo de reconciliação, de diálogo e de compromisso duradouro com a paz. A questão que se coloca, portanto, não é apenas se Trump poderá ganhá-lo, mas que mensagem o mundo entenderia se isso acontecesse.
Como curiosidade, apenas um presidente americano, Theodore Roosevelt, compareceu pessoalmente à cerimónia em Oslo para receber o prémio — gesto que marcou a história do Nobel e reforçou o prestígio internacional dos Estados Unidos na altura. Desde então, a relação entre a Casa Branca e o Comité Nobel tem oscilado entre a diplomacia e a controvérsia, refletindo a tensão constante entre o poder político e os ideais universais da paz.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor


