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DPOC: a urgência de uma rede nacional de espirometrias

DPOC: a urgência de uma rede nacional de espirometrias

No combate às doenças, há uma ferramenta essencial: o diagnóstico. Sem este, é impossível tratar e, consequentemente, evitar a progressão da doença e o seu impacto na qualidade de vida.

No caso da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), que afeta cerca de 800 mil portugueses e que é uma das maiores causas de incapacidade e mortalidade no nosso país e no mundo, esse diagnóstico faz-se através de um exame simples e rápido, que mede a função pulmonar: a espirometria. Trata-se da única forma de confirmar o diagnóstico e adequar o melhor tratamento. Mas a realidade é que, em Portugal, este passo essencial não é dado.

Tendo em conta o impacto, que a realização deste exame terá na qualidade de vida dos doentes, torna-se difícil perceber o que motiva o facto de, na maioria dos centros de saúde portugueses, a espirometria não ser feita de forma sistemática.

Poderiam usar-se, aqui, os argumentos do costume: que não há equipamento para o efeito, ou que faltam verbas ou que não há profissionais qualificados para a sua prescrição, realização ou validação. Mas nenhuma destas razões explicam o que se passa. Não só há espirómetros - as máquinas que realizam espirometrias - fechados em armários, como a questão do dinheiro também não se aplica, já que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) tem previsto e prevê neste momento a possibilidade de todas as Unidades Locais de Saúde (ULS) adquirirem estes equipamentos.

O que está aqui em causa não mais é do que uma clara falta de organização e de coordenação, que põe em causa o diagnóstico atempado da DPOC, já que 70% dos casos continuam sem diagnóstico, e o melhor acompanhamento de outras doenças respiratórias crónicas, o que se traduz em pessoas obrigadas a viver, diariamente, com falta de ar, impedidas de dar o seu contributo para a sociedade e transformadas em consumidores de recursos preciosos, fruto do agravamento da doença, que implica hospitalizações e gastos que poderiam ser evitados.

Ao contrário do que acontece com outras doenças, como a diabetes ou a hipertensão, em que existe uma consciência clara da importância da monitorização, na DPOC não existe ainda esta valorização sobre a importância e a necessidade de uma avaliação precoce e continuada da função respiratória dos doentes.

O que se pede não é uma revolução no sistema, mas apenas que passe a ser dada à DPOC a importância que lhe é devida, sobretudo tendo em conta o seu impacto. O que se pede é que possa ser implementada uma verdadeira rede nacional de espirometrias, para a qual estudos já revelaram bastantes benefícios: menos hospitalizações e mais diagnósticos precoces, o que, por sua vez, proporcionaria não só ganhos em saúde, mas também ganhos económicos para o sistema, com impacto na saúde pública

Para quem vive com DPOC, trata-se apenas de garantir acesso a algo que têm direito: ao acompanhamento digno e eficaz da sua saúde respiratória e a uma monitorização que previne agravamentos e salva vidas.

Neste mês de Sensibilização para a DPOC, a RESPIRA reforça o seu compromisso com os doentes, o que significa a total abertura para um diálogo essencial com as entidades de saúde, no sentido de criar as condições para acompanhar quem vive com esta doença. Porque se não existe falta de meios, nem falta de verbas, então o que falta é mesmo ação e coordenação, para transformar compromissos em medidas concretas que mudem vidas e tragam ganhos reais em saúde.

José Albino, presidente da RESPIRA, Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas

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