(Z1) 2025 - CM de Vila do Bispo - Um concelho a descobrir

D. Álvaro de Sande, o herói general português que regressou de Istambul

D. Álvaro de Sande, o herói general português que regressou de Istambul

D. Álvaro de Sande nasceu numa família nobre portuguesa ligada à casa dos condes de Atouguia. Cresceu num ambiente marcado pela tradição militar e pelo serviço à Coroa. A sua carreira iniciou-se no exército de Carlos V, onde combateu nas campanhas contra os protestantes na Alemanha. Estas experiências forjaram-lhe a disciplina e a coragem, reputação que acompanharia toda a sua vida.

Em 1560 integrou a expedição de Djerba, destinada a conter o avanço otomano no Mediterrâneo. A frota cristã foi derrotada pela marinha turca numa batalha histórica, considerada uma das maiores derrotas navais europeias antes de Lepanto. D. Álvaro sobreviveu à derrota, mas foi feito prisioneiro e levado para Istambul, onde permaneceu encarcerado na Torre de Yedikule durante vários anos. O cativeiro expôs-o a condições duras, mas não quebrou a sua determinação nem a sua fidelidade à fé e à Coroa.

O regresso à Península Ibérica trouxe-lhe finalmente reconhecimento. Filipe II recebeu-o com distinção, valorizando a sua experiência e coragem. O rei concedeu-lhe títulos e responsabilidades, incluindo cargos de confiança que demonstraram a sua confiança em D. Álvaro. Esta valorização não se limitou a elogios formais: o general assumiu funções de governo, destacando-se como governador interino do Ducado de Milão entre 1571 e 1572, posição de grande prestígio e responsabilidade.

A carreira de D. Álvaro prolongou-se por diversas campanhas militares ao serviço da Monarquia Hispânica. Participou ativamente em operações nos Países Baixos, Itália e no Mediterrâneo, consolidando a sua reputação de estratega competente e leal. A sua experiência nas guerras europeias permitiu-lhe compreender a complexidade política e militar do império ibérico em expansão.

Além do serviço militar, D. Álvaro desempenhou um papel diplomático importante. O seu regresso de Istambul tornou-se exemplo do valor do resgate negociado entre monarquias, evidenciando a importância da diplomacia e do prestígio pessoal na política do século XVI. O reconhecimento de Filipe II garantiu-lhe não apenas honra, mas também influência junto do rei e da corte.

A trajetória de D. Álvaro de Sande recorda que a História não se escreve apenas com vitórias ou títulos conquistados em batalha. A grandeza de um homem reside também na forma como enfrenta a adversidade, mantém a honra e transforma experiências difíceis em prestígio. Portugal pode olhar para este fidalgo como exemplo de coragem, resiliência e serviço ao país, mesmo nos tempos mais complexos e perigosos da sua História.

Paulo Freitas do Amaral

Professor, Historiador e Autor

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