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O 2.º Conde de São Lourenço e a defesa de Porto de Mós (Lagos)

O 2.º Conde de São Lourenço e a defesa de Porto de Mós (Lagos)

Artigo de Artur de Jesus, publicado na revista Nova Costa de Oiro em https://www.novacostadeoiro.com

Ao longo dos séculos, as Muralhas de Lagos, os seus Baluartes e Portas enquanto sistema defensivo foram complementadas por todo um conjunto de fortificações costeiras que procuraram defender a sua rectaguarda e os seus acessos mais directos, visando dissuadir, impedir ou dificultar o desembarque e progressão de forças inimigas, bem como a sua eventual investida contra a cidade.

Como vimos nos artigos anteriores, essa foi uma das funções desempenhadas pelo Forte de Nossa Senhora da Luz. Porém, esse caso não foi único.

O 2.º Conde de São Lourenço, Martim Afonso de Melo, governou o Algarve entre 1642 e 1646. Filho de Manuel de Melo e da sua segunda esposa, D. Margarida da Silva, Martim Afonso de Melo casou com a 2.ª Condessa de São Lourenço, D. Madalena da Silva, ficando assim com o título de Conde de São Lourenço.

Foi o 5.º Alcaide-Mor de Elvas, detentor de várias comendas, foi senhor do reguengo de Elvas e ficou ligado, também, a esta área do Barlavento algarvio. Foi também senhor do reguengo de Sagres e senhor de Vila do Bispo, que lhe foi concedida enquanto aldeia, por alvará régio de 26 de Agosto de 1662, com a condição de ser elevada a Vila com jurisdição própria (assim nasceu o Concelho de Vila do Bispo).

Martim Afonso de Melo esteve envolvido nos principais acontecimentos sociais do seu tempo e exerceu diversos cargos ao serviço da Coroa, em Portugal e nos territórios além-mar.

Aclamou o Rei D. João IV, serviu na Índia (foi Governador de Mascate e de Cabo Comorim), fez parte do Conselho de Guerra, foi Governador da Praça de Cascais, foi Governador das Armas do Alentejo por diversas vezes e, como referimos, do Algarve.

No teatro de operações do Alentejo, na guerra contra a Espanha, distinguiu-se pelas suas investidas em território inimigo e pelas medidas de reforço das defesas em várias ocasiões.

Noutras, porém, as suas hesitações revelaram-se danosas para o curso do conflito. Por outro lado, Martim Afonso de Melo ficou conhecido pela sua severidade na administração da justiça.

Foi nas funções de Governador e Capitão-General do Reino do Algarve que, em 1644, Martim Afonso de Melo se dirigiu ao Rei D. João IV consciente da realidade da zona circundante a Lagos em termos defensivos e das suas necessidades. Portugal estava em guerra contra a Espanha, como mencionámos atrás.

Receava o Conde de São Lourenço que forças inimigas pudessem utilizar as Praias da Senhora da Luz e do Porto de Mós para investirem contra a cidade, o que poderiam fazer comodamente, trazendo consigo artilharia com a qual a poderiam bater. Nessa mesma carta, que dirigiu ao Rei destacou o exemplo do ataque inglês e da presença constante dos Mouros na zona costeira (mesmo no Inverno), sendo assim muito conveniente “…ao serviço de Vossa Majestade que nos ditos desembarcadouros se façam dois Fortes…”. Martim Afonso de Melo faleceu anos mais tarde, em Lisboa, a 31 de Julho de 1671.

Apesar do seu interesse lúcido pela importância da defesa dos dois pontos da costa de Lagos e do despacho do próprio D. João IV, em 29 de Fevereiro de 1644, as fortificações que viriam a defender a Senhora da Luz e o Porto de Mós foram construídas vários anos depois. A Praia de Porto de Mós e, complementarmente, a Praia do Canavial constituem um dos troços mais interessantes da costa do Concelho de Lagos, evidenciando interessantes diferenças e complementaridades.

As falésias da zona ocidental da Praia de Porto de Mós (cujo terreno atinge elevações de 65 metros) apresentam maior robustez e caiem, praticamente, a pique sobre o areal e o mar.

Baixam em altitude até à zona da ribeira, onde se encontra a área principal de estacionamento e de acesso nos nossos dias. Depois, a Nascente, voltam a subir progressivamente, atingindo elevações que rondam os 40-50 metros. Aqui, as falésias mostram-se mais arenosas e sedimentares, apresentando-se mais recortadas e trabalhadas pelos elementos naturais, deliciando o nosso olhar com as mais variadas tonalidades, formas, recantos e rochedos isolados. Porto de Mós estava, assim, parcialmente defendida pelas características físicas das suas falésias, contudo o areal estava exposto, possibilitando o desembarque de forças hostis.

A situação foi, finalmente, remediada nos inícios do Século XVIII, com a construção de algumas estruturas defensivas de carácter provisório, sob as ordens do Capitão de Engenharia João Alves Seixas, que se encontravam terminadas em 1712.

Por meados do Século XVIII, antes de 1755, essas construções deram lugar à Bateria do Porto de Mós, que foi constituída ao longo da sua existência pelo parapeito voltado ao mar (onde assentavam as peças de artilharia), pelo aquartelamento dos soldados e pelo armazém para o seu material de apoio. No ano de 1762, esta fortificação dispunha de 2 peças de artilharia em ferro (oitavos de canhão, de calibre 6).

Era guarnecida no Inverno por 2 Soldados (1 de Infantaria e outro de Artilharia) e 1 Almoxarife. Entre os meses de Primavera e de Outono, a guarnição compunha-se de 1 Sargento e 3 Soldados de Infantaria, 3 Soldados de Artilharia e 8 Soldados de Ordenanças.

Com a passagem dos anos, o número de bocas-de-fogo manteve-se em duas. Contudo, o estado de conservação foi conhecendo altos e baixos. Em 1777, os reparos das peças encontravam-se incapazes. No ano de 1793, o estado de conservação da fortificação era bom, tendo 2 bocas-de-fogo e três anos depois, mantinha-se artilhada com o mesmo número de peças.

Por sua vez, em 1815, defendeu-se o seu abandono e, mais tarde, em 1821, dispunha de 2 peças de bronze, de calibre 13, mas era geral e grande o seu estado de ruína.

Esta Bateria atravessou a 1.ª Guerra Civil Portuguesa (1832-34). A partir de 1840, estava abandonada e sem artilharia. Já no Século XX, em 1945, os seus restos serviram de arrecadação ao Regimento de Infantaria N.º 4, nomeadamente à sua Carreira de Tiro.

Esta mesma Carreira de Tiro foi, finalmente, transferida em 1977 para a Manutenção Militar. Hoje, por entre uma paisagem sublime e acompanhados pela voz poderosa e incessante do mar, podemos e devemos evocar as Memórias de um Passado que nos ajuda a compreender a realidade presente onde estamos inseridos e a interpretar de uma forma assertiva os diversos espaços em que nos movemos.

O Porto de Mós é um dos lugares onde podemos levar a cabo essas experiências, discernindo a sua grandeza cenográfica enquanto espaço presente e as Memórias de todos aqueles que lhe deram um significado.

Artur Vieira de Jesus, Licenciado em História

Bibliografia: - BOTELHO, José Justino Teixeira, “Novos Subsídios para a História da Artilharia Portuguesa”, Volume II, Lisboa, Comissão de História Militar, 1948. - CALLIXTO, Carlos Pereira, “História das Fortificações Marítimas da Praça de Guerra de Lagos”, Lagos, Câmara Municipal de Lagos, 1992. - JESUS, Artur Vieira de, “Vila do Bispo – Lugar de Encontros”, Volume I, Vila do Bispo, Câmara Municipal de Vila do Bispo, 2013. - ROCHA, Manuel João Paulo, “Monografia de Lagos”, Faro, Algarve em Foco Editora, 1991. Fontes Digitais: http://purl.pt/762 VASCONCELOS, José de Sande, “Mappa da configuração de todas as praças fortalezas e baterias do reyno do Algarve”[1788].

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