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Lagos acolhe artistas em projecto europeu e lança reflexões sobre colonialismo como tema para exposição

Lagos acolhe artistas em projecto europeu e lança reflexões sobre colonialismo como tema para exposição

Presidente da Direção da associação cultural Laboratório de Atividades Criativas, Nuno Pereira, diz que “cultura é diálogo, é paz, civismo, intercâmbio, troca de conhecimentos entre parceiros”, na sessão inaugural de um encontro internacional em Lagos. Artistas do Reino Unido, de Espanha e do Chipre estão nesta cidade em “residência artística” a produzir matéria para exposição a realizar entre 15 de Março e 15 de Abril, na galaria do LAC.

“Cultura é diálogo, é paz, civismo, intercâmbio, troca de conhecimentos entre parceiros.” Foi este o sentimento expresso pelo presidente da Direção do LAC - Laboratório de Actividades Recreativas, Nuno Pereira, ao referir-se à rota da escravatura e ao papel de Portugal no colonialismo, durante a sessão de abertura de um encontro que reuniu, na sexta-feira, dia 14 de Fevereiro, artistas de vários países e especialistas em História e arqueologia, entre outros, na galeria desta associação cultural situada na Rua Professor Luís Azevedo, nº. 37, em Lagos. Estiveram também presentes a vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lagos, Sara Coelho, e o presidente da Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos, Carlos Saúde.

Na altura, houve um conjunto de comunicações que fizeram parte de um ‘workshop’ integrado num projecto cultural internacional designado «Contestd Desires» e que inclui uma parceria alargada de países como Portugal, Espanha, França, Chipre, Reino Unido (líder do projecto) e Alemanha. Seis parceiros. Pela primeira vez, o LAC está incluído neste projecto internacional, financiado pela União Europeia.

 

O papel de Lagos, o Mercado de Escravos e a Fortaleza e promontório de Sagres “na ligação Europa, Atlântico, África” para realçar “um mundo de culturas”

Um dos oradores, o arqueólogo Rui Parreira, director da Direcção de Serviços de Bens Culturais da Direcção Regional de Cultura do Algarve, explicou aos artistas dos vários países, com o apoio de imagens da cidade e documentos históricos de testemunhos, o papel de Lagos na rota marítima dos Descobrimentos à conquista de África e, em termos gerais, a intervenção do “Algarve na globalização” a partir do século XV.

Nesse sentido, foi destacada a antiga vedoria (Mercado de Escravos), bem como o Núcleo Primitivo de Lagos, com testemunhos cartográficos de 1550, além da Praça do Infante, Igreja de Santa Maria e a Porta da Vila. Nas imagens apresentadas, podiam ver-se um esqueleto, outrora enterrado no Núcleo Primitivo, e testemunhos da Carta de Alforria - Lagos, de 1671.

Por outro lado, Rui Parreira destacou o Museu de Lagos Dr. José Formosinho e assinalou a Rua Lançarote de Freitas, conhecido navegador natural desta cidade e que no século XV partiu para África, sob as ordens do Infante D. Henrique, como uma das referências históricas, além de apontar a Fortaleza e o promontório de Sagres “na ligação Europa, Atlântico, África”, para realçar um “mundo de culturas” de que o Algarve faz parte.

A sessão inaugural deste encontro contou, também, com a intervenção da especialista em documentação sobre colonialismo Patrícia Leal, da Universidade do Minho e do Museu Nogueira da Silva, em Braga.

 

Reino Unido reflete sobre o ‘Brexit’ e Espanha acerca da ‘Igualdade de género e do feminismo’

“Este painel faz parte do ‘workshop’ de capacitação para o grupo de artistas que cá está. No total, somos vinte e duas pessoas que vamos debatendo temas que, neste caso, a LAC trouxe para cima da mesa. Cada uma das estruturas de capacitação traz um tema, o nosso foi a generalização e a questão do colonialismo”, contou ao «Correio de Lagos» Nuno Pereira, presidente da Direção desta associação cultural de Lagos. O ‘workshop’, acrescentou, “vai repetir-se noutros países com todo o grupo, mas com outras temáticas. Por exemplo, no Reino Unido será o ‘Brexit’ e na Espanha, a questão da ‘Igualdade de género e do feminismo’. O projecto integra várias ações que se replicam por todos esses países, nomeadamente «workshops» de capacitação, reuniões de parceiros, residências artísticas e exposições.”

 

“A sul do Tejo, o único fomos nós a conseguir receber este apoio”

Trata-se de um projecto integrado no âmbito do programa ‘Europa Criativa’, destinado a projectos com financiamento de pequena dimensão. “Fomos um dos muito poucos a nível nacional a conseguir receber este apoio. A sul do Tejo, o único fomos nós”, frisou o presidente do LAC.

“Os artistas estão aqui durante dois dias para exatamente recolher essas informações prestadas pelos oradores nesta sessão. Depois, hão-de ir digerir todas estas coisas para os seus países, para fazer, então, essa residência artística”, referiu aquele responsável. “Durante este fim-de-semana, temos reuniões técnicas acerca do projecto, aspetos orçamentais e questões administrativas. Depois, teremos, então, aqui em residência, quem vamos acolher. Vamos receber um artista do Reino Unido, outro da Espanha e um outro do Chipre. Eles estarão cá durante um mês, desde o dia 15 de Fevereiro até 15 de Março, em residência artística, a produzir material. E depois, de 15 de Março a 14 de Abril, aqui mesmo na Galeria do LAC, vamos ter a exposição resultante dessa residência artística. Essa exposição irá juntar-se a todas a outras exposições pelos países envolvidos neste projecto, em Chipre, no ano 2021”, especificou Nuno Pereira.

 

Projecto cultural internacional como resposta ao “avanço da extrema direita na Europa”

Numa altura em que, como observou aquele dirigente do LAC, é notório o “avanço da extrema direita na Europa”, este projecto internacional poderá ser encarado como uma resposta inserida na ideia defendida de que “cultura é diálogo, é paz”.

“Os líderes do projecto são do Reino Unido. Nós estamos como parceiros. E em conjunto chegamos a essa conclusão para definir as linhas estratégicas do projecto. É óbvio que essa questão da extrema direita nos preocupa na Europa e por isso desenhamos esse projecto para refletir, então, essas questões, ver os prós, os contras, de modo a que os artistas também possam ter matéria para trabalho e depois expressarem-na nas suas obras”, sublinhou o presidente do LAC.

 

“Uma grande festa” em Chipre “a culminar dois anos de trabalho” em 2021

Sobre a exposição em Lagos, Bruno Pereira prefere aguardar para ver. “Não sabemos o que é que eles vão fazer porque isso depende deles. Podem ser quadros, podem ser instalações, podem ser vídeo-projeções, podem ser performances. São coisas em que eles vão refletir e trabalhar durante esse período em que cá estão em residência”, disse.

Já relativamente à exposição final, em 2021, no Chipre, a culminar este projecto cultural europeu, o presidente do LAC espera que seja “uma grande festa entre todos e uma celebração de quase dois anos de trabalho em conjunto com as obras de todos os artistas.” É que, reforçou a concluir, “cultura é diálogo, paz, parceria.”    

 

Carlos Conceição e José Manuel Oliveira

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