Artigo de opinião de Paulo Vitória, Psicólogo. Professor da Universidade da Beira Interior. Foi membro do Conselho de Prevenção do Tabagismo entre 1998 e 2007 e coordenador da Linha SOS – Deixar de Fumar.
Assinala-se a 31 de Maio o Dia Mundial Sem Tabaco. Esta iniciativa é promovida anualmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cada ano com um tema diferente. Este ano a OMS parece ter ficado dividida na escolha do tema entre uma emergência do futuro e uma emergência do presente. A emergência do presente é a COVID-19, que é tão recente que não deve ter permitido à OMS reorganizar-se para adotar este tema em 2020. A emergência do futuro, que já vem do passado, e que é o tema oficial do Dia Mundial Sem Tabaco 2020, são as iniciativas da indústria tabaqueira para renovar os seus clientes, ou seja, as táticas para comunicar com os jovens de uma forma subtil e eficaz. Ambas as emergências trazem associados números negros: a COVID já matou cerca de 300.000 (trezentas mil) pessoas nesta altura ainda precoce da pandemia e o fumo do tabaco mata mais de 7.000.000 (sete milhões) de pessoas todos os anos.
Tanto na COVID como no caso do fumo do tabaco, a maioria das complicações graves implicam o sistema respiratório. Além desta, que outras relações podemos estabelecer entre o fumo do tabaco e a COVID? Fumar ou estar exposto ao fumo ambiental de tabaco aumenta o risco de contrair COVID? As partículas do fumo podem transportar o vírus? Quem fuma tem risco superior de complicações na COVID? Os fumadores com COVID melhoram ou diminuem o risco de agravamento se pararem de fumar? O confinamento agrava a exposição dos não fumadores, em especial crianças, ao fumo do tabaco ambiental?
A ciência necessita de tempo para encontrar as respostas para as questões que investiga. No entanto, numa declaração emitida a 11 de maio (ver https://www.who.int/news-room/detail/11-05-2020-who-statement-tobacco-use-and-covid-19), a OMS considerava que a evidência disponível já permitia concluir com segurança que as pessoas que fumam tem risco superior de complicações graves na COVID-19 relativamente aos não fumadores. Além deste efeito direto, é necessário contar com o efeito indireto que resulta da forte associação entre o fumo do tabaco e doenças crónicas que agravam o risco de complicações da COVID, nomeadamente, as doenças cardiovasculares, o cancro, as doenças respiratórias e a diabetes.
As questões para as quais a ciência procura respostas no futuro próximo são também boas razões para cada um de nós evitar o fumo do tabaco no presente. O Dia Mundial Sem Tabaco é um convite para que todos se empenhem nesta causa. Os que fumam podem deixar de fumar. Os que não fumam podem ativamente e tranquilamente dar o seu contributo para um mundo sem tabaco evitando o fumo do tabaco e encorajando os fumadores a deixar de fumar. Um mundo sem tabaco será um mundo melhor para todos.
Para quem quer deixar de fumar a meta está já aqui no presente imediato. Tentar é o passo decisivo para alcançar essa meta. Se a tentativa não resultar, significa que é necessário um pouco mais de esforço e o recurso a ajuda de um profissional de saúde formado em cessação tabágica. O SNS dispõe de uma boa rede de consultas de cessação tabágica. Ligue para a Linha SNS 24 (808 24 24 24) e informe-se.