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A arte na deficiência

A arte na deficiência

Artigo de Sara Glória, Monitora de Artes Plásticas da NECI - Núcleo Especializado para o cidadão Incluso

Poderiam ser verdadeiras obras de arte, sérias, encaixilhadas, mas não são. São apenas desenhos simples e verdadeiros, fruto do impulso da expressão pessoal de cada um, com traços muito particulares e cores às suas medidas, num resultado único que revela o carácter e a personalidade de cada um.

Se há quem saiba as cores que quer utilizar num determinado desenho e até as sabe nomear todas, há outros que não sabem nem revelam esse interesse, pois há outro objetivo a alcançar. Mais importante que o resultado final (bonito ou feio), interessa o processo de fazer, o caminho até lá, a motivação que os guia; e a aprovação final também é muito importante. Afinal não somos todos assim?

A opinião de todos os colegas conta muito, o que normalmente é unanime: está sempre bonito!

Desenhar com um propósito, um destino, seja para uma exposição, para um colega, para uma amiga ou uma funcionária da instituição é ainda mais aliciante: fazer uma surpresa, um retrato de alguém traz motivação a dobrar!

A arte (deles) não tem limites e têm uma visão muito própria do mundo onde não há limitações em passá-lo para o papel. Não encontro o medo de errar, de fazer mal, o perfeccionismo (que tanto nos limitam) e quando não sabem fazer são os primeiros a dizê-lo e isso não lhes causa frustrações que os deixem a remoer durante muito tempo ou provoquem um sentimento de inferioridade. Resolvem o assunto muito rapidamente com o que sabem e gostam de fazer.

Os temas que abordam individualmente vão muito ao encontro do que já conhecem e sabem conseguir fazer. No entanto, se a proposta for outra, algo novo ou diferente, aceitam-no prontamente pois afinal não é assim tão importante o resultado final mas o caminho até lá. Nunca encontrei tanta abertura em alunos como nestes que agora abraço: tudo é bem-vindo, gostam de experimentar, de aprender, de agradar e ajudar, de nos dizer o quão gostam de nós e de saber que gostamos deles: isso afinal é o mais importante!

Os seus trabalhos são alegres e destemidos, coloridos e cheios de vida. Parecem-se com traços de criança, revelando as formas mais ingénuas e primárias que inicialmente aprendemos a desenhar: o traço instintivo, as cores primárias, os temas alegres, tudo nos remete para a idade interior de uma criança (num corpo de adulto)!

Como monitora de artes plásticas há relativamente pouco tempo, sinto que é muito gratificante esta experiência fruto do trabalho que faço com eles e que eles fazem comigo. Tem tanto de desafio como de aprendizagem, de desordem como de amor, de desespero como de gratidão. Aprendo que aqui tudo muda rapidamente. Que basta pedir que aparece, que há tanta coisa disponível e há tanto amor que desconhecemos de onde nasce. Eles são fantásticos. Desafiantes mas maravilhosos. Ensinam-nos tanto e estão tão disponíveis para aprender.

E quando fechamos a porta para terminar um dia de atividades a pergunta que lançam é sempre a mesma: amanhã há escola?

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