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Banda "Plasticine" representou Lagos no Festival "Algarve é União" – Entrevista

Banda "Plasticine" representou Lagos no Festival "Algarve é União" – Entrevista

Beatriz Maio
Marta Ferreira

O Correio de Lagos marcou presença no Festival “Algarve é União” que decorreu nos dias 8 e 9 de Maio, em Faro. Entre Arte, Dança, Poesia e Teatro, Lagos fez-se representar na área da Música pela banda “Plasticine”, que actuou sábado, dia 8, e concedeu ao CL uma entrevista exclusiva.

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Quem são os Plasticine?

“Plasticine” definem-se como um colectivo musical de influências variadas, do Soul ao Afro-Beat, passando por Rock, Pop, R&B, Jazz, World Music e Fusão. Formado em 2018, o grupo integra membros entre os 26 e os 46 anos. Ao todo, já 27 músicos fizeram parte deste projecto.

Normalmente, contam com 10 elementos em palco. Neste concerto em particular, a formação foi a mais habitual: Ivo Martins na Bateria, Pedro Guerreiro no Baixo, Pedro Glória na Percussão e efeitos, Pedro Barroso na Guitarra, João Faísca, vocalista e guitarrista, Wesley Seme, vocalista e teclista, Lana Gasparotti nas Teclas, João Barbosa no Trompete, Marco Canas no Saxofone, Ricardo Lopes no Trombone e Tião Costa como Técnico de Som.

À excepção de Wesley – que é francês, nascido na Martinica –, os restantes membros da banda são todos portugueses, muitos dos quais algarvios, nomeadamente residentes em Lagos, Silves, Faro e Tavira.

Até se apresentarem como banda, João Faísca e Pedro Barroso tocaram algumas vezes juntos, inclusive no Centro Cultural de Lagos, num Verão, onde tiveram a oportunidade de alinhar alguns temas. Em Janeiro, apresentaram-se no LAC – Laboratório de Actividades Criativas, associação que é também residência dos “Plasticine”.

Já a escolha do nome foi fruto de uma constante adaptação, influenciada pelo facto de não se cingirem exclusivamente a um só estilo ou formação: «Somos maleáveis», explicou João.

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«O feedback do público é algo extraordinário e temos umas saudades enormes»

Correio de Lagos – Como se definem os “Plasticine”?

Plasticine Band – Este é um projecto que nos dá muito prazer em termos artísticos. Alguns de nós vivem profissionalmente da Música, mas como banda de originais, em Portugal e no Algarve, é difícil viver só disso. No Algarve não existem salas de espectáculos suficientes ou público para alimentar uma agenda anual que permita viver apenas disso. Vivemos da Música, mas muito à base do mercado turístico, do entretenimento. Tocamos em hotéis, bares e eventos.

O desafio criativo e artístico são os projectos de originais, e os “Plasticine” são um pouco isso. O que nos distingue é a dimensão, o facto de termos rotatividade de pessoas. Por exemplo, no último concerto tínhamos dois músicos diferentes no Trompete e na Percussão.

Por sermos uma banda complexa e com muita gente, a logística torna-se difícil, mas ao mesmo tempo conseguimos ter convivência com muitos músicos diferentes. É um projecto que nos possibilita tocar com várias pessoas que conhecemos do meio, quase todos ligados ao Algarve. Já tivemos pessoas diferentes em todas as posições, já houve muitas variações e participações. “Plasticine” é o cantinho onde podemos expor a nossa criatividade, juntar vários timbres e criar aquela fusão que se vê desde sempre em várias bandas.

CL – Quando é que o projecto viu a luz do dia pela primeira vez?

PB – A 30 de Março de 2018 estávamos a dar o primeiro concerto. Não tínhamos em vista fazer uma banda, mas depois pensámos que certos temas juntos faziam sentido e decidimos arranjar uma banda para tocar ao vivo. Marcámos o concerto em Fevereiro, organizámos tudo, separámos e transcrevemos as músicas para pautas, e um mês e pouco após isso estávamos todos a subir ao palco pela primeira vez.

Começámos a afinar os arranjos, a deixar os temas “mais tocáveis” para uma grande banda e a desenvolvê-los. Um ano e meio e alguns concertos depois, estávamos a gravar o nosso disco [de seu nome “Plasticine”].

CL – Como é a dinâmica entre os membros do grupo? O facto de serem muitos tem influência no processo criativo?

PB – A base da composição não é propriamente uma dinâmica de grupo; o processo inicial é mais individual. Quando ensaiamos todos, vamos fazendo alguns ajustes aos instrumentos e cada um dá ideias, pelo que a banda toda contribui. Os temas inicialmente são compostos em casa, mas depois durante os ensaios – ou muitas vezes até em sound check, que é quando nos conseguimos reunir todos mais facilmente –, damos uns ajustes.

A pandemia veio complicar este processo, uma vez que, durante muito tempo, não nos permitiu juntar. Apesar de sermos do Algarve, não vivemos todos na mesma cidade e a deslocação torna-se um obstácuulo. É complicado.

CL – Que momentos destacam ao longo do vosso percurso?

PB – O primeiro concerto foi o que mais nos marcou. Em Março de 2019, ganhámos um concurso de bandas no Marginália, em Portimão, e em Setembro desse ano apresentámos o nosso álbum em Loulé. Gravá-lo foi também um momento marcante. Temos tido alguns momentos engraçados:

O ano passado tocámos em Olhão, já em ambiente de pandemia, num espaço exterior bastante grande, mas o público estava todo sentado em cadeiras com o devido distanciamento. Havia um bom ambiente. Em Lagos, fizemos um concerto que provavelmente nunca mais se irá repetir, o “Drive-In Lagos”, com carros à frente.

Tivemos concertos giros que iremos recordar com muito carinho. Por exemplo, em Março do ano passado, uma semana antes do confinamento, tocámos no Peppers Bar, em Lagos, um bar pequenino. Éramos dez a tocar no primeiro andar e estava cheíssimo. Fica-nos na memória, foi o último concerto com o público mesmo “colado”, ali tão perto.

CL – Quais os maiores obstáculos com que se depararam até aqui?

PB – Em geral, logística. Os obstáculos normais de uma banda de dez elementos mais um técnico de som, ou às vezes mais. Já chegámos a tocar com doze e treze pessoas – no primeiro concerto éramos treze no total. Mesmo sendo todos do Algarve, conciliar agendas é complicado e a pandemia, numa banda desta dimensão, limita-nos mais. Nunca podemos juntar muitas pessoas para ensaiar.

Tínhamos alguns planos no seguimento do lançamento do álbum: dois concertos agendados em Lisboa mais um showcase, para dar a conhecer o álbum além Algarve, mais uns concertos aqui pela região… Foi tudo cancelado.

Lançámos um disco, que é algo que demora sempre algum tempo a chegar às pessoas, e cinco meses depois tudo fechou. Contudo, mesmo durante a pandemia, houve acções e iniciativas que nos deram alguma projecção. Por exemplo, as audiências em live stream aumentaram.

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«“Plasticine” não é encarado com um negócio, é um espaço artístico de liberdade. (…) Fazemos algo que gostamos e que achamos que pode servir a alguém»

CL – Qual a vossa maior ambição como banda? Quais os planos para o futuro?

PB – Continuar a tocar por muitos anos, com gosto, ter temas novos. Essencialmente, o objectivo artístico é no sentido de termos um espaço em que podemos pôr em prática ideias de forma livre. Se, com isso, conseguirmos tocar mais vezes e em mais sítios e, eventualmente, conseguíssemos ganhar um pouco mais dinheiro para formar um equilíbrio, seria um sonho.

“Plasticine” não é encarado com um negócio, é um espaço artístico de liberdade. Não nos queremos focar em sonoridades comerciais, não é esse o objectivo. Faz sentido sermos honestos e tocarmos música “que nos sai”. Há muitos nichos, ficamos felizes com o facto de haver público para nos ouvir e que nos dê alegria enquanto estamos a tocar. O feedback do público é algo extraordinário e temos umas saudades enormes.

CL – Pretendem levar a vossa Música ao estrangeiro?

PB – Gostávamos muito. Se aparecer a hipótese, claro que sim, era interessante.

CL – Para vocês, a Música é um trabalho a tempo inteiro ou um hobby?

PB – Somos vários músicos a tempo inteiro, não todos. Viemos de outras profissões, alguns continuam a trabalhar na área profissional; outros, optaram por se dedicar por completo à Música.

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«Lagos é a base de vários elementos da banda, acaba por ser aquela sensação de “casa artística”»

CL – O que simboliza Lagos para os “Plasticine”?

PB – Alguns de nós nasceram em Lagos, temos uma pareceria com o LAC e a nossa primeira actuação foi no Clube Artístico Lacobrigense. Organizámos até um festival, o MAR – Encontros de Música e Artes, com duas edições.

Lagos é a base de vários elementos da banda, acaba por ser aquela sensação de “casa artística”. O facto de estarmos presentes e as pessoas nos conhecerem melhor leva a que encontremos mais apoios e portas abertas para algumas iniciativas que fizemos, como a gravação de um vídeo no Centro Cultural de Lagos. Estamos mais à vontade em Lagos para fazer algumas coisas, e isso acaba por ser uma oportunidade de nos projectarmos para outros mercados e sítios, para mostrar o nosso trabalho.

CL – Entre tantos talentos, que conselho dão a quem pretende conquistar um lugar no mundo da Música?

PB – O mundo da Música tem muitas possibilidades. Pode-se ir para um Conservatório, estudar, tirar um curso; pode-se pegar na guitarra, fazer música no quarto. A parte essencial é trabalhar, estudar e praticar, depende do que se quer fazer.

Nós fazemos algo que gostamos e que achamos que pode servir a alguém. É importante fazer algo em que se acredita, é necessário apostar, fazer várias tentativas, várias músicas. Podem não estar perfeitas, mas pelo menos ter algum material para mostrar, divulgar e ir aprendendo, porque se estivermos sempre em busca da perfeição e nunca terminarmos uma tarefa acabamos por nunca desenvolver.

É preciso não desistir, nunca é tarde. Para quem não quer estudar música, já há tecnologia que nos ajuda bastante, mas é preciso ser humilde. Às vezes é preciso errar, há enganos que ficam giros, outros que não. Existem muitos caminhos a seguir, cada vez mais, o mercado é muito global.

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«A nossa profissão no Algarve é extremamente sazonal e os confinamentos acabaram por coincidir com a época mais baixa»

CL – A Cultura foi dos sectores mais afectados com a pandemia devido ao cancelamento de espectáculos e apoios insuficientes por parte do Governo. No vosso caso em específico, como geriram estes problemas?

PB – Tivemos apoios, só nem sempre tivemos direito à sua totalidade, porque muitos de nós ainda chegaram a tocar durante o Verão. Quando veio o Inverno, houve uma quebra de trabalho e os casos de Covid-19 voltaram a aumentar. Nesse período, até os apoios serem novamente accionados, ficámos sem algum suporte. O apoio não foi suficiente comparado com o que ganhávamos, tivemos que recorrer a algumas poupanças. De qualquer forma, recebemos alguma coisa, que serviu para minimizar o impacto da pandemia.

O nosso modo de vida acabou por se adaptar, deixámos de gastar dinheiro em muitas coisas. Fomos sobrevivendo, gastando das poupanças, mas não nos podemos queixar. Se calhar há pessoas que estavam numa situação pior e eventualmente não conseguiram aceder aos apoios por questões burocráticas, e esses casos mereciam uma atenção extra por parte do Estado. A nossa profissão no Algarve é extremamente sazonal e os confinamentos acabaram por coincidir com a época mais baixa, mas no Verão ainda recuperámos do tempo em que estivemos parados.

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In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº367 · MAIO 2021

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