Na passada edição de Novembro, o CL deu a conhecer Mariana Guerreiro, atleta lacobrigense e que soma já várias distinções na categoria de Bikini Fitness em Portugal. Seguindo essa mesma linha, a edição deste mês apresenta-lhe Henrique João, atleta de Fisiculturismo, que também tem vindo a dar cartas no mundo do Fitness e cuja força de vontade lhe tem permitido coleccionar prémios com grande destaque nacional.
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Quem é Henrique?
Henrique João tem 24 anos, nasceu no Barreiro e veio viver para Lagos com apenas 7 anos, onde se fixou até ao ano passado. Mora actualmente em Inglaterra e lá trabalha num lar, como auxiliar de saúde. É Técnico Especialista em Exercício Físico, formado pelo Centro de Formação Profissional CEFAD, aspirando continuar a investir na área, seja em Portugal ou em Inglaterra. No seu percurso enquanto atleta, concorreu sempre na categoria de Culturismo/Culturismo Clássico e não descarta a possibilidade de vir a competir no estrangeiro de futuro. O gosto pelo Fitness surge por volta dos 16 anos, como um passatempo, e assim se mantém: para Henrique o desporto não é «um trabalho, mas sim um hobby». O seu lema de eleição é "O corpo alcança o que a mente acredita".
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À semelhança da edição anterior, convidámos Henrique João a comentar alguns temas como motivação, disciplina, transtornos alimentares e conquistas pessoais, os quais abordou com objectividade e transparência. Leia abaixo e saiba tudo!
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Correio de Lagos – O que te incentivou a começar a treinar/ter mais cuidado com a tua forma física?
Henrique João – Comecei a treinar aos 16 anos, com alguns amigos meus. Porém, sem nenhum objectivo específico nem um plano estruturado. Mais tarde, comecei a perceber um pouco mais sobre o conceito de Fitness, com a ajuda do Personal Trainer António Miranda, que na altura trabalhava no ginásio Solinca. Desde então, deu-me umas luzes sobre o assunto e comecei a gostar mais da área e também a querer saber mais. Posteriomente, comecei a ver mais resultados e a sentir-me mais confiante. Procurei alguém que me pudesse ajudar a melhorar e evoluir fisicamente. Foi aí que falei com o meu actual preparador, o Mauro Coelho, líder da equipa MHD [Max Human Development - Lagos].
CL – O desporto está sempre presente na tua rotina diária ou tens "folgas"? Encaras o treino como um "full-time job"?
HJ – Não encaro o desporto como um trabalho, mas sim um hobby. Faço com prazer e consigo conciliá-lo com a minha vida profissional e pessoal. Treino entre 5 a 6 vezes por semana, contudo, vou avaliando o meu nível de cansaço, derivado a ter um trabalho com carga horária de 12 horas por dia. É importante manter uma boa rotina de descanso para haver recuperação muscular, algo que também deve ser levado em consideração e é de grande importância, tal como o treino.
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«Temos que saber ouvir o nosso corpo, (...) respeitar o nosso corpo»
CL – O que costumas fazer naqueles dias em que a motivação para treinar é mais escassa?
HJ – Temos que saber ouvir o nosso corpo e perceber se é de facto desmotivação ou cansaço. Por vezes, temos que ignorar esse factor de desmotivação e colocar a disciplina em prática, porque é normal haverem dias em que simplesmente não temos a maior vontade do mundo para ir treinar. Temos que ser mais fortes do que isso e cumprir com a nossa parte. Quando realmente é cansaço também não devemos ignorar, e sim respeitar o nosso corpo.
CL – Por vezes, a vontade de alcançar determinada imagem pode desencadear uma má relação com a comida. É uma realidade que sabemos afectar muitas mulheres, mas os homens não são imunes a essa pressão social. Dás por ti a comparar-te com outros atletas? Como geres as tuas escolhas de modo a manter a sanidade mental?
HJ – Nunca sofri com transtornos alimentares, nem antes nem durante o meu percurso de atleta, mas é de facto uma realidade que afecta muitos atletas/entusiastas do Fitness de ambos os sexos. Na minha perspectiva, estas questões derivam da restrição alimentar, que, consequentemente, pode levar a problemas psicológicos, derivados de um mindset mais debilitado. Já me comparei mais com outros atletas, devido ao facto de ser mais baixo. Contudo, hoje em dia esse parâmetro de alturas já não interfere com a minha auto-estima, pois sinto-me melhor e mais confiante com o meu corpo.
Durante a minha preparação tento manter o equilíbrio entre o desporto e a vida social. Nunca deixo de estar com os meus amigos ou com a minha família por estar a preparar-me para uma competição. Consigo gerir bem a minha vida em conjunto com o desporto, mas sempre consciente de que nas últimas semanas de preparação a minha vida social não está tão activa derivado à fadiga que se faz sentir, e à falta de paciência que é normal nessa fase.
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«Acho muito inadequado passarem essa ideia de "dieta milagrosa" para a população em geral. (...) O que vem rápido mais rápido vai e pode reverter-se até em dobro»
CL – Enquanto Técnico Especialista em Exercício Físico, o que pensas das ditas "dietas milagrosas" como meio para atingir o corpo ideal?
HJ – Acho muito inadequado passarem essa ideia de "dieta milagrosa" para a população em geral. Como é óbvio, isso não existe! Para atingir o corpo ideal de forma saudável é necessário fazer uma dieta equilibrada, manter uma actividade física e ter um bom descanso. Algumas dessas "dietas milagrosas" até podem resultar, mas tudo o que vem rápido mais rápido vai e pode reverter-se até em dobro.
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«A Taça Carlos Rebolo 2019 (...) foi sem dúvida um enorme marco na minha vida»
CL – Como foi subir ao palco pela primeira vez em competição? Conta-nos quando foi, qual das competições te marcou mais e porquê.
HJ – Subi ao palco pela primeira vez no dia 28 de Abril de 2019, no Campeonato Nacional do IFBB [International Federation of Body Building & Fitness]. Foi uma experiência sensacional, não só por te competido, mas também pelo convívio com os meus colegas de equipa MHD.
A minha penúltima competição, que foi a Taça Carlos Rebolo 2019, no dia 16 de Novembro de 2019, foi sem dúvida um enorme marco na minha vida, por ter conseguido vencer o Overall na minha categoria, e por ter tido a oportunidade de ter a minha família – e grande parte dos meus amigos – a assistir à prova. Foi algo muito significativo para mim, pois todos fizeram 600 quilómetros para me verem e apoiarem.
CL – «Competir exige sacrifício e dedicação» – foram as palavras utilizadas pela tua companheira, Mariana. Como é que a sociedade percebe aquilo que fazes? Sentes que existe um estigma em torno do Fisiculturismo?
HJ – Sim, concordo plenamente com o que a Mariana disse. Tudo na vida requer sacrifício e disciplina. Para se ter algo [em geral], não só no desporto. Penso que a sociedade já vai percebendo um pouco melhor o conceito deste desporto, considerando a rotina que temos de levar. Por exemplo, o facto de termos de andar com marmitas de comida para todo o lado; hoje em dia isso já é visto como algo "normal", mas há uns tempos atrás era estranho aos olhos da maior parte das pessoas. Contudo, ainda existe um grande estigma em torno do Fisiculturismo. É um desporto que é automaticamente associado aos esteróides anabolizantes e por ser uma modalidade focada no aspecto físico. Porém, é de salientar que os recursos ergogénicos [substâncias utilizadas com o objectivo de melhorar o desempenho desportivo] existem em todos os desportos de alta competição, e não só neste.
CL – Planos para o futuro, tens?
HJ – Para já, o que pretendo para o futuro é continuar a trabalhar em Inglaterra por algum tempo, em conjunto com a minha companheira; investir na minha área, tal como referi anteriormente, e evoluir não só fisicamente, mas como pessoa e profissional. E, quem sabe, competir no estrangeiro...
CL – Que conselho darias a alguém que pense estrear-se neste mundo do Fitness/Bodybuilding?
HJ – Os principais conselhos que dou são: arranjar um bom preparador, de confiança, para dar as directrizes; ter alguns anos de treino e maturidade muscular; fazer este desporto por gosto, e não porque a pessoa "x" ou "y" faz.
CL – Existe alguém a quem gostasses de agradecer?
HJ – Sem dúvida à minha família, que foi um dos apoios fundamentais nesta minha jornada, tal como a alguns amigos, ginásios (XL e Aqui Treina-se), e à minha namorada.
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Marta Ferreira
In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº362 · DEZEMBRO 2020