Numa breve entrevista por escrito ao ‘site’ do Jornal «Correio de Lagos», Carlos Tendeiro, de 41 anos, também advogado há quase seis meses e que desempenha o cargo de presidente da Direção da Associação Sócio-Profissional dos Guardas-Nocturnos, avisa as pessoas, em geral, e os proprietários de estabelecimentos, em particular, para “não perderem os seus pertences de vista, reforçarem a segurança com sistemas de vídeo-vigilância, possuírem alarmes com ligação aos Guardas-Nocturnos, não deixarem fundo [dinheiro] de caixa nas caixas registadoras e que estas fiquem sempre abertas.”
Por outro lado, Carlos Tendeiro, guarda-nocturno há vinte anos, pede “penas mais punitivas e uma justiça mais célere e que quem seja vítima de crimes os denuncie e deseje procedimento criminal”, o que, lembra, “muitas vezes não acontece e leva a que quem comete crimes continuar impune.”
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Correio de Lagos - Além do incidente com um homem alcoolizado durante a Missa do Galo, na Igreja de Santa Maria, em Lagos, na madrugada do dia 25 de Dezembro de 2022, o que obrigou à intervenção de dois agentes da Polícia de Segurança Pública, conforme noticiou o nosso Jornal, como foi a noite de Natal nesta cidade em termos de segurança? Houve assaltos ou tentativas de assalto? Foram detetados, por exemplo, indivíduos vestidos de Pai Natal, em movimentações suspeitas? Registaram-se situações anormais?
Carlos Tendeiro - A noite de Natal foi calma. Os problemas, geralmente, dão-se antes e depois do Natal.
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Correio de Lagos - E como perspetiva a noite de Passagem de Ano?
Carlos Tendeiro - O álcool potencia sempre os problemas, mas acaba por ser como uma noite de Verão, com muitas pessoas na rua, talvez alguns ânimos exaltados.
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Correio de Lagos - Que conselhos deixa aos residentes e visitantes, de forma a garantirem a necessária segurança em tempo de festa?
Carlos Tendeiro - Os conselhos são os de sempre: não perderem os seus pertences de vista, reforçarem a segurança com sistemas de vídeo-vigilância, possuírem alarmes com ligação aos Guardas-Nocturnos, não deixarem fundo de caixa nas caixas registadores e que estas fiquem sempre abertas. Em suma, não facilitar, sendo que na segurança nada se substitui e apenas se complementa.
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“As pessoas devem sempre comunicar às forças de segurança movimentos estranhos”
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Correio de Lagos - Excesso de bebidas alcoólicas, tráfico e consumo de estupefacientes e condução perigosa poderão estragar o ambiente de festivo na entrada em 2023? O que deverá ser feito para evitar problemas?
Carlos Tendeiro - Essa resposta acaba por ser simples: é não conduzir se beber, é não consumir estupefacientes, pois qualquer comportamento desviante será sempre da responsabilidade do seu autor e não das forças de segurança, a quem se tanto aponta o dedo.
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Correio de Lagos - E nas zonas e moradias mais isoladas, que alertas deixa às pessoas nesta altura do ano?
Carlos Tendeiro - Os mesmo que nos anteriores, acrescentando que devem sempre comunicar às forças de segurança movimentos estranhos, pois o combate à criminalidade começa na prevenção, onde cada um de nós, cidadãos, tem um papel fundamental
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O que falta para combater o tráfico e consumo de droga na via pública em Lagos? “Legislação mais punitiva, melhores condições e mais meios para as forças e serviços de segurança”
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Correio de Lagos - Que balanço faz sobre o ano de 2022?
Carlos Tendeiro - Pelo que se vê e se ouve, houve um aumento da criminalidade, inclusive da violenta.
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Correio de Lagos - Numa altura em que tanto se fala sobre tráfico e consumo de droga em plena via pública na cidade de Lagos, com indivíduos de várias nacionalidades, como acha que poderá ser possível controlar esta situação?
Carlos Tendeiro - Com legislação mais punitiva, melhores condições e mais meios para as forças e serviços de segurança.
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Correio de Lagos - Quais são as zonas mais afetadas?
Carlos Tendeiro - Desconheço.
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Correio de Lagos - Falta policiamento em Lagos?
Carlos Tendeiro - A questão poderia ser se há falta de polícias em Lagos, mas não me cabe avaliar tal [situação].
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Riscos com ‘bloom’, a nova droga? “Por dinheiro há quem faça de tudo”...
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Correio de Lagos - A nova droga, conhecida por «Bloom», contribuindo para a violência e que se vende a cinco euros nas esquinas do Funchal, na Madeira, em concorrência ao haxixe e à cocaína, poderá chegar ao Algarve? Que riscos existem?
Carlos Tendeiro - Tudo o que é mais chega a qualquer lado, pois por dinheiro há quem faça de tudo.
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Correio de Lagos - E como prevenir essa situação?
Carlos Tendeiro - A resposta já foi dada anteriormente, ou seja, com legislação e o reforço dos meios para combater esses fenómenos.
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Em Lagos, “temos o vandalismo de ‘grafities’ ou ‘tags’, que só raras as exceções são punidos criminalmente e que deixam a cidade feia e transmitem um sentimento de insegurança”
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Correio de Lagos - Mesmo durante a madrugada há viaturas a circular em contra-mão, bicicletas e trotinetas sem luzes e por cima dos passeios, colocando pessoas em risco. Como poderá ser controlada esta situação?
Carlos Tendeiro - Comportamentos desviantes haverá sempre, as sanções são diversas, mas não me compete, nas minhas funções, avaliar tal, nem intervir, pelo que não poderei opinar acerca da mesma.
A par disso, temos o vandalismo de ‘grafities’ ou ‘tags’, que só raras as exceções são punidos criminalmente e que deixam a cidade feia e transmitem um sentimento de insegurança.
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E o que fazem os guardas-noturnos para garantir a segurança das pessoas
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Correio de Lagos - Qual a sua perspectiva para o ano de 2023 em termos de segurança noturna em Lagos?
Carlos Tendeiro - Com a crise que se avizinha, se não for pior que 2022 já não será mau.
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Correio de Lagos - E para a atividade dos guarda-noturnos?
Carlos Tendeiro - Nós continuamos por cá, com o apoio das pessoas singulares ou coletivas, que são o único suporte da nossa atividade.
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Correio de Lagos - Além de garantirem segurança durante a noite, que outros serviços de apoio prestam à população?
Carlos Tendeiro - Variados, como ajuda a idosos, seja a deitar ou por caírem no domicílio, compra de medicamentos urgentes, deteção de pessoas com problemas do foro neurológico a vaguear nas ruas sem rumo e alerta às autoridades competentes, entrada e saída do domicílio ou estabelecimento comercial em segurança, passando da segurança ao apoio social.
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Correio de Lagos - No seu caso, o que tem feito nesse sentido? A que situações tem ocorrido?
Carlos Tendeiro - A tudo um pouco. Recentemente [ajudei] um senhor visivelmente descompensado que andava sem rumo e que foi possível, com a intervenção da PSP, descobrir a sua residência, garantindo que o mesmo ficasse em segurança.
Por outro lado, [procedi à] detecção de falhas de iluminação de edifícios que contribuem para o meu serviço e que colocam em causa a segurança, e à intercetação de um indivíduo que danificou uma montra, entre outros casos.
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Despesas dos guardas-noturnos, como fardamento, material, viaturas e combustível, são “exclusivamente” da responsabilidade dos próprios
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Correio de Lagos - Qual o salário médio de um guarda-noturno?
Carlos Tendeiro - É algo que não consigo responder, pois cada um ganha o que tiver a ganhar e não tem de ser do conhecimento público.
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Correio de Lagos - E ao nível de despesas, quem paga o fardamento, utensílios, as viaturas e o combustível para as deslocações?
Carlos Tendeiro - Exclusivamente os profissionais.
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Correio de Lagos - Como é a formação de um guarda-nocturno, onde decorre e durante quanto tempo?
Carlos Tendeiro - Estamos desde 2015 à espera que seja regulamentada pelo Ministério da Administração Interna.
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Há três guardas-nocturnos no concelho de Lagos e oito no Algarve. No país, “se houvesse um por freguesia existiriam mais de 3.000, com os claros benefícios para a segurança comunitária e criação de postos de trabalho”
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Correio de Lagos - Quantos guarda-noturnos existem no concelho de Lagos?
Carlos Tendeiro - Três.
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Correio de Lagos - E no Algarve?
Carlos Tendeiro - No Algarve, estimamos que existam oito.
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Correio de Lagos - No país, quantos são?
Carlos Tendeiro - No país já não devemos chegar a 250.
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Correio de Lagos - Quantos guardas-nocturnos são necessários em Portugal?
Carlos Tendeiro - Se houvesse um por freguesia existiriam mais de 3.000, com os claros benefícios para a segurança comunitária e criação de postos de trabalho.
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Correio de Lagos - O que tem de ser alterado em termos legislativos para garantir maior segurança à população e estabelecimentos, e a proteção da profissão dos guardas-nocturnos?
Carlos Tendeiro - Penas mais punitivas e uma justiça mais célere e que quem seja vítima de crimes os denuncie e deseje procedimento criminal, o que muitas vezes não acontece e leva a que quem comete crimes continuar impune.
Na nossa profissão, se estiver como está, está muito bom, apenas falta a formação.
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Repercussões da inflação e crise sócio-económica na atividade dos guardas-nocturnos? “Sendo que a remuneração é feita exclusivamente através da contribuição da população, os reflexos são de imediato notórios, por haver quem não consiga pagar, por vezes, 5 euros mensais”
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Correio de Lagos - Que reflexos têm na atividade dos guardas-nocturnos a crise económica e social e a inflacção em Portugal?
Carlos Tendeiro - Sendo que a remuneração é feita exclusivamente através da contribuição da população, os reflexos são de imediato notórios, por haver quem não consiga pagar, por vezes, 5 euros mensais.
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Correio de Lagos - Há quem esteja a desistir desta actividade?
Carlos Tendeiro - Desconhecemos de momento.