A Universidade do Algarve recebeu, esta terça-feira, cerca de 200 alunos do 3º ciclo de escolas dos concelhos de Loulé, Silves e Albufeira – território do Algarvensis, o aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO – para participarem numa ação de sensibilização sobre recursos hídricos.
Entre apresentações, dança, quizzes e música, mas sobretudo momentos interativos com forte participação dos jovens, foi uma manhã em que se aprendeu muito sobre água: a sua origem, a sua importância para a vida na terra, os riscos e ameaças da sua escassez e da seca severa no atual contexto de alterações climáticas, em particular em regiões como o Algarve. E claro está, a relevância deste recurso natural naquele que é o espaço geográfico do aspirante a Geoparque.
Logo na abertura da sessão, uma “aquametragem” trouxe um pequeno filme sobre o valor da água. Seguiram-se algumas atividades dinamizadas por Manuela Moreira da Silva, docente da UALG, e Cristina Veiga-Pires, coordenadora científica do aspirante Geoparque, ambas com um papel pedagógico e de despertar de consciências ao longo de toda a manhã. “Um terço da população em todo o mundo vive uma realidade distinta da nossa. Por exemplo, em Cabo Verde, muitas meninas, para terem água, têm de a carregar, pois na torneira não corre água”, notou a professora da Universidade.
Por seu turno, os alunos puderam mostrar o seu conhecimento sobre a origem da água que chega às nossas torneiras. Ou aferir o valor direto e indireto do seu consumo de água e quanto custam as suas escolhas, seja em termos de hábitos de limpeza, higiene, alimentação ou vestuário. No concelho de Loulé o valor médio diário é de 189 litros de água por dia e, de entre os participantes, casos houve em que os consumos até surpreenderam pela positiva, ficando mesmo abaixo daquilo que é o ideal: 50 litros diários.
Numa incursão pelo tema da água e da Natureza no Algarve, em particular no território do aspirante Geoparque Algarvensis, Cristina Veiga-Pires falou da importância deste projeto para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável, um geoparque “feito para as pessoas e com as pessoas”. E explicou a evolução deste território que já foi mar na sua totalidade. “É o resultado de uma história geológica e de quatro mares diferentes”. São eles o mar profundo do Oceano Rheic, Mar do Tétis, Mar Tropical do Jovem Oceano e Oceano Atlântico.
Numa região onde existe o aquífero Querença-Silves, a água teve e tem uma importância na criação da própria paisagem, por exemplo em algumas “maravilhas” que aqui existem como a Fonte da Benémola ou a Fonte de Alte. Mas hoje, a seca está a levar ao desaparecimento da biodiversidade e à alteração da própria paisagem, situação que está a merecer um olhar atento por parte deste aspirante a Geoparque, pelo que foi também esse alerta deixado.
O final da sessão foi preenchido pela apresentação dos trabalhos realizados pelas turmas de Loulé, Silves e Albufeira, sobretudo vídeos criativos e posters, apresentados como resposta ao desafio lançado sobre o mote “Como evito o desperdício de água no meu dia-a-dia” ou “A água e os ecossistemas naturais no Algarve”.
Os pequenos gestos do quotidiano, como o fechar a torneira enquanto se lava os dentes ou ensaboa o corpo durante o banho, lavar os carros com baldes em vez de mangueira, reutilizar a água que sobra da cozedura de ovos para regar plantas foram, de resto, algumas das ideias e sugestões retratadas pelos alunos de uma forma lúdica e divertida. Certamente que um dos momentos apresentados mais “fora da caixa” foi a criação da música RAP: “Eu sou a Água”, escrita e composta por alunos de escola de Albufeira e interpretada por um deles.
Coube também aos responsáveis técnicos das três autarquias uma palavra de incentivo aos jovens. Da parte do Município de Loulé, Dália Paulo lembrou que este projeto de território “está assente naqueles que são os objetivos de desenvolvimento sustentável”. “Todos nós – e vocês mais do que nós – temos que fazer a diferença! Estes ODS são aquilo que nos vai garantir ter um Planeta Terra com futuro, e um deles é precisamente o tema da água, que a todos nós nos preocupa!”, considerou.
Já Luís Pereira, de Albufeira, falou de um território que “tem uma preocupação ambiental e de conservação da geodiversidade (das rochas e da paisagem), da biodiversidade (das plantas e da fauna), assente em três grandes pilares – geoeducação, geoconservação e geoturismo”.
Por seu turno, Telma Caroço, do Município de Silves, referiu-se a estes estudantes como “embaixadores da mensagem”. “Vocês são mais jovens, viverão com certeza mais tempo que nós, e esperemos que consigam tentar reparar (ou pelo menos mitigar) os danos, coisa que esta geração mais velha não conseguiu fazer”.
Refira-se que esta foi a atividade final projeto “Biénio para a Ação Climática nos Geoparques Portugueses (2022/2023)” do aspirante Geoparque Mundial da UNESCO – Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira. Trata-se de uma rede que conta com 5 Geoparques Portugueses Mundiais da UNESCO e 3 aspirantes que, através desta ação, pretenderam contribuir para aumentar a consciencialização sobre medidas de mitigação, adaptação e redução dos impactos e alerta precoce no que respeita às alterações climáticas.