Graça Fonseca procedeu à assinatura do Plano de Acção Plurianual para a implementação e gestão daquele equipamento arqueológico, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Aljezur, e prometeu “ao longo dos próximos quatro anos muito trabalho”. Estado resolveu a situação do Ribat da Arrifana ao adquirir agora a propriedade, contribuindo para a concretização da intervenção há muito esperada no local.
«Este plano plurianual de actividades inclui actividades de investigação, de preservação do próprio local, de definição do centro interpretativo e dos seus conteúdos, para serem realizadas nos próximos quatro anos. Eu destaquei o centro interpretativo porque vai ser uma realidade em 2025. Mas, ao longo dos próximos quatro anos será feito muito trabalho e, naturalmente, a parte da investigação será fundamental», afirmou a ministra da Cultura, Graça Fonseca, após a assinatura do documento com vista à implementação e gestão do Centro Interpretativo do Ribat da Arrifana, numa cerimónia que decorreu, na tarde do dia 26/11/2021, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Aljezur.
O plano surge na sequência do protocolo já assinado, em 2019, entre o Ministério da Cultura, o Município de Aljezur, a Universidade Nova de Lisboa e a Fundação Aga Khan para a Cultura, que estabeleceu os princípios para a implementação de uma parceria estratégica para efeitos da investigação, da preservação, do desenvolvimento e da divulgação daquele importante sítio arqueológico, que estava localizado em propriedade privada. O Estado resolveu a situação ao adquirir agora a propriedade, permitindo assim seguir o plano acordado, o que contribui para um importante passo para a concretização da intervenção há muito esperada naquele local, dada a sua relevância histórica.
“Ainda não temos um orçamento fechado, mas serão cerca de dois milhões de euros” (arqueólogo Rui Parreira ao CL)
O processo com vista ao Centro Interpretativo do Ribat da Arrifana “já começou. Agora, vamos ter de desenvolver ao longo de quatro anos mais trabalhos. Vai ser feita a valorização do sítio, a requalificação de percursos e a instalação de um Centro Interpretativo a construir de raiz no próprio local”, disse, ao ‘Correio de Lagos’, Rui Parreira, arqueólogo da Direcção Regional de Cultura do Algarve. Em relação a custos, avançou: “Ainda não temos um orçamento fechado, mas serão cerca de dois milhões de euros”. “É uma valorização para o concelho, é muito importante para o turismo e passa a ser um ponto de referência do património do Algarve, também”, destacou aquele especialista.
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“É um grande momento para Aljezur, para a região e para o país, porque é o património nacional que é a nossa História” (presidente da Câmara Municipal, José Gonçalves)
Já o presidente da Câmara Municipal de Aljezur, José Gonçalves, até suspirou de alívio com este protocolo, em que está definitivamente consagrado o futuro Centro Interpretativo do Ribat da Arrifana. “É um grande momento para Aljezur, para a região e para o país, porque é o património nacional que é a nossa História”, reconheceu, em declarações a jornalistas, acrescentando: “Aljezur perseguiu sempre esta possibilidade, foi escavado durante uma série de anos aquele espaço, com a Universidade Nova de Lisboa. A nossa posição foi a partir de determinada altura que, efectivamente, a propriedade tem de ser do Estado. E o Estado cumpriu essa parte, conseguiu chegar a bom porto com esse assunto e para nós foi o passo fundamental. O espaço merece, é fabuloso, pela sua história e pelo património que ali está, mas também pela localização em termos de paisagem. É um sítio maravilhoso junto à costa e nós vamos desenvolver todos os esforços de colaboração que são da nossa responsabilidade com o projecto, para que seja uma realidade a bem de todos”.
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Futuro pólo de atracção turística do Algarve
O autarca não tem dúvidas de que o Centro Interpretativo do Ribat da Arrifana será um pólo de atracção turística neste concelho do barlavento algarvio.“O turismo de Aljezur tem na cultura, no património, a sua mais-valia. Há uma parte substancial de turistas que vem até fora da época de Verão visitar estas paragens. Já temos o nosso castelo, que é também um monumento nacional e que agora está sob a alçada e gestão da autarquia, e este espaço (o Ribat da Arrifana) que, efectivamente, é um dos mais importantes achados arqueológicos do género na Península Ibérica e vai seguramente despertar muita curiosidade e muito interesse aos visitantes”, sublinhou José Gonçalves.
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No ano de 2025 “poderá ser possível visitar o que eram as escavações, o que era, efectivamente, aquela vivência daquele local, com painéis interpretativos e outros aspectos. É isso que está a ser preparado com um caderno de encargos para avançar com a obra”
E o que vai ser feito em concreto nos próximos quatro anos neste local? - questionou o ‘CL’. “A propriedade é do Estado, agora, foi feita uma primeira intervenção de limpeza, de consolidação de pequenos muretos que lá estão e vão começar a trabalhar, segundo uma mapa de trabalhos que existe, na consolidação das estruturas, pôr outras à vista, identificá-las e, obviamente, depois tornar o espaço visitável, protegendo-o também” - explicou o presidente da Câmara Municipal de Aljezur.
Em 2025 “poderá ser possível visitar o que eram as escavações, o que era, efectivamente, aquela vivência daquele local, com painés interpretativos e outros aspectos. É isso que está a ser preparado com um caderno de encargos para avançar com a obra”, referiu.
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Classificado como Monumento Nacional, o Ribat da Arrifana é considerado por muitos investigadores que se dedicam ao estudo da presença islâmica medieval no Ocidente, como uma das mais importantes descobertas arqueológicas do século XXI
Localizado na Ponta da Atalaia, a norte da povoação da Arrifana, o denominado Ribat da Arrifana está classificado como Monumento Nacional e é considerado por muitos investigadores que se dedicam ao estudo da presença islâmica medieval no Ocidente, como uma das mais importantes descobertas arqueológicas do século XXI.
As pesquisas histórico-arqueológicas indiciam que “este local teve um papel relevante num movimento de matriz sufi, de existência efémera, que se impôs no extremo Sudoeste do Gharb al-Ândalus e está bem identificado nas fontes escritas do século XII. Esse movimento foi liderado por Ibn Qasi, chefe (mahdi) da oposição aos Almorávidas e temporariamente aliado do rei D. Afonso Henriques.” “O complexo construtivo terá começado a ser edificado em data próxima a 1130 da era cristã, por iniciativa de Ibn Qasi. Da sua morte, em 1151, provavelmente resultante de uma conspiração interna, terá resultado a quebra do movimento e a desagregação da comunidade religiosa aqui residente, com o definitivo abandono do Ribāt em data muito pouco posterior”, assinalam investigadores.
“O Ribāt da Arrifana constitui um raro complexo edificado que testemunha um episódio excepcional na trajetória histórica do território, hoje, português, diretamente relacionado com a afirmação de Portugal como Estado soberano; a curta ocupação do local, balizada por testemunhos literários e confirmada na cronologia atribuída aos materiais descobertos. E o excepcional estado de conservação das estruturas e depósitos associados, fazem deste monumento um local de excelência para o estudo da presença islâmica no território que haveria de, um século mais tarde, cair sob domínio cristão”, acrescentam os documentos.
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“Aquele local era onde os monges guerreiros preparavam a jihad, faziam as suas rezas”
O edil aljezurense, José Gonçalves, salienta, a propósito, a importância história do espaço. “Aquele local era onde os monges guerreiros preparavam a jihad, faziam as suas rezas. O Ibn Qasi era um homem de famílias muito ricas, mas foi para ali converter-se à pobreza. Fez o voto de pobreza, viviam de uma maneira muito modesta e preparavam-se para a guerra santa. E rezavam. Existem ali, efectivamente, estruturas que indicam essas situações, nalguns artigos já publicados até da autoria da doutora Rosa Varela Gomes, enquanto arqueóloga responsável que explica muito bem o que era aquele espaço. É um promontório fabuloso, com uma localização muito interessante e que vai dignificar Aljezur, a região e o país.”
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Castelo de Aljezur vai passar para a gestão da Câmara Municipal, que aposta em visitas, momentos musicais e cultura
Por outro lado, o autarca anunciou, ao nosso Jornal, a sua aposta no Castelo de Aljezur, em 2022: “Foi feito o auto de consignação, que ainda não está assinado e homologado por quem tem de direito [a Direcção Regional de Cultura do Algarve]. Vai passar para a nossa alçada em termos do que é a gestão do próprio espaço. A ideia inicial é conservá-lo e vamos ver ao nível de alguma rentabilização, se assim se pode dizer”. E como poderá ser rentabilizado? “Pode rentabilizar-se de várias maneiras. Para já, tratando dele convenientemente, conservando-o, permitindo a visitação e, acima de tudo, que possam ser valorizadas lá algumas iniciativas. O espaço não é muito grande para se fazerem exposições. Mas pode haver iniciativas, como já houve no passado, com momentos musicais, pequenos momentos culturais, um circuito mais bem preparado”, perspectivou José Gonçalves. As obras de conservação do Castelo de Aljezur terão de ser sempre submetidas a parecer da Direcção Regional de Cultura do Algarve.