Reunião na Câmara Municipal de Vila do Bispo serviu para o fazer o ponto da situação e até surpreendeu o deputado algarvio do Bloco de Esquerda, João Vasconcelos, para quem “isto é mais grave do que eu pensava”
“Isto é mais grave do que eu pensava!” - assim reagiu o deputado algarvio do Bloco de Esquerda, João Vasconcelos, em declarações ao «correiodelagos.online», após ter participado, na segunda-feira, 10 de Fevereiro, numa reunião, à porta fechada, na Câmara Municipal de Vila do Bispo, onde foi feito o ponto da situação sobre o projecto da nova aquacultura para crescimento/engorda de mexilhão, em mar aberto, num total de 282 hectares, entre as praias da Salema e das Furnas.
O encontro contou com a presença do presidente do executivo camarário, Adelino Soares, e o da Junta de Freguesia de Budens, Fábio Mateus, dirigente da Associação de Armadores de Pesca de Sagres e da Organização de Produtores da Pesca de Cerco – Barlapescas, representante da Associação de Pesca Artesanal do Barlavento Algarve, presidente da Associação de Mariscadores de Vila do Bispo, Paulo Lourenço, e outro de uma empresa de observação de golfinhos.
“Extermínio dos bancos de peixe”
Surpreendido com aquilo que ouviu, o deputado João Vasconcelos reconhece ter ficado “com mais informação” sobre o que considera “o extermínio dos bancos de peixe” existentes naquela zona do concelho de Vila do Bispo, desde sardinhas, carapaus e polvos, até abróteas, lulas e cavalas, entre muitas outras espécies, “com malefícios para os pescadores da pesca artesanal que exercem a sua atividade nestas águas”. Tudo aquilo de que agora tomou conhecimento, vai permitir-lhe poder confrontar o secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, cuja presença aguarda na Assembleia da República, a pedido do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
Nessa altura, que o deputado João Vasconcelos espera “muito brevemente”, o governante, recorde-se, irá pronunciar-se sobre uma aquacultura projectada na zona da Culatra, Ria Formosa, que conta também “com vários pareceres negativos”, e será, também, questionado acerca do novo projecto aquícola naquele concelho do barlavento algarvio.
“Vamos pressionar o secretário de Estado José Apolinário e os pescadores irão mobilizar-se”
“Vamos pressionar o secretário de Estado José Apolinário para evitar esta nova aquacultura. Os pescadores de Sagres, da Salema e de Burgau, no concelho de Vila do Bispo, estão muito revoltados e irão mobilizar-se também contra aquilo que, a concretizar-se, irá destruir a vida de muita gente”, sublinhou o deputado.
Por outro lado, João Vasconcelos aguarda “pareceres da Associação do Portuguesa do Ambiente, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, da Reserva Ecológica Nacional e do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina” sobre o assunto que tanta polémica está a provocar no concelho de Vila do Bispo.
Autarca de Budens aguarda resposta à contestação apresentada ao edital da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos
Entretanto, Fábio Mateus, presidente da Junta de Freguesia de Budens, área abrangida com aquele projeto de aquacultura, admitiu ao «correiodelagos.online», que “até final do mês de Março” espera “resposta” à contestação apresentada pela autarquia, nomeadamente com base no relatório da Universidade do Algarve, ao edital da Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e dos Serviços Marítimos, relativo à instalação da referida aquacultura a denominar ‘Finisterra2’, numa área total de 282 hectares entre a Ponta do Barranco e a Praia da Salema.
Secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, apenas aconselhou autarcas a “responder” ao edital
Já o secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, mantém-se em silêncio perante aquele projecto, segundo apurou o «Correio de Lagos», tendo-se limitado a dizer aos autarcas do concelho de Vila do Bispo para “responder” ao edital publicado pela Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos.
Aguardam-se, pois, os próximos capítulos de um assunto que está a ser aguardado com muita expectativa e um sentimento de revolta dos autarcas e pescadores daquele concelho da costa vicentina.
Carlos Conceição e José Manuel Oliveira