(Z1) 2020 - CM de Vila do Bispo - Um concelho a descobrir

“Em cima da hora não se ganham eleições e os candidatos arriscam-se a ser ‘queimados’”

“Em cima da hora não se ganham eleições e os candidatos arriscam-se a ser ‘queimados’”

O presidente do PSD, Rui Rio, veio a Faro explicar aos militantes a “metodologia” do partido e o trabalho de casa para conquistar câmaras municipais em 2021.

“Onde não somos poder nas autarquias, vamos começar a analisar a situação de cada concelho para ver com os candidatos as soluções a apresentar ao eleitorado”, disse. Reconheceu falhas do partido nos últimos anos, apontou os caminhos para a regionalização e anunciou que o próximo Conselho Nacional dos sociais-democratas a realizar em Abril/Maio de 2020 terá lugar no Algarve.

 

“Em cima da hora não se ganham eleições e dessa forma os candidatos arriscam-se a ser ‘queimados’”. Foi este um dos recados do presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio, ao militantes na sexta-feira, 21 de Fevereiro, à noite, no auditório da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, situada no Largo de São Francisco, em Faro, para anunciar a “metodologia de trabalho” com vista às eleições autárquicas que terão lugar no último trimestre de 2021, a preparação a longo prazo para a campanha eleitoral e escolha dos candidatos aos órgãos municipais em cada concelho.

 

A presença de Macário Correia e a ausência de Rui André

Numa intervenção que se prolongou por mais de uma hora e meia, a encerrar a sessão da tomada de posse dos dirigentes dos vários órgãos da Distrital de Faro para os próximos dois anos, mantendo-se David Santos na liderança da comissão política, Rui Rio indicou à plateia os trabalhos de casa a fazer para tentar vencer as próximas eleições autárquicas.

Isto, num encontro em que, entre outros, estiveram presentes Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, Francisco Amaral, antigo presidente da Câmara Municipal de Alcoutim e actual presidente da de Castro Marim, José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Maria Conceição Cabrita, presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Macário Correia, ex-presidente das câmaras de Tavira e da capital algarvia, e Luís Gomes, ex-presidente da Câmara de Vila Real de Santo António. Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique há três mandatos consecutivos, não podendo por isso recandidatar-se, mandou dizer que não podia estar presente. O autarca foi apoiante de Luís Montenegro nas recentes eleições para a liderança nacional do PSD, de que saiu vitorioso, à segunda volta, Rui Rio.

 

Comissão Autárquica Nacional irá coordenar trabalho de preparação com os militantes e candidatos em cada concelho

Depois de reconhecer que o PSD tem “vindo a cair” ao nível das autarquias nos últimos anos, “seja nas freguesias, seja nas Assembleias Municipais, seja nas Câmaras Municipais”, Rui Rio apontou a estratégia para inverter esta situação. “Vamos delinear rapidamente esse trabalho, nomear uma Comissão Autárquica Nacional, órgão informal, liderado pelo secretário-geral do partido. Onde não somos poder nas autarquias, vamos começar a analisar a situação de cada concelho para ver com os candidatos” as soluções a apresentar ao eleitorado”, afirmou o presidente do PSD, considerando haver uma “chance muito grande com esta metodologia de trabalho” para conquistar autarquias.

 

“As freguesias são muito importantes” para ganhar câmaras municipais

Rui Rio insistiu que com uma “campanha de preparação, articulação entre autarcas e eleitores, um trabalho coordenado”, o PSD terá “algumas portas abertas” para voltar ao poder. A ideia é começar a fazer, desde já, o trabalho de casa, “visitar bairros sociais, investidores, instituições” para quando chegar a campanha eleitoral para as eleições autárquicas em 2021, “já haver entrosamento e dinâmica” entre militantes, candidatos do partido e os eleitores.

“As freguesias são muito importantes”, sublinhou o líder nacional do PSD, considerando que com esse trabalho de base, de proximidade que exige agora aos militantes e autarcas em cada concelho, “para a câmara haverá mais hipóteses de ganhar”.

Nesta fase do seu discurso, que acabou por se tornar repetitivo, Rui Rio pretendeu, acima de tudo despertar consciências e deixar o recado para o tal trabalho de casa a fazer com a devida antecedência. “Com a coordenação por parte da Comissão Autárquica Nacional e o entrosamento entre eleitos locais em cada concelho, vamos aferir como está a andar a câmara municipal, o que falta, como oposição o que falhámos, como fazer melhor, para quando chegar a campanha eleitoral já dispormos de informação nos concelhos e podermos avançar”, reforçou o presidente do PSD, para quem “em cima da hora não se ganham eleições” e “os candidatos arriscam-se a ser ‘queimados’”.

 

Presidente do partido poderá assumir responsabilidade na escolha de candidatos nas concelhias onde não houver consensos

Por outro lado, Rui Rio prometeu “autonomia” às concelhias do PSD na escolha dos candidatos às autarquias, num trabalho de enquadramento com as distritais. Mas num quadro em que se perceba que “não é possível” existir consenso, será “a Comissão Nacional” do partido “que terá de assumir” a responsabilidade nesse processo. Ou seja, poderá até ser o próprio presidente, Rui Rio, a ter a última palavra sobre figuras a encabeçar listas em concelhos onde a situação se afigure mais complicada. Contudo, como reconheceram ao «Correio de Lagos» vários autarcas algarvios ainda é prematuro falar em nomes de candidatos.

        

A saúde como trunfo eleitoral do PSD no Algarve

O trabalho de base que o PSD pretende com vista às eleições autárquicas em 2021, obrigará o partido a criar estruturas de apoio em várias áreas com as distritais para analisar problemas e apresentar soluções. Rui Rio apontou como exemplo o sector da saúde no Algarve, onde a Comissão Política Distrital vai nomear uma comissão instaladora nessa área. “É absolutamente vital haver pessoas disponíveis para a vida cívica”, apelou o líder social-democrata, para em seguida admitir que se tornem militantes do partido, lembrando, nesse sentido, a importância nomeadamente de médicos e enfermeiros.

 

A perda de protagonismo do PSD nos últimos anos em temas sociais e a necessidade de “ser teimosos, é preciso convicção” na questão do ambiente e do aquecimento global

Noutra parte da sua intervenção, Rui Rio lembrou o “engenheiro Macário Correia, então secretário de Estado do Ambiente” (num dos governos do primeiro-ministro Cavaco Silva - n. d. r.) para destacar o protagonismo assumido, nessa altura, pelo partido em temas da sociedade como neste caso o ambiente. “Nos últimos anos, essa vontade baixou um pouco”, reconheceu, referindo-se a “pergaminhos” do partido, entretanto perdidos, e destacando a importância de um tema da atualidade como as alterações climáticas. “O ambiente é mais importante para nós do que era há 40 anos atrás”, observou Rui Rio, desafiando o partido “a voltar a estar na frente” em temas como este e no “combate ao aquecimento global.” “Temos de ser teimosos, é preciso convicção”, reforçou.

A regionalização foi outro dos temas abordados pelo líder do PSD para dizer que não é contra. Porém, defendeu a “descentralização e a desconcentração” como patamares até atingir a regionalização. “Vai ter de ser assim”, vincou Rui Rio, frisando ser esta a forma “para unir e não para separar”. Ao mesmo tempo, defendeu “mais autonomia” e “mais competências” às Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDRs), apelando a uma “reflexão sobre o tema.”

 

“O governo tem a obrigação de cumprir o mandato de quatro anos. Não sei se vai ter força para isso”

Em noite de recados para o interior do seu partido, Rui Rio aproveitou para deixar também alguns ao governo liderado pelo socialista António Costa. “Tem a obrigação de cumprir o mandato de quatro anos. Não sei se vai ter força para isso. Este governo quando tomou posse já parecia cansado e não teve estado de graça que normalmente se tem nos primeiros seis meses”, observou. “É o maior governo de Portugal”, ironizou o presidente do PSD, numa alusão ao número de ministros e de secretários de Estado. E insistiu: “O governo deve estar em funções durante quatro anos, senão é por incapacidade.”

 

“Desgaste” e “dramatização”

Depois de notar que António Costa já não conta com o Bloco de Esquerda e com o PCP como parceiros com o mesmo compromisso como sucedeu no anterior governo, conhecido pela ‘geringonça’, Rui Rio apontou o Orçamento de Estado para 2020 para destacar que “o governo andou a buscar apoio aqui e acolá” para aprovar o documento. E apontou para “desgaste” e “dramatização” para alcançar objetivos, lembrando nesse sentido as negociações com os professores e o IVA para a eletricidade.

Por outro lado, aproveitou o impacto mediático nos últimos dias sobre casos ligados à justiça, envolvendo suspeitas contra juízes em sentenças, para voltar a apelar à “reforma da justiça para evitar” casos desta natureza. “A confirmarem-se notícias sobre sentenças ‘compradas’, mais grave não pode ser”, lamentou. 

 

Próximo Conselho Nacional do PSD, em Abril/Maio de 2020, será no Algarve. “Vocês merecem!” - vincou Rui Rio

Rui Rio concluiu a sua longa intervenção com o anúncio de que terá lugar no Algarve “o próximo Conselho Nacional do PSD, a realizar em Abril/Maio de 2020”. “Houve um Conselho Nacional em Bragança. É justo que o próximo Conselho Nacional seja no Algarve. Vocês merecem!”, assinalou, o que lhe permitiu ouvir aplausos. “Bragança é longe? O Algarve é longe? Não é. É normal onde tudo acontece dizerem que é longe”, vincou Rui Rio, numa alusão ao facto de a maioria das grandes reuniões partidárias ocorrerem em Lisboa. E ouviram-se mais palmas no auditório. Pouco depois, pelas 23h00, Rui Rio encerrou a sessão, ao som de mais aplausos. Ficaram os recados para começar já o trabalho de casa com vista às próximas eleições autárquicas, em 2021.

 

Carlos Conceição e José Manuel Oliveira

“Em cima da hora não se ganham eleições e os candidatos arriscam-se a ser ‘queimados’” - 1“Em cima da hora não se ganham eleições e os candidatos arriscam-se a ser ‘queimados’” - 1“Em cima da hora não se ganham eleições e os candidatos arriscam-se a ser ‘queimados’” - 1
  • PARTILHAR   

Outros Artigos