No âmbito do Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral (AVC), que se assinala a 31 de Março, a Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos alerta para a situação em que sobreviventes de AVC vivem e a falta de cuidados prestados. Esta doença é principal causa de morte e incapacidade em Portugal.
O inquérito realizado entre os dias 4 e 17 de Março, ao qual responderam 823 sobreviventes de AVC, centrado no período que vai do último Outono/Inverno até ao presente, revela que apenas um terço teve consultas médicas previstas para o seguimento após o AVC de forma habitual, 29% apenas teve acesso a teleconsulta, e 38% dos casos não teve acesso a nenhuma das formas alternativas, tendo as consultas sido canceladas ou a aguardam ainda marcação.
A Portugal AVC - União de Sobreviventes, Familiares e Amigos, defende que: «A falta de acompanhamento das pessoas que sofreram um AVC assume particular gravidade, já que essas consultas podem ser fundamentais para prevenir novos episódios, evitar outras complicações de saúde e enquadrar os cuidados de reabilitação adequados». Destaca também o facto de que «apenas um quarto dos sobreviventes a realizar tratamentos de reabilitação os retomaram de forma idêntica à pré-pandemia, sendo que 55% das pessoas não conseguiu ainda retomar a reabilitação, e 19% fez menos tratamentos do que o planeado». A União considere este um dado grave, «dada a grande importância que os cuidados de reabilitação têm nesta patologia». Uma parte muito significativa (41%) dos inquiridos que deles beneficiam ou beneficiavam, refere ter agora maiores dificuldades na movimentação e/ou comunicação do que antes deste período.
António Conceição, Presidente da Associação, explica que: «A reabilitação de um sobrevivente de AVC está dependente de dois pontos essenciais: os cuidados de fase aguda hospitalares e os cuidados de acompanhamento e de reabilitação. Estes foram significativamente afectados durante a pandemia, o que é deveras preocupante». Acrescenta ainda que: «A falta continuada de uma estratégia que permita uma reabilitação eficaz, coordenada e multi-disciplinar, vem tendo consequências desastrosas na saúde e na funcionalidade dos sobreviventes de AVC, amputando a sua probabilidade de uma recuperação funcional, levando à diminuição da integração socio-familiar e profissional, com custos incalculáveis para o bem-estar físico e mental de todos os envolvidos, e mesmo financeiro, inclusive do próprio Estado». Segundo a Associação, aos responsáveis foi já dado conhecimento dos resultados detalhados do inquérito realizado.
A Portugal AVC chama também a atenção para a importância da Via Verde, quando ocorre o AVC: «É essencial que se mantenha plenamente funcionante, pelo seu enorme impacto na redução da incapacidade e da mortalidade. E que a população saiba que, mesmo no período de excepção que vivemos, deve de imediato ligar para o 112, quando acontece», refere António Conceição.
O Acidente Vascular Cerebral, com cerca de 25 mil episódios de internamento por ano, é a maior causa de incapacidade no nosso país, atingindo todas as idades e géneros. Entre as múltiplas sequelas possíveis estão as físicas e motoras (mais visíveis), mas também as consequências na capacidade de comunicação, no campo cognitivo, psicológico, de visão, entre outros.