São muitos os casais para quem o sonho de ter um filho não se vai concretizar. São, ao todo, 15% os casais que sofrem de infertilidade, ou seja, são incapazes de conseguir uma gravidez após 12 meses de relações sexuais desprotegidas e regulares. Nuno Louro, urologista e andrologista, indica que “o factor masculino está presente, isoladamente, em 20% dos casos e, como cofactor, em 30 a 40% das situações”. Uma distribuição, acrescenta o especialista, que “leva à conclusão que as causas de infertilidade são equitativas entre os dois géneros em termos percentuais, pelo que ambos os elementos do casal devem iniciar a avaliação médica simultaneamente”. É para a necessidade desta avaliação que a Associação Portuguesa de Fertilidade alerta, no Mês de Sensibilização para a Saúde do Homem.
“A presença de um factor masculino na infertilidade conjugal é muito frequente”, confirma Nuno Louro, “mas não deixa de constituir uma surpresa quando é diagnosticada”. “A maioria não estaria a prever que o problema fosse deles, ou também deles, provavelmente porque socialmente continua a ser visto como um problema maioritariamente da mulher”, sublinha, até porque, acrescenta, “a sexualidade e a paternidade são dos pilares mais fortes em que assenta a ideia da masculinidade e, quando são abalados, todo o edifício fica em risco de ruir”.
É importante, por isso, que os homens “percebam que ser infértil não os define como pessoas nem como homens e que é apenas uma condição médica que, juntos, tentarão ultrapassar”. O que nem sempre é fácil, uma vez que “os homens têm frequentemente alguma dificuldade em exprimir as suas dúvidas e emoções, muitas vezes porque sentem que têm que ser o elemento forte do casal, o que os impede de manifestar as suas angústias, tornando este percurso mais penoso. Em última análise, é um problema do casal e assim deve ser entendido, sem necessidade de atribuir culpas, e é juntos que devem percorrer o caminho da luta contra a infertilidade, com a maior tranquilidade possível, de forma a que o desfecho, seja ele qual for, não coloque em risco o relacionamento conjugal ou a sua perceção como indivíduo e o seu lugar na família e na sociedade”, reforça.
Cerca de 30 a 40% dos casos de infertilidade consideram-se idiopáticos, ou seja, de causa desconhecida. Ainda assim, há factores que podem influenciar a infertilidade no homem e que são conhecidos. “A produção de espermatozoides pelo testículo depende de uma adequada estimulação hormonal, da responsabilidade de duas glândulas cerebrais, o hipotálamo e a hipófise. Por outro lado, o próprio testículo tem que estar funcional, de forma a responder a essa estimulação com a produção de testosterona (uma das hormonas essenciais para a espermatogénese) e de espermatozóides em número adequado e função íntegra”, explica Nuno Louro.
“Após a sua produção, os espermatozoides têm que ser conduzidos por um sistema de ductos e expelidos na ejaculação” e são várias as condições, “genéticas ou adquiridas, que, por perturbarem qualquer um destes processos, podem levar a infertilidade masculina”. As mais comuns “são a presença de varicocelo (dilatação das veias espermáticas, que drenam o testículo), as alterações congénitas, como a criptorquidia (situação em que os testículos não estão na bolsa escrotal ao nascimento e que frequentemente necessitam de cirurgia para o seu posicionamento correto), o hipogonadismo (seja de causa genética ou com outra etiologia), a exposição a gonadotóxicos, as doenças sistémicas (neoplasias ou outras) e as alterações da ejaculação”.
Mas para as identificar, é necessária uma avaliação masculina no casal infértil, “de forma a permitir a melhoria da fertilidade e uma potencial conceção espontânea, a identificação de condições irreversíveis mas em que é possível utilizar o esperma do próprio em técnicas de procriação medicamente assistida (PMA), a identificação de condições irreversíveis nas quais não é possível a utilização dos gâmetas do próprio, a identificação de condições clínicas subjacentes potencialmente graves (como as neoplasias do testículo ou da hipófise) e a identificação de condições genéticas que possam afectar a saúde da descendência, no caso de utilização de técnicas de PMA”.
Sobre a APFertilidade:
A Associação Portuguesa de Fertilidade (APFertilidade) foi legalmente constituída no dia 20 de Maio de 2006, na sequência de um movimento cívico protagonizado por pessoas com problemas de fertilidade. Duas décadas após o início da Procriação Medicamente Assistida (PMA) em Portugal, período marcado pela distribuição desigual dos centros de tratamento, pela ausência de legislação específica, pela limitação no acesso a diversas técnicas, pela falta de informação e por um manifesto desinteresse pelas questões (médicas, psicológicas, sociais e económicas) relacionadas com esta doença, a APFertilidade nasceu como um projeto fundamentalmente destinado a apoiar, informar e defender esta comunidade.