Hunter Halder, voluntário, fundador do movimento Refood e presidente da direção da Re-Food 4 Good, associação que dá figura jurídica e suporte formal às atividades desenvolvidas, esteve na passada sexta-feira no auditório dos Paços do Concelho Séc. XXI, no âmbito de uma sessão informativa que teve como objetivos envolver a comunidade local na missão do movimento e contribuir para a dinamização do núcleo de Lagos.
Em representação da autarquia, a vereadora Sara Coelho deu as boas vindas aos participantes, recordando a recente decisão de cedência de instalações, por parte do município, à Refood, algo que só não aconteceu antes pelo facto de todos os edifícios e espaços municipais estarem ocupados, por serem imediatamente atribuídos a associações à medida que vão ficando vazios e disponíveis para receber novos usos, acrescentando ainda que esta decisão é sinal de que o município acredita no projeto. Deixando uma palavra de reconhecimento às voluntárias que estão a coordenar o movimento no concelho de Lagos e a todos os voluntários que dão parte do seu tempo em prol dos outros sem nada esperar em troca, a autarca referiu igualmente a importância da Associação Re-Food 4 Good ter passado a integrar a Rede Social de Lagos, uma vez que se traduz numa resposta complementar às respostas sociais já existentes no concelho.
Voluntários é, também, segundo Hunter Halder, “o elemento chave que põe o motor a andar”. Explicando por que razão a Refood funciona em todos os locais, o fundador do movimento referiu as condições que, sendo universais, acontecem em todo o mundo: excesso de comida ou desperdício, o que faz com que os alimentos percam o seu valor comercial, mas não o seu valor nutricional; pessoas a passar dificuldades; e boa vontade, a qual faz com que cada voluntário, ao disponibilizar duas horas por semana do seu tempo, contribua para alimentar dez pessoas de cada vez. Hunter explicou, igualmente, a forma como tudo se processa e encaixa, pois, se num primeiro momento o que a Refood faz é criar uma alternativa para os produtores, comerciantes e estabelecimentos não terem de jogar no lixo os seus excedentes alimentares, recolhendo os mesmos no momento certo, depois há todo um trabalho de preparação e composição dos cabazes, adequando os mesmos às necessidades dos utentes, em termos de quantidade, qualidade e diversidade. O último momento do processo corresponde à entrega dos alimentos aos beneficiários, sendo que neste contacto são por vezes identificadas outras necessidades, que encaminham para as várias entidades da Rede Social mais aptas a responder às respetivas especificidades. Assim, para o “pai” da Refood, tão importante como resgatar alimentos que se iriam perder e alimentar as pessoas que têm necessidades é a missão de incluir a comunidade, um vetor que orienta toda a estrutura organizativa do próprio movimento, onde as decisões são tomadas de forma participada, com independência, debate e consenso, e orientada por princípios de sustentabilidade social, ambiental e financeira.
Desde o seu arranque como projeto de bairro, lançado em 2011 no centro de Lisboa, com 30 restaurantes parceiros (fontes de alimentos) e duas paróquias (que ajudaram na identificação de potenciais beneficiários), permitindo recolher cerca de 1 000 refeições por mês e assegurar apoio a cerca de 40 a 45 pessoas, até à dimensão que o movimento atualmente tem, com 65 núcleos, que são uma ferramenta social de democracia, 2 000 parceiros, 7 817 voluntários, 8 000 beneficiários, e 2,5 milhões de refeições que vão alimentar pessoas em vez de se transformarem em desperdício e resíduos, o impacto é expressivo.
A Reunião Sementeira de 10 de maio, organizada pela Refood, contou também com a presença de voluntárias do Núcleo de Faro e foi animada por José Francisco, jovem músico algarvio que interpretou alguns temas, entre os quais o seu mais recente trabalho, intitulado “Não vás”, que irá ser em breve lançado.