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Estudo da Universidade de Coimbra identifica variáveis que controlam efeitos da seca nos ribeiros

Estudo da Universidade de Coimbra identifica variáveis que controlam efeitos da seca nos ribeiros

Um estudo coordenado pelo Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) identificou quais os fatores que controlam os efeitos da seca no funcionamento dos ribeiros.

Neste estudo, denominado “A meta-analysis of drought effects on litter decomposition in streams”, foi ainda possível quantificar a relação entre a inibição da decomposição dos detritos vegetais e a percentagem de redução nos caudais ou a percentagem de número de dias com leito seco.

A líder do estudo, Verónica Ferreira, investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da FCTUC, explica que, entre as diversas variáveis estudadas, foi possível verificar «que o tipo de comunidade aquática envolvida no processo de decomposição dos detritos vegetais condiciona a sua resposta à redução de caudal natural (sem intervenção humana direta), havendo uma inibição mais forte deste processo, em cerca de 54%, quando a decomposição é realizada conjuntamente pelos microrganismos e pelos invertebrados do que quando a decomposição é realizada apenas pelos microrganismos, sendo a inibição neste caso de cerca de 22%».

O clima foi outras das variáveis identificadas, tendo-se concluído que «condiciona a resposta da decomposição de detritos à redução de caudal de origem humana (por exemplo, em resultado da abstração de água para consumo ou agricultura), sendo a inibição deste processo mais forte em climas quentes e húmidos (inibição de 66%) do que em climas temperados e Mediterrânicos (inibição de 33 e 36%, respetivamente)», revela Verónica Ferreira, acrescentando que foi também quantificada «a relação entre a inibição da decomposição dos detritos vegetais e a percentagem de redução nos caudais: por exemplo, uma redução de caudal de 10% inibe a decomposição de detritos em 6%, uma redução de 50% inibe a decomposição em 32% e uma redução em 80% inibe a decomposição em 46%».

Para alcançar o principal objetivo desta investigação, nomeadamente identificar quais as variáveis que podem mitigar ou exacerbar os efeitos dos períodos de seca no funcionamento dos ribeiros, a equipa da FCTUC utilizou a meta-análise para compilar toda a evidência científica sobre os efeitos dos períodos de seca no processo de decomposição de detritos vegetais (folhas, ramos, etc.) em ribeiros, um processo fundamental já que sustenta a cadeia alimentar aquática e tem um papel importante nos ciclos dos nutrientes e do carbono.

A investigadora do MARE realça ainda que os resultados conseguidos «permitem perceber que os ribeiros onde os invertebrados sejam naturalmente abundantes e desempenhem um papel importante na decomposição de detritos vegetais terão o seu funcionamento (aqui medido pelo processo de decomposição de detritos vegetais) mais afetado num contexto de aquecimento global que leve à redução do caudal em comparação com ribeiros onde os invertebrados sejam naturalmente pouco abundantes. Esta informação poderá ajudar a identificar ribeiros mais sensíveis e que necessitem de medidas de mitigação», conclui.

Esta investigação contou com a participação do MARE, do Laboratório Associado ARNET e também com a Universidade do País Basco (UPV/EHU), em Espanha.

O artigo científico está disponível aqui.

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