Artigo de opinião de CARLOS MEDINA RIBEIRO
Jornal Correio de Lagos Edição Impressa 347 · SETEMBRO 2019
«Nunca subestimes o poder de um incompetente»
LAWRENCE PETER foi uma daquelas pessoas cuja obra nos ajuda a entender o mundo em que vivemos, tendo-nos legado o seu famoso Princípio, onde fica bem claro porque é que há tantas coisas que correm mal, quando poderiam correr bem: Numa organização onde é preciso preencher um lugar de chefia, o mais provável é que seja convidado o melhor funcionário, criando uma situação CERTA e a outra DUVIDOSA: perde-se, de CERTEZA, um bom executante, mas é DUVIDOSO que se ganhe um bom chefe, dado que este precisa de ter outras competências, como saber gerir orçamentos e pessoas. Se se revelar incompetente, a sua carreira fica por ali; caso contrário, mais cedo ou mais tarde será novamente promovido — e assim sucessivamente, até encalhar, desde que haja tempo e degraus suficientes.
Obviamente, essa prática trará problemas graves: antes de mais, à organização, que se irá degradando. E depois aos seus pares, que querem subir... e vêem a “escada” bloqueada por esse empecilho. Peter descreve-nos, então, os métodos mais usados para o remover, sem dor e a contento de todos: um deles, é o chamado “Adereço Lateral de Peter”, em que o “estorvo” é desviado para o LADO, colocado num lugar onde não cause danos — como, p. ex., um gabinete-de-estudos. Outro consiste em promovê-lo (!!), recorrendo ao chamado “pontapé para CIMA” — prática comum a grandes empresas, onde há dúzias de vice-presidentes que seria muito caro despedir. Claro que há casos excepcionais em que o indivíduo atinge o topo da hierarquia e ainda é competente.
Para esses, entra em cena um estranho “atractor”, uma espécie de “apelo celestial” que o leva a almejar por uma carreira diferente, como foi o caso de Américo Thomaz, um competente oficial de Marinha que foi procurar, na política, o seu Nível de Peter. Essa “vertigem de subir” é, obviamente, feita à custa de outros — veja-se como Guterres e Durão Barroso (no governo), e Jorge Sampaio e António Costa (na Câmara da capital), desprezaram olimpi
camente quem lhes havia confiado o voto para irem “fazer pela vida” noutras paragens. Mas Peter foi mais longe, e afirmou que o Ser Humano, depois de dezenas de milhares de anos de evolução, tinha atingido o seu “Nível de Incompetência”, passando a ser capaz de se autodestruir como espécie. O autor escrevia em plena Guerra Fria, e referia-se a um conflito nuclear, mas, se o fizesse hoje, incluiria os problemas relacionados com o Meio Ambiente — a Poluição e a Deflorestação.
E é impossível não pensar nisso, agora que assistimos à devastação da Amazónia brasileira — algo que não é novo, mas conta, desta vez, com a cumplicidade activa do governo e dos que alegam que “como é nossa, podemos fazer com ela o que quisermos”. Não é bem assim, pois 40% da chamada “Amazónia Internacional” pertence a outros 8 países. Mas, dando isso de barato, pergunto: sendo certo que posso escaqueirar a MINHA casa, será que também poderei pegar-lhe fogo... dado que moro num prédio de apartamentos? Da mesma forma, o clima não é uma questão LOCAL, mas sim GLOBAL, e quem não percebe isso não devia estar, sequer, ao leme de uma Junta de Freguesia. Infelizmente, e mesmo quando o tema é tão vital como a sobrevivência da nossa espécie, há uma perversa componente ideológica — e eu até conheço pessoas que, se estivessem em perigo vida, só aceitariam auxílio de quem fosse da sua cor política! Já dizia Voltaire que «Um fanático é pior do que um velhaco; ao menos, com este, pode-se conversar!»