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Lei da Trela, Lei da Treta

Lei da Trela, Lei da Treta

Artigo de opinião de CARLOS MEDINA RIBEIRO

(Edição 345 · JULHO 2019)     

Que sapateiros se tornem medíocres, nada tem de terrível para a cidade. Pelo contrário, quando os guardas só são guardas na aparência, vês que a arruínam de alto a baixo. Platão, “A República”, Livro IV

Como criadores da Democracia, os gregos antigos sabiam muito bem quais as suas fragilidades, tendo o referido discípulo de Sócrates dedicado particular atenção aos ataques a que podiam estar sujeitos os seus mais importantes pilares: a Justiça e a Segurança. Aliás, é espantoso ver como muitos dos problemas com que as sociedades actuais se defrontam já eram debatidos há mais de 24 séculos: Não há famigeradas personagens que, apesar de condenadas, se passeiam alegre e impunemente entre nós, como se nada fosse? Pois estão no Livro VIII. E políticos que, em vez de servirem o povo, se servem dele, usando os seus cargos para enriquecerem? Também lá estão; e por aí fora, pois os pais da nossa Civilização “conheciam de ginjeira” toda a tropa-fandanga que ainda hoje nos custa caro, inferniza a vida e ameaça a Democracia. De facto, e como acima se refere, poucas coisas haverá mais destrutivas para a “Cidade” do que as leis-da-treta, aquelas patacoadas que os nossos legisladores produzem a um ritmo diarreico, sem que ninguém se preocupe em fazê-las cumprir. Uma das mais recentes estipula multas a partir dos €500 para quem deite beatas para o chão e que, evidentemente, há-de ser tão aplicada como o DL 314/2003 que define coimas desde €25 até uns delirantes €44890 para os casos em que cães, em espaço público, estejam sem trela, MESMO QUE NÃO PROVOQUEM DANOS — caso em que, obviamente, as contas serão acrescidas. E é aqui que entra o meu velho companheiro de quatro patas que, no mês passado, foi atacado simultaneamente por outros dois (acompanhados, mas à solta), que lhe fizeram uma ferida no cachaço e outra numa perna, quando estávamos a dar o nosso passeio habitual num parque da cidade. Ora, como na altura não me apercebi desses ferimentos (que o farto pêlo encobria), limitei-me a barafustar com os donos e a afastar-me dali, pelo que só no dia seguinte o infeliz, já com grande dificuldade em andar, foi sujeito a uma sedação, a 4 agrafos, a um funil e mais a uma quantidade de medicamentos — enquanto a mim cabia pagar as respectivas contas, que já vão em 116,90€ , com IVA de 23%, pois, em matéria de tratamento de animais, os nossos políticos reservaram o de 6% para as touradas. Nos dias e semanas seguintes, tentei encontrar os donos dos cães, mas em vão. Recorri ao “Lagos, a Minha Cidade”, mas o resultado foi o mesmo. Entretanto, uma senhora garantiu-me que o que se passou é perfeitamente normal, e mostrou-me a mais recente cicatriz da sua cadela! Houve quem me sugerisse que, simplesmente, fosse passear o cão para outro lado, e quem me aconselhasse a andar sempre com um pau na mão. Houve ainda quem (certamente a brincar) me sugerisse que apresentasse queixa, e ainda quem me dissesse que não me preocupasse, pois a RAIVA está erradicada. Não, meus caros, a RAIVA não está erradicada, pelo menos a minha, pois eu JÁ ESTOU PELOS CABELOS por ser confrontado com inúmeras situações gravosas, em que as leis-da-treta estão sempre presentes. Ah, caro Platão!, que pena não poderes vir até à nossa terra colher inspiração para uma sequela da tua obra! Olha que seria muito apreciada uma variante portuguesa de “A República”: a “das bananas”, claro.

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