João Bernardo - Secretário-Geral da JSD Quarteira
Uma notícia recente no jornal Expresso refere que “mais de 70% dos jovens licenciados são filhos de pais sem o ensino superior e que, na maioria dos casos, não foram além do 9º ano.” À primeira vista, este estudo apresenta um incremento no atenuar de algumas desigualdades sociais, isto é, o maior acesso à educação superior por filhos de não licenciados.
No entanto, se fizermos uma melhor análise destas estatísticas, entendemos que as mesmas pecam por uma razão: nas duas faixas etárias que compreendem a maioria dos pais dos atuais jovens licenciados, dos 45 aos 54 e dos 55 aos 64 anos, existem apenas, respetivamente, 24% e 16,9% de licenciados. Ou seja, a população de não licenciados nestas duas faixas etárias referidas representa, respetivamente, 76% e 83,1%.
Isto é, aproximadamente 80% dos adultos com idades compreendidas entre os 45 e os 64 anos não têm uma licenciatura, e 70% dos jovens licenciados são filhos desta população. Mas serão estes dados suficientemente fortes ao ponto de comprovarem o funcionamento do elevador social em Portugal? A minha resposta: não. E porque será que não?
Estes dados apenas referem que uma grande faixa da população (80% dos adultos com idades compreendias entre os 45 e os 64 anos) é responsável por uma grande frequência de jovens licenciados (70% destes). Mas estes dados, por si só, não têm tanta relevância para compreensão do atenuamento das desigualdades como teriam caso o estudo fosse orientado de outra maneira, para as duas seguintes questões: dos pais não licenciados, quantos filhos têm uma licenciatura? E dos pais licenciados, quantos filhos têm uma licenciatura?
Uma estatística noticiada no jornal Público em 2022 responde a uma destas questões: “Apenas um em cada dez filhos das famílias pobres e nas quais as qualificações dos pais não vão além do 9.º ano consegue concluir o ensino superior.”
As desigualdades sociais devem ser medidas entre as diferentes classes sociais e não apenas dentro de uma só e a maneira como esta estatística foi apresentada oculta uma realidade enfrentada no nosso país: um jovem português, filho de pais sem qualificações, permanece com grandes dificuldades em ingressar no ensino superior.