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Agosto, quando o império desactivou a república

Agosto, quando o império desactivou a república

Artigo de opinião de JOSÉ ALBERTO BAPTISTA

(Edição 346 · AGOSTO 2019)                                                              

"Quando uma democracia está falida, aparece gente como Augusto; o que não ocorre quando o Estado funciona relativamente bem” (A. Goldsworthy, historiador)

Estamos em Agosto. Começou, em Lagos, ventoso na meteorologia, mas, bonançoso na política. A lista do PS ao próximo parlamento tem candidata a Presidente da Câmara, o que releva uma descompressão e uma aceitação do facto de que reside capacidade de renovação política no trabalho autárquico, sobretudo, quando este assume uma face de esperança e se manifesta pela alegria de governar. É´sob a luz de Agosto, que  retira o nome do imperador César Augusto, que iremos falar do imperador e da escolha da candidata.

Enquanto historiadores e dramaturgos se envolvem com Júlio César, poucos são os que se prendem com  Augusto. O que não deixa de ser estranho e matéria de reflexão. Augusto culminou uma época política que subverteu o ideal republicano romano. Guerras civis, ambições pessoais, alianças de traição foram o caminho que levou a tal situação. Recentemente, em tempos de celebração do segundo milénio do seu governo imperial, algumas reflexões foram feitas para luz dos nossos conturbados tempos, lembrando os conturbados tempos de transição da república romana para o império romano. “Talvez haja algo que sempre escapa na sua figura, porque Augusto encarna como ninguém o mistério e o abismo do poder. E por isso será sempre nosso contemporâneo”. (G. Altares). É para este mistério e abismo do poder que nos leva a reflexão de Agosto, quando a Cidade é invadida por milhares de cidadãos de todos lados e de todas as gerações e se prepara a mudança de um estilo de liderança local por um outro estilo, na coerência democrática de uma eleição autárquica. Alguns dirão que o mandato autárquico fica diminuído pela escolha para deputada da Presidente da Câmara; muitos, porém, verão nessa eleição o reconhecimento do trabalho, inteligência e dedicação política da candidata. Os que nela votaram regozijam-se ao saber que o seu voto foi certo e que a sua candidata era merecedora dele.

Os seus sucessores saberão, porventura, com outro estilo ou com outra enfâse, cumprir bem o resto do actual mandato.  A Cidade pode dormir tranquila. A democracia local continua em boas mãos. O que não aconteceu aquando da passagem da república romana para o universo imperial. O imperador foi divinizado, a loucura colocou o seu trono no palácio, o cidadão saudável abandonou as ruas. Nascera o tempo dos totalitarismos. Tempo que, durante dois milénios continua a perseguir povos, corações e  vidas. No fundo, e sempre, seja qual for o local e o tempo, o que precisamos é que a nossa democracia funcione.

Funcione local, funcione nacional e internacional. Quando se fala de populismos e fascismos em crescendo no mundo , fala-se de democracias que não funcionam bem, de poderes que se não exercem bem, de serviços públicos que não se movem bem. O seu contrapeso é a corruptela política, é a descrença ética, é o afastamento eleitoral. Para pensar estas ocasiões, a história romana ensina-nos que há sempre um césar augusto que espreita e que, sem contemplações, varrerá tudo à sua passagem. A primeira metade do século XX foi exemplar sobre a falência do poder democrático e o sobre o abismo do poder. Aonde estamos hoje? Longe ou perto?  Quem sabe? Talvez os deuses… Mas, por cá, a Cidade está em paz. Entre o presente e o futuro. Com o passado nas linhas da mão. É sob a luz do passado que se abre, também, um novo horizonte na governação da Cidade.

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