Diogo Cruz – Médico Internista / Sociedade Portuguesa Medicina Interna
A celebração de efemérides, deve entre outras coisas, servir para chamar a atenção dos decisores políticos e da população em geral para um determinado tema, mas também deve servir como reflexão útil ao nosso dia a dia.
Assim, neste dia em que se celebra o Dia Mundial da Atividade Física, não é possível ficar indiferente ao último relatório da Organização mundial da saúde (OMS) acerca deste tópico. No Global Status Report on Physical Activity 2022”, verificamos que 87% das mortes no nosso país, são atribuídas a doenças crónicas não transmissíveis. Considerando que a OMS aponta a inatividade física como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento das doenças crónicas não transmissíveis e de morte, são ainda mais impressionantes os números da inatividade física da população portuguesa. Neste relatório, os nossos adolescentes (i.e 11-17 anos) rapazes apresentam níveis de inatividade de 78% e a percentagem sobe para 91% quando consideramos as raparigas.
Neste país à beira-mar plantado, onde em muitas cidades, houve um enorme investimento no desenvolvimento de ciclovias e passeios marítimos, onde o clima e a beleza natural são claramente favoráveis à prática de exercício físico ao ar livre, estamos claramente a falhar, pelo menos, no que diz respeito a incutir essa “necessidade” de sermos ativos aos nossos jovens.
Em alguns países, têm vindo a ser desenvolvidos programas de incentivo à prática desportiva, principalmente dirigidos às crianças/jovens, para incutir o “gosto” pela atividade física e a adoção de estilos de vida saudável desde cedo no ciclo de vida. Vale a pena olharmos para programas como é exemplo o “PLAY 60” Activity Initiative for Kids, desenvolvido nos EUA numa parceria entre a American Heart Association e a National Football League e que visa incentivar as crianças a praticar 60 minutos ou mais de atividade física moderada a vigorosa diariamente.
Se os benefícios do Exercício Físico são claros em relação ao controlo do peso e à prevenção das doenças cérebro e cardiovasculares (principal causa de morbimortalidade em Portugal), já os benefícios nas outras doenças são menos conhecidos. De qualquer forma já existe evidência robusta, baseada em meta-analises, a mostrar benefício na prática de exercício físico regular na redução de neoplasias, nomeadamente no cancro da mama, do colon, do estômago, do rim, etc… E os benefícios não se ficam por aqui, são inúmeros. Saliento também os já demonstrados benefícios na redução da incidência de depressão, mesmo com atividade física reduzida (i.e redução de 25% no risco de desenvolver depressão apenas com 2,5h de caminhada a passo rápido e um benefício de 18% com metade dessa atividade).
Já a quantidade de exercício necessário para obter benefício, pode genericamente ser considerado pelo apresentado nas recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia, que sugerem a realização de 150-300min de exercício físico/moderado por semana ou 75-150min de exercício/vigoroso por semana. Este exercício deve ser aeróbico. Naturalmente que o mesmo deve ser adaptado à condição física e à eventual patologia/ limitação que cada um possa ter, pelo que está recomendado que, antes de iniciar um programa de exercício físico, consulte o seu médico para delinear um programa adaptado à sua condição física.
Não precisamos, portanto, de ser atletas de alta competição para termos benefícios na nossa saúde, alias, a maioria dos estudos foram feitos com exercício de lazer/recreativo.
Está assim nas nossas mãos adotar estilos e vida saudável, aproveitando a beleza natural e o clima do nosso país, para em família e com os amigos, termos uma vida mais douradora e um envelhecimento ativo saudável e livre de doença.