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AORCA Lagos: Onde a sustentabilidade e a cultura se encontram

AORCA Lagos: Onde a sustentabilidade e a cultura se encontram

Entrevista com Sofia Brito, directora artística do núcleo.

Beatriz Maio

Marta Ferreira

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A AORCA – Associação de Observação, Regeneração e Criação na Actualidade é uma associação sem fins lucrativos, sediada em Lagos e fundada a 17 de Maio de 2018, que visa fomentar «pontes e pontos de encontro» entre a cultura e as várias entidades ligadas aos sectores de protecção ambiental, desportos na natureza e ecológicos, turismo sustentável e de conservação, sector social e de inclusão, promoção de direitos humanos e igualdade de géneros.

Um dos grandes objectivos do colectivo é valorizar a diversidade cultural e artística no concelho, com vista a unificar a comunidade profissional do sector das artes performativas. Neste sentido, procura também desenvolver e produzir actividades que sensibilizem para a prevenção e combate às desigualdades sociais, tendo por base o bem-comum, a inclusão, a inter-culturalidade, a justiça social, a sustentabilidade, a solidariedade e a paz numa perspectiva quer local, quer global.

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Corpos sociais

As fundadoras do projecto são quase todas mulheres, porventura mães. Provenientes de diversas zonas do país, os membros da AORCA unem-se com uma paixão comum:

  • Sofia Taveira Pinto de Almeida Brito: Presidente da Direcção, 44 anos, bailarina profissional, natural de Lisboa, residente em Lagos desde 2009;
  • Ana Rita Marques Nunes: Vice-Presidente da Direcção, lacobrigense de 34 anos, artista musical e professora;
  • Karen Suzanne Broothaers: Tesoureira da Direcção, 46 anos, tradutora, residente em Alvor;
  • Ana Soraia Baptista Xavier: Presidente da Assembleia Geral, 42 anos, instrutora de Yoga, terapeuta, residente em Lagos desde 2012;
  • Patricia Christel Alves Lopes Lesage: Vice-Presidente da Assembleia Geral, 44 anos, educadora pré-natal/doula, residente em Colégio;
  • Maria Clara de Encarnação: Secretária da Assembleia Geral, professora de artes, residente em Espiche;
  • Alicja Aurelia Gladysz: Presidente do Conselho Fiscal, 35 anos, socióloga e agroecóloga, residente em Vila do Bispo.
  • Gonçalo José Martins Duarte: Vice-Presidente do Conselho Fiscal, 38 anos, músico e professor, residente em Lagos desde 2013;
  • Maria Valeria Risso Paties: Secretária do Conselho Fiscal, instrutora de Yoga, residente em Barão de São Miguel.

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Os bastidores do projecto

De acordo com Sofia Brito, directora artística, tudo partiu da necessidade de criar: «As artes performativas trabalham muito em cruzamento disciplinar – vídeo, dança, cenografia, etc. Acho que aqui no Algarve os artistas estão a repetir coisas que já existem. Não estamos a produzir nada em que possamos pegar daqui e levar a outros festivais com programação escolar a nível de espectáculos», expôs.

Sofia nutre desde cedo uma forte ligação com o espectáculo e público em geral. Com 8 anos já fazia anúncios publicitários e chegou, inclusive, a integrar o badalado grupo Onda Choc: «Era muito comunicativa. Teatro, música, dança… Tudo isso ia bem com a minha personalidade», relembrou. Mais tarde, ingressou numa escola belga, fundada pela renomada coreógrafa Anne Teresa De Keersmaeker, onde teve oportunidade de explorar a fundo a paixão pelo palco: «Acho que me deu confiança para fazer face a uma série de obstáculos que encontrei aqui em Portugal, nesta tentativa de descentralizar as artes», admitiu.

Para a artista, o mundo das artes performativas é «um espaço muito mágico» e permite «vivenciar grandes mudanças», estimulando «o encontro de novas ideias» e promovendo a liberdade de expressão, ao mesmo tempo que estimula a co-criação.

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A vertente ambiental

A juntar a esta componente mais focada nas artes, vale ainda destacar uma outra que Sofia preza por trazer para a associação: questões ambientais. Neste sentido, recorda as manifestações contra o contrato de prospecção para exploração petrolífera ao largo da costa de Aljezur, em 2018, tema que a AORCA não pôde deixar de agarrar: «Demos conta que, nas escolas, não informavam as crianças sobre o que estava a acontecer. Quem mais se bateu por este território foram os estrangeiros, a comunidade alternativa, os hippies… Houve várias manifestações pelo Algarve, mas a participação era baixíssima. Acho que esta desinformação, esta falta de valorizar aquilo que temos de bom pode fazer-nos perder as coisas que temos», elucidou.

E porque a educação para a sutentabilidade é um dos pilares da AORCA, esta surgiu, na altura, como ponto de partida para as pessoas que dela fazem hoje parte: «Decidimos apostar em jovens de secundário, pois achamos que estão pouco informados e muito distraídos», desvendou, reconhecendo que o mundo está «cheio de oportunidades para nos exprimirmos», porém, faz falta «desenvolver espírito critico e ganhar confiança nessa expressão».
Motivações e quebra de barreiras

No caso do Algarve, em específico, a artista considera que foram adoptadas «muito más políticas para o país e para a região» no que toca às artes, nomeadamente a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, que «abandonou» a produção local: «A criação e educação das artes pode ser uma opção para o Algarve de produzir qualquer coisa; podem-se inovar as ideias e exportá-las, podem-se criar escolas profissionais», expressou, acrescentando: «As pessoas aqui estudam e depois vão para uma faculdade. Dilui-se toda a inovação juvenil e esta vai para outros sítios do país porque não temos universidades, não estamos a analisar as oportunidades que podem sair daí».

Assim, a AORCA procura utilizar as artes em vários pontos de vista. Segundo a directora, é nas artes performativas que se pratica «a colaboração, a visão crítica e proactiva do mundo que nos rodeia. Usar essas mesmas visões é empoderar os jovens, para que possam abrir outras portas».

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Sofia Brito: Dos palcos à direcção da AORCA

Estudou dança clássica desde os 5 anos e com 13 decidiu que queria ser bailarina, idade com que participou num musical na televisão e percebeu que era esse o caminho que queria seguir: «Comecei a preparar-me para ir para o conservatório e entrei na Escola da Companhia Nacional de Bailado, num curso profissional de dança. Fiz dança clássica, moderna, o que se fazia na altura; acabei lá o 12.º ano», contou.

Inspirada pelos espectáculos de dança contemporânea a que assistira na Gulbenkian, Sofia reflectiu: «Para mim a dança clássica, que era o que eu fazia na altura, era um pouco "museu". A dança contemporânea era uma oportunidade de ligar o que se faz com a vida real, ao teatro e à música. Então, quando acabei o 12.º ano, comecei a procurar onde é que poderia aprender». Assim, recorda: «Surgiu uma oportunidade de uma escola no estrangeiro que estava a abrir, de uma companhia contemporânea. Entrei, deram-me uma bolsa e fui para a Bélgica estudar para a P.A.R.T.S. - Performing Arts Research and Training Studios».

Depois de terminar a formação, ficou a trabalhar na Bélgica, mas eis que a sua vida toma um novo rumo: com 2 filhos nos braços, acabou por regressar a Portugal devido a questões familiares, fixando-se em Lagos, onde reside há 10 anos (desde 2009).

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«Muitas vezes, pensa-se que a dança é uma questão de músculo, mas é muito um trabalho de sentir, de conhecer a própria imaginação»

Na óptica de Sofia, a vontade de apostar na dança foi o que a levou onde está actualmente: «Muitas vezes, pensa-se que a dança é uma questão de músculo, mas é muito um trabalho de sentir, de conhecer a própria imaginação. (...) Sou muito idealista e tenho a experiência de que quando se tem determinação e persistência as coisas podem tornar-se realidade. Começo com sonhos, utopias e ideias que são mais o "quê" do que o "como"; mas o "como" aparece aos poucos», revelou.

A criação da AORCA é então o resultado «de vários anos a tentar criar peças coreográficas no Algarve», segundo a bailarina. A sua prioridade era dar estabilidade aos filhos, pelo que tentou contacto com o máximo de estruturas ligadas à dança e ao teatro da região: «Abriram-se algumas portas em Portimão, em 2010, no Teatro Tempo. Estive 4 anos a trabalhar em colaboração com o teatro como actividade principal, a construir espectáculos para crianças. Estive também à frente do Teatro Sénior».

Como não podia trabalhar como intérprete - por não existirem propriamente companhias para integrar -, Sofia decidiu lançar propostas. Tudo começou ao fazer parte da criação de um espectáculo escolar, mas logo se deparou com obstáculos financeiros: «Tenho sempre ensinado. Acho que tenho algo mais a contribuir do que só ser professora, que já existem em muitas escolas. Costumo tentar procurar o que ainda falta», realçou.

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Pandemia e reinvenção

Embora o sector da cultura tenha sido um dos mais fustigados, com espectáculos cancelados, ainda assim Sofia sente-se grata por ter conseguido enfrentar as adversidades: «Cheguei a pensar "Como é que eu vou sobreviver sem ajudas sociais decentes? (...) Fizemos espectáculos na praia, ao ar livre... Ia ficar deprimida se baixasse os braços», confessou.

Afinal, «a criatividade é também um músculo que se treina, um estado de espírito», nas próprias palavras. «Sinto-me um bocado a prova disso, porque fui capaz de arranjar outras formas de olhar para o problema», concluiu.

Saiba mais sobre o núcleo e acompanhe o trabalho desta associação lacobrigense em www.aorca.pt.

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Imagens

Exceptuando a imagem principal, todas as fotografias disponibilizadas foram captadas no decorrer do AORCA Summer Lab, com lugar na sede da Associação de Dança de Lagos / Espaço Jovem de Lagos.

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