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Ruben Garcia: Actor lacobrigense, referência internacional e protagonista do aclamado filme "Listen"

Ruben Garcia: Actor lacobrigense, referência internacional e protagonista do aclamado filme "Listen"

«Gostaria muito de criar uma companhia profissional de Teatro em Lagos», deslindou o artista ao nosso jornal.

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Ao longo dos anos, o CL tem acompanhado de perto a jornada artística de Ruben Garcia, figura de renome no panorama nacional e local na área do Teatro. De Lagos para lugares como Viena, Alemanha, Israel, República Checa, Letónia e Paris, esta edição dá finalmente a conhecer o percurso de vida do actor e suas raízes, bem como algumas concepções pessoais e projectos futuros.

Ruben estreou-se no Teatro através do núcleo TEL - Teatro Experimental de Lagos e desde aí enche auditórios por onde passa. Conhecido por obras cinematográficas como "Shadows" (2011), "Naked Fear" (2007) e, mais recentemente, "Listen" (2020) da realizadora portuguesa Ana Rocha de Sousa, Ruben Garcia tem brilhado em cada obra a que se dedica.

O filme "Listen" foi o filme mais visto no fim-de-semana da sua estreia e esteve, inclusive, nomeado para os Óscares 2021 na categoria "Melhor Filme Internacional", com elenco português e inglês. Ganhou, ao todo, seis prémios no Festival de Veneza, entre os quais o "Leão do Futuro".

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Quem é Ruben Garcia?

Data de aniversário: 25-10-1978.
Naturalidade: Lagos.
Residência actual: Lisboa.
Habilitações académicas: ACT - Escola de Actores, Cinema e Televisão.
Áreas de interesse: Cinema, Teatro e Ensino.

Correio de Lagos – Consegue fazer-nos uma síntese do seu percurso profissional/artístico?
Rúben Garcia –
O princípio foi no Ballet. Depois, no Teatro para a Infância (Teatro experimental de Lagos). Frequentei a Escola Profissional de Teatro de Cascais e, mais tarde, a ACT, com professores inesquecíveis. Comecei logo a trabalhar como profissional depois disso com La Féria; na Companhia Teatral do Chiado; com Mário Viegas... Fiz parte durante dez anos de uma companhia austríaca e estou há quinze no Teatro "A Barraca", colaborando entre muitos outros projectos de Teatro, Cinema e também Encenação.

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«O meu primeiro contacto mais "a sério" foi no programa Pátio da Fama. (...) Senti-me tão "dentro" da cena que disse para mim mesmo o que eu já suspeitava: que era isto que queria fazer»

CL – Qual o seu primeiro contacto com o mundo da representação?
RG –
O meu primeiro contacto mais "a sério" foi no programa "Pátio da Fama", apresentado por Diogo Infante - em 1994, tinha eu 14 anos -, em que se fazia uma cena de filme, novela ou teatro, com a saudosa Carmen Dolores como júri. Levámos uma cena da novela "Rainha da sucata", muito divertida. Senti-me tão bem, tão "dentro da cena", que disse para mim mesmo o que eu já suspeitava desde sempre: que era isto que queria fazer.

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«Orgulho-me de ser algarvio e de ter crescido nesta nossa costa de ouro, bem perto do campo. Tive uma infância feliz. (...) Nunca me senti longe de Lagos mesmo quando aqui não estou»

CL – Que lembranças guarda da sua infância em Lagos? Como é estar longe da cidade que o viu nascer?
RG –
Guardo as lembranças todas. Sou daqui e orgulho-me de ser algarvio e de ter crescido nesta nossa costa de ouro, bem perto do campo. Tive uma infância feliz, em que se brincava na rua. Era eu que organizava eventos artísticos e temáticos para os meus amigos - que ainda os conservo. Nunca me senti longe de Lagos mesmo quando aqui não estou.

CL – Como foi pisar pela primeira vez um palco estrangeiro?
RG –
Foi com a companhia "Alma Mahler", no Los Angeles Theatre, em 2004. Estive lá seis meses a fazer uma peça de teatro na Broadway Downtown de Los Angeles, foi magnífico e muito libertador na procura do que é ser actor. Guardo muito boas recordações de colegas actores norte-americanos e da sua maneira de actuar. Tive a oportunidade de ficar lá – já tinha um agente, mas quis voltar para o meu país, família e amigos. Adoro trabalhar noutros países, mas temporariamente.

CL – De todas as vezes que se apresenta ao público lacobrigense em espectáculo, a casa enche-se para o receber. Como descreve essa sensação?
RG –
É muito boa. Tenho, felizmente, muitas pessoas que acompanham este meu percurso e que me incentivam a não desistir. Às vezes vou a essas lembranças para continuar.

CL – O que é que um projecto tem de ter para o fazer embarcar nele de corpo e alma?
RG –
Ser bem escrito. Tenho tido a sorte de interpretar grandes textos, desde Frederico Garcia Lorca, Saramago e Sam Shepard a Tchecov. Tenho de me apaixonar pelo texto e pela história; tentar sempre ter uma grande empatia com a personagem.

CL – Quais foram os maiores desafios ao protagonizar "Listen"?
RG –
O facto de não ter filhos foi o mais complexo desafio enquanto actor, mas foi ultrapassado com o facto de querer dar voz àqueles pais que perdem os seus num país estrangeiro, como a Inglaterra, onde existem adopções forçadas e quando existe um erro por parte da Segurança Social eles já não revertem o processo. É revoltante, foi um trabalho muito intenso e de que me orgulho muito.

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«Recebi alguns prémios de "Melhor Actor" de Cinema por causa do "Listen". (...) Agradecerei sempre à Ana Rocha de Sousa e à Lúcia Moniz»

CL – Melhor memória/momento em rodagens?
RG –
Todas. O processo, a rodagem, o Festival de Cinema de Veneza... Inclusive, já recebi alguns prémios de "Melhor Actor" de Cinema por causa do "Listen". É extraordinário, mas o mérito desta personagem (Jota) não é só meu; agradecerei sempre à Ana Rocha de Sousa e à Lúcia Moniz.

CL – Como é lidar com a fama? Existe alguma receita para o sucesso?
RG –
Este grande sucesso que foi o "Listen" assustou-me um bocado, confesso. As pessoas começaram a saber quem sou, fica-se com uma responsabilidade acrescida para fazer mais e melhor. Por outro lado, sei que a vida artística tem altos e baixos. Faço isto há algum tempo e não deixo de maneira nenhuma que isso me deslumbre, o sucesso é muito relativo.

CL – Quais as suas maiores referências a nível artístico?
RG –
Tenho a sorte de trabalhar com a minha maior referência artística, a actriz Maria do Céu Guerra. Sou um sortudo. A primeira vez que a vi em palco foi, curiosamente, no Centro Cultural de Lagos e fiquei fascinado com o seu talento.

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«A Cultura padece com as consequências da pandemia»

CL – Como vê o estado da Cultura em Portugal neste momento, dada a pandemia e os sucessivos confinamentos?
RG –
A Cultura padece com as consequências da pandemia, como noutros sectores, evidentemente. O trabalho escassa e a maioria dos meus colegas estão em intermitência - os chamados "falsos" recibos verdes. A pandemia vem levantar a ponta deste véu, ou seja, muitas das suas impermanências. Este problema vai do Teatro à Dança, das Artes Plásticas ao Cinema, da Literatura à Música.

CL – Qual(is) a(s) mais importante(s) lição(ões) que alguém/a vida lhe ensinou?
RG –
Sou crente em Deus. Tudo na minha vida foi conquistado com trabalho. O provérbio popular "Deus disse ao homem: trabalha, que eu te ajudarei" faz-me todo o sentido, só com trabalho se chega a algum lado.

CL – Onde se imagina daqui a 10 anos?
RG –
Gostaria muito de criar uma companhia profissional de Teatro em Lagos... Vamos ver se consigo.
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Perguntas rápidas

Passatempos: «Tudo o que tenha a ver com leitura sobre Teatro».
Prato/comida favorito(a): Almôndegas da mãe.
Bebida predileta: Chá.
Destino de férias de sonho: Rio de Janeiro.
Clube do coração: Benfica.
Livro preferido: Fernão Capelo gaivota, Richard Bach.
Filme(s) memorável(is): «Todos do Woody Allen».

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Carlos Conceição

Marta Ferreira

In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº365 · MARÇO 2021

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