«O “bichinho” [da política] surgiu da convicção de que as coisas podem mudar e que os políticos podem contribuir para essa mudança»
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Carlos Conceição
O jornal Correio de Lagos dá continuidade à publicação da rubrica "Conheça os políticos da nossa praça", através de um conjunto de entrevistas aos líderes das bancadas das forças políticas na Assembleia Municipal de Lagos. Depois de Ana Natacha Álvaro, Alexandre Nunes e Artur Rêgo, a convidade desta edição de Maio é Ana Margarida Martins, eleita pelo Movimento Lagos Com Futuro (LCF).
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Quem é Ana Martins?
Nascida em Lisboa na década de 60, onde viveu até se mudar para Lagos, em 1994, Ana Margarida Martins é viúva e tem dois filhos, a Inês e o Gonçalo.
Fez Licenciatura em Engenharia Química no Instituto Superior Técnico. Quase no fim, mudou-se para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Química. Mais tarde, fez uma Pós-Graduação em Ciências da Educação.
É Professora profissionalizada de Física e Química, tendo começado a leccionar em Lisboa enquanto estudava. Já em Lagos, deu aulas na Antiga Escola Gil Eanes, no Antigo Ciclo e na Escola das Naus, depois de uns anos no Laboratório de Química da Universidade de Faro. Hoje, em conjunto com duas sócias, gere uma empresa ligada à Educação, o Centro de Apoio Escolar "100 Neurónios".
A participação nas reuniões de pais dos seus filhos levou a que Ana Margarida entrasse na Associação de Pais da Escola das Naus, da qual foi presidente durante uns anos. Mais tarde, devido à mudança de escola da filha, passou a integrar também a Associação de Pais do Agrupamento de Escolas Júlio Dantas.
Ao todo, fez parte de duas associações de pais, dois conselhos gerais de escolas, Conselho Municipal de Educação, Comissão Alargada da CPCJ – Comissões de Protecção de Crianças e Jovens e Federação das Associações de Pais. Recentemente, foi Presidente da Direcção da Universidade Sénior de Lagos.
Foi através de amigos que também estavam nas associações de pais que estabeleceu a primeira ligação a uma força política. Há doze anos fez parte da lista de candidatos do Partido Social-Democrata (PSD) à Assembleia Municipal de Lagos (AML). Nesse mandato, não era membro efectivo, fez somente algumas substituições.
Mas, quatro anos depois surge um grupo de pessoas que não queriam estar ligadas a uma estrutura política tradicional e nasce, em 2013, a Lagos com Futuro, um movimento de cidadãos «de pensamento independente e livre que partilham preocupações comuns» relativamente aos problemas do município de Lagos. Ana Margarida foi eleita membro da AML e também 2.ª secretária da Mesa da AML. Em 2017, Lagos com Futuro elege novamente três membros à Assembleia Municipal, sendo neste mandato a respectiva coordenadora.
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Correio de Lagos – Desde logo, como surgiu o “bichinho” pela política?
Ana Margarida Martins − O “bichinho” surgiu da convicção de que as coisas podem mudar e que os políticos podem contribuir para essa mudança.
CL – A primeira experiência na Política local foi no PSD. Que razões levaram a aderir ao Movimento Lagos Com Futuro?
AMM − Quando estamos numa estrutura com a qual não nos identificamos no seu modo de actuação, saímos! E assim foi! No movimento de cidadãos independentes, Lagos com Futuro, apesar das diferenças de opinião que possam existir surge, dessa diferença, a nossa linha orientadora para as decisões a tomar, decisões essas que partem de nós, que aqui estamos e não das altas esferas dos partidos políticos, que muitas vezes desconhecem a realidade local. Trabalhamos sempre em prol do superior interesse do município e na consolidação da democracia.
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«A nossa prestação na Assembleia Municipal e na Câmara Municipal visou sempre a salvaguarda dos interesses próprios da população. Lamento que neste mandato não tenha havido reuniões da Assembleia Municipal descentralizadas pelas freguesias para escutar, in loco, os problemas dos fregueses»
CL – Está a cumprir o segundo mandato na Assembleia Municipal, agora como líder da bancada do LCF. Como tem sido esta experiência e que balanço faz do trabalho desenvolvido?
AMM − Estamos em fim de mandato, e o balanço global é muito positivo. Na nossa missão fiscalizadora do Executivo Municipal pedimos informações, esclarecimentos e fizemos protestos à câmara municipal e na defesa dos munícipes e do município apresentámos várias propostas, moções e recomendações. A nossa prestação na Assembleia Municipal e na Câmara Municipal visou sempre a salvaguarda dos interesses próprios da população.
Lamento que neste mandato não tenha havido reuniões da Assembleia Municipal descentralizadas pelas freguesias para escutar os problemas dos fregueses e que as assembleias tenham sido efectuadas com redução dos deputados autárquicos.
CL − Está disponível para continuar na Política?
AMM − Sim estou disponível para continuar! Julgo que ainda tenho muito para dar a Lagos, existe muita coisa que tem urgente necessidade de mudança, é necessario equilibrar a balança coisa que o actual executivo está longe de ter feito.
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«É verdade, somos 9 mulheres em 25! No entanto, temos nas listas de Lagos com Futuro, um número de mulheres superior ao dos homens! E o meu desejo é que cada vez haja mais mulheres em todos os órgãos autárquicos e mulheres a mandar»
CL – Margarida Martins acrescenta peso ao número de mulheres na Política lacobrigense. Porém, como avalia apenas 9 rostos femininos entre 25 membros neste órgão deliberativo?
AMM − É verdade, somos 9 mulheres em 25! No entanto, temos nas listas de Lagos com Futuro, um número de mulheres superior ao dos homens! E o meu desejo é que cada vez haja mais mulheres em todos os órgãos autárquicos e mulheres a mandar. Muitas mulheres que expressam frontalmente essa vontade são duramente criticadas e quando erram, e é preciso dar às mulheres o direito de errar, o são ainda mais, muito mais que os homens.
Hoje as mulheres constroem a sua vida com conteúdo próprio. Conseguem conciliar a sua vida familiar com a profissional e a política. Por isso há cada vez mais mulheres em altos cargos dirigentes. O mundo também é das mulheres!
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«A constituição de um partido político independente, a meu ver, iria ajudar a ultrapassar as dificuldades, de ordem funcional, administrativa e política que os partidos do poder têm vindo a fazer de modo a impedir os movimentos de cidadãos independentes de se candidatarem e à simplificação do processo burocrático no tribunal»
CL – Aproximando-se as Autárquicas de 2021, de que forma olha para a tarefa obrigatória de recolha de assinaturas para as candidaturas de cidadãos independentes? Concorda com a possibilidade de um novo partido político para facilitar o processo dos movimentos independentes?
AMM − Neste tempo de pandemia os movimentos de cidadãos independentes estão a confrontar-se com grande dificuldade na recolha obrigatória de assinaturas, devido às restrições impostas pelo Covid de evitar locais movimentados e a proximidade social. Assim, neste tempo de excepção, não faz sentido que sejamos obrigados a uma recolha de assinaturas na rua, e que o número exigido de assinaturas de residentes ou recenseados no concelho de Lagos seja tão elevado.
A constituição de um partido político independente, a meu ver, iria ajudar a ultrapassar as dificuldades, de ordem funcional, administrativa e política, que os partidos do poder têm vindo a fazer de modo a impedir os movimentos de cidadãos independentes de se candidatarem e à simplificação do processo burocrático no tribunal.
CL – Acha que o Movimento Lagos com Futuro poderá alcançar mais votos e mais representantes nos diversos órgãos autárquicos, nas próximas eleições?
AMM − Claro que sim! Todo o trabalho efetuado nestes dois últimos mandatos autárquicos em todos os órgãos, honrou o compromisso perante todos os que em nós depositaram o seu voto de confiança e o retorno da população à nossa actuação leva-nos a crer que sim.
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«Na habitação municipal houve um desinvestimento na construção. Nos últimos 15 anos não se construiu um fogo, pese embora a carência de fogos para alugar e para comprar a preços acessíveis no nosso município. Os lacobrigenses, jovens e menos jovens, deixaram de ter acesso à aquisição de habitação própria, devido aos preços especulativos dos fogos, dos mais altos do país»
CL – Como classifica a gestão socialista em Lagos e quais as principais propostas do Movimento Lagos com Futuro para melhorar Lagos?
AMM − Relativamente à gestão socialista ela tem sido muito sofrível. A execução orçamental do plano plurianual de investimentos tem sido fraco e comprova-se o fraco desempenho com a percentagem de execução orçamental de apenas cerca de 25%, relativamente ao que se propuseram gastar em prol da cidade.
Na habitação municipal houve um desinvestimento na construção. Nos últimos 15 anos não se construiu um fogo, pese embora a carência de fogos para alugar e para comprar a preços acessíveis no nosso município. Os acobrigenses, jovens e menos jovens deixaram de ter acesso à aquisição de habitação própria, devido aos preços especulativos dos fogos, dos mais altos do país. Muitos jovens lacobrigenses, para se fixarem na região e conseguirem constituir família, têm que ir viver para municípios vizinhos.
A falta de segurança é hoje uma triste realidade, caso dos indigentes e cães sem trela que vagueiam pelo nosso centro histórico. Uma onda de roubos e furtos veio agravar a situação, em tempos de pandemia. É necessário aumentar o número de agentes de segurança no nosso município e a nossa Câmara tem a responsabilidade de exigir junto da tutela mais meios humanos para reforçar a nossa segurança.
A economia local sofre dos efeitos da pandemia, onde empresas e famílias vivem momentos dramáticos. E a nossa Autarquia, que deveria apoiar empresários em nome individual, sociedades comerciais e profissionais liberais, com domicilio fiscal ou sede no conselho mais efetivamente tornou-se apenas num observador à espera que a crise económica se resolva, sem que tenha de intervir e, tal como acontece noutros municípios, atribuir um apoio efectivo.
Na conservação do património Municipal, ao fazermos um passeio pelo município, podemos constatar a degradação existente nas muralhas, no forte da Ponta da Bandeira e no muro anexo, no pontão junto da praia da Batata, nas arribas da Ponta da Piedade, na praia da D. Ana, na praia do Pinhão, no Auditório Municipal, nos pilares da ponte, na fonte no pavimento e bancos na praça do Infante, a fonte manuelina das 8 bicas, entre outros.
A limpeza urbana tem sido bastante débil, principalmente nos últimos 8 anos, com deficiente recolha de lixos, pouca lavagem das ruas no centro histórico conforme contrato com a empresa que realiza essas funções, do excesso de ervas por todo o município, da grande maioria das nossas rotundas terem ervas há muitos anos e que limitam a visão dos automobilistas, da limpeza deficiente das praias e da falta de conservação dos equipamentos de madeira dos acessos às praias, das passadeiras de peões a necessitarem de ser pintadas e de muitas barreiras físicas nos passeios que necessitam de serem rectificados e alterados, conforme nossa proposta e que foi aprovada por unanimidade, designada “Lagos passo a passo”.
Lagos com Futuro para além de todas as propostas que tem para resolver as lacunas e debilidades apontadas nesta questão, e que são muitas e bastante graves, pretende elaborar um plano estratégico para a cidade estabelecendo parcerias com investigadores universitários que visem um desenvolvimento económico sustentado com consequente aumento de emprego e bem-estar dos munícipes.
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«As pessoas que integram o movimento de cidadãos independentes Lagos com Futuro estão na política por convicção e vontade de servir»
CL − Que mensagem pretende deixar aos lacobrigenses, neste tempo conturbado provocado pela Covid-19?
AMM − Saímos recentemente do segundo Estado de Emergência, que nos exigiu novamente enormes sacrifícios, e que novamente teve um impacto brutal nas famílias, na saúde, na economia e na sociedade. Embora hoje a situação sanitária seja mais favorável, não estamos livres da Covid, não podemos descurar nas medidas de protecção com risco de nos infectarmos e aos nossos contactos e voltarmos assim, atrás nas medidas de desconfinamento. Os lacobrigenses precisam urgentemente de retomar a normalidade e tentar rentabilizar uma época que já está fortemente comprometida.
Lagos com Futuro está disponível para levar aos diferentes órgãos autárquicos todas as propostas ou ideias dos nossos concidadãos que visem melhorias para o nosso município. Façamos uma cidadania participativa. Conheçam e participem no nosso projecto “amar Lagos”.
As pessoas que integram o movimento de cidadãos independentes, Lagos com Futuro, estão na política por convicção e vontade de servir. Desejo, a Lagos, um futuro mais luminoso.
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In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº367 · MAIO 2021