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Bruno Baptista: Estudante-atleta pela Francis Marion University (EUA)

Bruno Baptista: Estudante-atleta pela Francis Marion University (EUA)

Marta Ferreira

O Correio de Lagos aproveitou a onda jovem das últimas edições para iniciar uma nova rubrica, por sua vez intitulada «Lacobrigenses pelo mundo». Depois de Mariana Guerreiro, Henrique João e Denise da Cruz Fernandes, neste mês de Fevereiro o foco incide sobre o jovem Bruno Baptista, estudante e atleta que viveu toda a sua vida em Lagos e decidiu abraçar, há quatro anos, a famosa terra das oportunidades.

«Crescer em Lagos trouxe-me vivências e amizades que vou para sempre levar comigo. Sei que sempre que me recordo de casa, recordo-me de Lagos»

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Breve biografia

Nome completo: Bruno Baptista.
Data de nascimento: 31/10/1996 (24 anos).
Naturalidade: Vila Nova de Famalicão.
Situação escolar/profissional: A terminar a licenciatura em Marketing.
Morada actual: Estados Unidos, Charlotte, Florence.
Áreas de interesse: Marketing, Desporto.
Passatempos: Practicar desporto; noites de jogos em família; passar tempo com amigos; ver filmes e séries; viajar.

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Apesar de não ter nascido em Lagos, Bruno passou practicamente toda a sua vida nesta cidade. Com apenas alguns meses de existência, o atleta e sua família deixaram para trás Vila Nova de Famalicão e abraçaram este recanto algarvio como sendo seu.

Bruno, 24 anos, sempre adorou Futebol: a paixão pelo desporto era notória e, coincidentemente, as memórias que tem mais presentes dos tempos em que cá viveu têm precisamente a ver com isso. Recordou ao CL que, quando frequentou a Escola das Naus, a melhor parte do seu dia era sair pelo portão e ver ali a carrinha do clube, que o transportava a si e aos seus colegas para os treinos: «Adorava aquela sensação de irmos treinar todos juntos, as viagens de autocarro para os jogos... Era sempre engraçado e foi das coisas que me marcaram mais».

Tudo se alinhou para Bruno quando estava a terminar o secundário, ao ter tido conhecimento de uma empresa que recrutava jogadores de Futebol para os Estados Unidos. O jovem tentou... E conseguiu a bolsa; o resto, é história contada na primeira pessoa, sendo que metade está ainda por escrever.

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Da infância ao grande salto

Correio de Lagos – Fala-nos das tuas raízes.
Bruno Baptista –
Nasci no Norte de Portugal, mais precisamente em Famalicão. Sou filho de pai português e mãe francesa e tenho uma irmã mais velha. Foi diferente e vantajoso para mim crescer numa dinâmica bilíngue, pois tive a possibilidade de conviver com duas culturas diferentes.
Desde novo que pratico desporto. Fiz um pouco de tudo até cruzar caminhos com o Futebol, mais ou menos aos 12 anos. Comecei por jogar no Clube Desportivo de Odiáxere e, em seguida, no Clube de Futebol Esperança de Lagos, onde joguei até ir para Lisboa.

CL – O que te motivou a trocar a tua cidade de berço pela capital nessa altura?
BB –
Cresci no Algarve, então, quando cheguei ao 12.º ano, decidi que Lisboa seria a melhor opção para mim, visto que tinha mais oportunidades tanto a nível profissional, como a nível desportivo. Apesar de ter sido apenas um ano, fiz amizades que se mantêm até hoje e vivi muitos momentos inesquecíveis.

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EUA: novo lar, novos desafios

CL – Há quanto tempo vives nos Estados Unidos? Quando e porque tomaste a decisão de partir de Portugal?
BB –
Vivo nos Estados Unidos há quatro anos. A oportunidade surgiu quando estava no meu último ano do Secundário, ainda em Lagos, devido ao Futebol. Na altura jogava no Esperança, como já referi, e foi-me proposto este desafio. Tomei esta decisão porque sabia que seria uma mais-valia para o meu futuro profissional, tendo também a oportunidade de aperfeiçoar mais uma língua e experienciar viver num país completamente diferente de Portugal.

CL – Como foi a adaptação à cultura americana? A língua foi um obstáculo? Que desafios enfrentaste?
BB –
A adaptação não foi muito difícil. Claro que, nos primeiros tempos, custou-me bastante estar longe da minha família, mas fui fazendo várias amizades que tornaram tudo mais simples. O facto de estar numa equipa de futebol facilitou todo o processo, pois existia um sentimento de união entre todos nós, até porque a grande maioria também estava a viver a mesma mudança que eu.
A nível de desafios, sinto que o maior deles é estar longe da minha família. A barreira linguística nunca foi um problema, pois já falava inglês, o que facilitou bastante esta minha mudança, embora acredite que serviu de muito para melhorar essa aptidão.

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«Soube que a Next Level Sports estava a captar atletas e concorri às bolsas de desporto na Francis Marion University, com um vídeo de highlights de Futebol. Entretanto, entrei»

CL – Emigrar foi uma escolha própria ou algo que simplesmente "teve de ser" em virtude da tua vida profissional?
BB –
Foi uma oportunidade que surgiu. Obviamente, uma das minhas grandes motivações foi um futuro mais promissor e com experiências diferentes daquelas que viveria em Portugal, não só pela dimensão do próprio país, como também o facto de ser "um mundo à parte", com uma fusão cultural impressionante e onde tudo acaba por ser aparentemente possível.
Na altura, soube que a empresa Next Level Sports estava a captar atletas e concorri às bolsas de desporto na Francis Marion University, com um vídeo meu de highlights [destaques] de Futebol. Entretanto, entrei. Tive de fazer dois exames de inglês, um que se chama TOEFL [em português: Teste de Inglês como Língua Estrangeira], para compreensão e expressão escrita e oral, e outro mais geral, com conteúdos de Matemática, Ciências, etc.

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«Nos Estados Unidos é visível a enorme diversidade cultural, o que facilita a integração para os imigrantes (...) e onde tudo acaba por ser aparentemente possível»

CL – Sentes que, sendo imigrante nesse país, tens de te esforçar mais que os outros?
BB –
Até hoje não vivi nenhuma experiência que me fizesse sentir isso. Nos Estados Unidos é visível a enorme diversidade cultural, o que facilita a integração para os imigrantes. Apesar disso, sempre fiz o necessário para me integrar da melhor maneira possível.

CL – Existe algum episódio/momento que te tenha marcado aquando da tua estadia nos EUA?
BB –
Um dos episódios que mais marcou a minha jornada nos Estados Unidos foi a noite da chegada. Quando cheguei ao dormitório e pousei as minhas coisas senti uma mistura de emoções: por um lado, a felicidade de estar a realizar um sonho; por outro, a angústia de deixar a minha família e amigos para trás. Foi realmente quando caí na realidade. Sei que nunca irei esquecer a minha primeira noite naquela que seria a minha nova casa.

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Rotina e a relação Marketing/Futebol

CL – Fala-nos da tua rotina de atleta. Como é um dia na vida de um futebolista da Francis Marion University?
BB –
Normalmente, acordo por volta das 05h45, porque começo a treinar logo às 06h30. Como uma peça de fruta, treino e depois, pelas 08:00 horas, vou para casa. Começo as aulas às 09h45 e termino às 14h00. A seguir almoço e volto a ter treino às 15h30, até mais ou menos às 17:30/18:00 horas – depende dos dias, porque às vezes também temos sessões de vídeo. Regresso a casa pelas 18h30, faço um batido e descanso. Costumo jantar às 20h00 e às 22h00 já estou pronto para dormir.

CL – E consegues conciliar as aulas com os treinos?
BB –
Sim. Aqui os professores estão sempre em contacto com os treinadores e, como sabem que viajamos muito para jogar, acabam por ser compreensivos e dispensar-nos de algumas aulas. Por vezes, até nos deixam entregar certos trabalhos depois.

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Mindset e saudades de casa

CL – Consideras-te uma pessoa realizada?
BB –
Sim, mas ainda com muitos objectivos por alcançar. Sou bastante grato pelas oportunidades que tive até hoje e, essencialmente, pelo apoio que a minha família me dá pois, sem eles, nada disto seria possível. Em Maio, quando terminar o curso, pretendo focar-me no Marketing e deixar o Futebol mais "para trás".

CL – Como lidas com as saudades de casa (amigos, família, hábitos...)?
BB –
Felizmente, vivemos numa era bastante tecnológica, pelo que me é possível falar com a minha família e amigos frequentemente. É nestes momentos que agradeço a existência das vídeo-chamadas, porque tornam a distância menos real. Como aqui nos Estados Unidos tenho uma rotina bastante atarefada, entre treinos e aulas, mantenho-me bastante ocupado e acabo por valorizar ainda mais todas as oportunidades que tenho para falar com eles.

CL – Que memórias levas da tua infância/adolescência em Lagos?
BB –
Crescer em Lagos trouxe-me vivências e amizades que vou para sempre levar comigo. O início desta minha paixão pelo futebol começou lá, quando eu e os meus amigos nos reuníamos e passávamos as tardes a jogar. Relembro esses tempos com muito carinho, sei que sempre que me recordo de casa, recordo-me de Lagos.

CL – Qual a primeira coisa que farias se pudesses dar "um salto" a Portugal neste momento?
BB –
Se pudesse dar um salto a Portugal... Aproveitaria para estar com as pessoas que me são mais chegadas. Muitas vezes, um abraço ou simplesmente estar perto dos que mais gostamos consegue fazer toda a diferença na forma como encaramos a vida. É, sem dúvida, aquilo de que sinto mais falta nesta minha aventura nos Estados Unidos.

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Desporto em tempo de pandemia

CL – Como é que a pandemia veio afectar o decorrer das coisas para ti, especialmente tendo em conta que estás ligado ao Desporto, uma das áreas que, em Portugal, tem visto treinos e jogos suspensos devido aos sucessivos Estados de Emergência?
BB –
Por sorte, apesar da situação aqui também não estar nada bem, todos os eventos desportivos se mantiveram; foram apenas adiados. Claro que, a nível de treinos, sofremos algumas alterações menos positivas, tornando todo o processo mais cansativo e desagradável. A nível académico também existiram alterações, passando grande parte do ensino presencial para ensino à distância, online, de forma a evitar grandes ajuntamentos na comunidade escolar.

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Futuro e lições valiosas

CL – Planos para o futuro?
BB –
Terminar o meu curso, dentro dos objectivos que delimitei para mim e, em seguida, entrar no mercado de trabalho, preferencialmente dentro da minha área, que é Marketing. Para já, tenho intenções de ficar nos Estados Unidos, mas, mais tarde, gostaria de regressar a Portugal. Como diz o provérbio popular, "bom filho a casa torna".

CL – Que conselho(s) darias a alguém que tem dúvidas quanto ao futuro académico e/ou profissional, ou que apenas pretenda dar outro sentido à sua vida mas tenha receio de sair do país?
BB –
Diria às pessoas para realmente abraçarem as oportunidades que vão surgindo, e não terem receio de ir atrás de novos desafios e aventuras. Acredito que ter a experiência de sair da nossa zona de conforto é o que nos molda para sermos pessoas mais resilientes e sem medos.

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In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº364 · FEVEREIRO 2021

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