Artigo publicado na edição de Agosto da Revista Nova Costa de Oiro, em https://www.novacostadeoiro.com
Vive no mar, mas não é um peixe.
É, sim, um molusco, que na nomenclatura binomial ou binária dá pelo nome de sepia officinalis. Cá, pela nossa terra, conhecemo-lo vulgarmente por choco.
Este molusco tem um corpo oval achatado, com uma concha interna, a que se chama siba. Dispõe de oito braços com fiadas de ventosas e dois tentáculos longos e retrácteis que utiliza para capturar as presas (habitualmente camarões, bivalves e algumas espécies piscícolas).
O corpo cinzento-esbranquiçado apresenta frequentemente bandas dorsais escuras e pode atingir até cerca de 4 quilogramas de peso, nos cerca de dois anos de longevidade na natureza.
O choco-comum pode ser encontrado no Atlântico Nordeste, no Arquipélago da Madeira e no Mar Mediterrâneo, onde habita junto ao fundo marinho. Para se defenderem dos seus predadores, os chocos têm a rara capacidade de mudarem de cor e padrão do corpo (um sofisticado processo de «camuflagem»).
O uso da tinta preta (a que chamamos «ferrado») é outro dos seus recursos para evitar a sua captura. Podem ser pescados em redes, ou em covos (armadilhas ou «gaiolas» de rede, onde se coloca isco para o atrair»). Contudo, a pesca com recurso a «toneiras» (também chamadas «palhaços») é a que permite a melhor e mais saborosa captura da espécie.
Para quem possa desconhecer, a «toneira» é um aparelho de pesca com um lastro de formato fusiforme, um orifício na extremidade que se prende à linha e uma coroa de anzóis na outra extremidade, onde se captura o choco.
Acima de tudo, esta forma de pescar é bem divertida de se praticar quando nos encontramos num barco e estamos na presença de um pescador amador, ou «maçarico», que na ânsia de colocar o choco a bordo, permite que este largue a sua tinta ou ferrado por toda a embarcação.
Nesta edição, apresentamos a nossa receita de choco assado com tinta:
* Lavar os chocos (para terem a «tinta» que se pretende terão de ser sido capturados recentemente e não terem passado por gelo).
* Colocá-los na grelha do grelhador de carvão, tendo o cuidado de ao virá-los não rebentarmos a bolsa do ferrado.
* Quando os chocos estiverem assados a gosto (nós, pessoalmente, não gostamos de excesso de assadura), coloca-mo-los numa travessa ou taça funda, cortando-os em pedaços.
* Temperar generosamente de azeite, um pouco de pimenta preta moída na hora, uma pequena pitada de sal marinho, ou de flor de sal e vinagre.
* Juntar cebola picada, salsa e envolver tudo, misturando muito bem.
* Acompanhar com batata cozida, com casca (que foi pelada após a cozedura). Usar pão, muito e bom pão, para «mergulhar» no saboroso molho e acompanhar com um copo de vinho tinto de boa qualidade.
Uma última nota sobre o choco. Há um «ditado» algarvio (se puder ser chamado assim...) que o refere e que é o seguinte: «Vai-te imbora choque, que fazes a água turva»... Mas este só o aplicamos quando já estamos tão fartos de aturar alguém e em vez de o mandarmos directamente para «aquela parte» (ou seja, para a m***@) usamos este saboroso molusco e a sua tinta para o fazermos...
Epicuro