Decorrido mais de um ano de pandemia, naturalmente existiram algumas mudanças na nossa relação com as viagens, pelo que a chegada inesperada do coronavírus pode ter semeado algumas dúvidas e anseios pelo globo na hora de viajar.
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Beatriz Maio
Marta Ferreira
Tendo por arma a vacinação, existem já países a viver uma espécie de normalidade, como é caso da Austrália e Nova Zelândia, com concertos a decorrer sem máscara ou distanciamento social obrigatórios. Se, por um lado, existe "luz ao fundo do túnel", por outro, a crescente expressão das novas variantes do vírus em Portugal parecem agravar cada vez mais o cenário – Lisboa e Vale do Tejo continuam a ser as zonas mais preocupantes, somando-se agora a região algarvia, que tem vindo a regredir no Plano de Desconfinamento em função do aumento de casos nos últimos meses.
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Mas será que o receio impede os turistas de viajar em tempo de pandemia? Porquê escolher Lagos?
São diversos os factores que podem ditar as deslocações internacionais, tais como a necessidade de quarentena obrigatória. Actualmente, Portugal tem as fronteiras abertas para os viajantes oriundos de qualquer parte do mundo, desde que se façam acompanhar de um Certificado Digital Covid da União Europeia. Contudo, os requisitos a cumprir à chegada variam consoante o local de partida. Por exemplo, para passageiros provenientes de África do Sul, Brasil, Índia, Nepal e Reino Unido, é obrigatório, após entrada em Portugal continental, o cumprimento de um período de isolamento profilático de 14 dias. No caso dos turistas abordados pelo CL, procedentes da Bulgária, Espanha, Macau, Irlanda e Braga, respectivamente, nenhum foi sujeito a esta medida.
Próximo à Praça Gil Eanes, o CL teve oportunidade de conversar com um casal de alemães que reside na Bulgária e decidiu viajar com os dois filhos menores. Esta é a primeira vez que a família inteira visita a cidade, apesar de terem parentes que se mudaram para Portugal há cerca de um ano. Como tal, Lagos foi a primeira opção para passar as férias, que se estenderão por 3 semanas. «Não tivemos medos ou receios antes de vir ou ao planear a viagem», admitiram.
A família não terá que realizar o período de quarentena no regresso a casa, visto que na Bulgária não se aplica esta medida para quem chega de Portugal. A única exigência foi a realização de teste Covid antes de embarcar no avião, caso contrário, não seria possível viajar.
Em seguida, avistou-se um outro casal, desta vez acompanhado da filha de 2 anos. Originais de Málaga, fizeram a deslocação de carro, sendo esta possível devido à proximidade entre Portugal e Espanha, o que lhes permitiu eleger o destino para um período de descanso de uma semana: «Escolhemos o Algarve por estar mais perto de Espanha e pelo facto de não termos que apanhar avião», explicaram.
A possibilidade de se deslocarem sem ter que recorrer a um transporte público foi algo que os incentivou a viajar. Lagos não será a única cidade que a família pretende visitar, aliás, o intuito é passear um pouco por todo o Algarve. Além disso, ambos estão já vacinados, o que proporcionou um sentimento de descontração e ausência de dúvidas em marcar férias.
Junto à Avenida dos Descobrimentos, um grupo de 5 jovens macaenses – 4 a residir em Lisboa há um ano e meio e 1 no Porto – caminhava junto ao mar. Deslocaram-se até ao sul do país para passar 5 dias. Como nunca tinham estado no Algarve, decidiram seguir o conselho de uma amiga que lhes recomendou a «cidade incrível» que é Lagos, nas palavras da própria.
Apesar de não terem ainda a vacina, sentiram-se seguros em realizar esta viagem e admitem estar habituados a lidar com a pandemia dado o ambiente que se vive em Portugal desde Março de 2020. Neste sentido, acreditam que tendo todos os cuidados não haverá nada a temer: «Utilizamos máscara o tempo todo e estamos a aguardar a vacina».
Junto à Igreja de Santa Maria passeava um outro casal jovem, vindo de Braga. Nunca tinham estado em Lagos e aproveitavam o dia solarengo de ontem para conhecer a cidade. Há vários anos que não visitavam o Algarve, pelo que decidiram perder-se nos encantos lacobrigenses. Chegaram no dia 6 de Julho, terça-feira, e prevêem ficar até domingo, dia 11.
Tendo ouvido que Lagos é «uma cidade muito bonita», optaram por cá vir e não acabaram decepcionados – aliás, adoraram o Centro Histórico. O receio de viajar até ao sul não ficou de lado, mas também não foi um impedimento. No caso, um possui já a vacina, sendo trabalhador num hospital; o outro tem a mesma agendada para o dia 16 deste mês.
Ambos crêem que este é um período de apreensão para todos os portugueses, verificando, contudo, que existem muitos a não cumprir com as normas de saúde impostas: «Reparámos que há uma despreocupação para com a pandemia aqui no Algarve, principalmente entre os jovens turistas dos 14 aos 20 anos de idade, que circulam sem máscara».
Por fim, na Rua Infante de Sagres, foi vez de falar com um casal de irlandeses, com idades a rondar os 60 anos. Estão, pela quinta vez, de volta ao Algarve, sendo a região já familiar para ambos. Assim, decidiram "arriscar" por mais um ano e, tal como os bracarenses, ficarão também até domingo. «Como já temos a vacina e fizemos o teste, sentimo-nos completamente seguros», notaram. Inclusive, a senhora esteve infectada com o vírus em tempos; uma vez recuperada, viaja agora mais tranquila.
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A óptica dos comerciantes
Ao conversar com uma vendedora de viagens de barco a operar na Avenida, foi possível perceber que a afluência de turistas na cidade vem a ser cada vez menor: «Diria menos de um terço, talvez, em relação ao ano passado», apontou, destacando que «antes da pandemia, estava sempre tudo cheio; aqui, e em todo o lado».
Com respeito ao Verão, as perspectivas são algo baixas. Ainda assim, notou que a nacionalidade predominante é a espanhola. Relativamente ao cumprimento das regras por parte dos turistas, alguns esquecimentos parecem denotar um grau de confiança significativo: «Por vezes, nós [trabalhadores] é que temos de pedir para os turistas porem a máscara. Os portugueses cumprem mais as regras», comparou.
À sombra da sua estação móvel de artesanato, um vendedor regular da Praça Gil Eanes descreveu o Centro Histórico como «super vazio» este ano. E acrescentou: «Ou há poucos turistas, ou não passam aqui. Ficam nos hóteis ou nas casas alugadas. A sensação que tenho é que há menos que no ano passado». Em sua opinião, cogita que algumas pessoas ainda sintam receio de viajar e «não só em Portugal, mas em todo o lado». O Verão de 2021 é para si «uma icógnita», especialmente a par das novas variantes.
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A esperança é de que os próximos meses de calor tragam, de novo, o turismo massivo que caracteriza Lagos e fomenta a sua economia. Recorde-se que, à data, o concelho regista mais de 120 casos activos por 100.000 habitantes, valor correspondente à categoria de "risco extremamente elevado" e que acarreta consigo medidas extremamente prejudiciais à saúde do comércio local, especialmente ao nível da restauração e bebidas.