Não é novidade que o Algarve tem a taxa de vacinação mais baixa do país. À data, 76% da população algarvia possui o esquema vacinal completo. Mas mesmo por entre mitos, anseios, negacionismo e fake news, o que é certo é que a nível nacional já foram atingidos 84,38%, conforme indica o último relatório da Direcção-Geral da Saúde (DGS), a par da descida da taxa de incidência de infecções a nível nacional, com 137,4 casos por 100 mil habitantes e uma taxa de transmissão abaixo de 1.
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Beatriz Maio
Marta Ferreira
No caso de Lagos e com base em relatos recolhidos pelo nosso jornal tendo em conta a diversidade de faixas etárias, a experiência de vacinação mostrou ter sido algo divergente: se para alguns o processo foi rápido, para outros demorou bem mais do que o previsto. Ao que o CL pôde apurar, e apesar de ocasionais, houve situações em que os utentes tiveram de esperar largas horas para serem vacinados, mesmo com marcação prévia, especialmente ao fim-de-semana. Ainda assim, em geral o feedback é positivo.
Maria Paula Martins, tem 12 anos, é estudante lacobrigense e, tal como os restantes entrevistados, foi vacinada no Centro de Vacinação de Lagos. A mãe tratou de agendar a vacina online, no website do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que ocorreu sem dificuldades, resultando na confirmação através de mensagem telefónica.
Aguardou cerca de 40 minutos desde que chegou até que foi vacinada, processo que decorreu, segundo a mesma, sem quaisquer falhas. Após a toma, não sofreu fortes efeitos secundários; apenas cansaço, sentindo-se totalmente recuperada no dia seguinte. Foi-lhe administrada a Pfizer, contudo, sem lhe explicarem o porquê.
Contou ao CL que os profissionais do centro de vacinação «foram simpáticos» e esclareceram as dúvidas que tinha. Não teve conhecimento de mitos sobre a vacina e, como tal, não sentiu receio em ser vacinada. Inclusive, foi-lhe dada pelos pais a oportunidade de decisão.
Martim Silva, de 18 anos, monitor de crianças e residente em Lagos, não destacou aspectos negativos no decorrer do processo. Do agendamento à organização no local de vacinação, afirma ter corrido tudo bem e com rapidez.
Realizou a sua inscrição também online, porém com algumas dificuldades, visto que o website do SNS constantemente falhava e não permitia finalizar o pedido. Contudo, com a ajuda da irmã conseguiu realizar a marcação ao fim de algumas tentativas.
Esperou cerca de 40 minutos até à toma da vacina. Primeiro, integrou a fila que existia para entrar por 20 minutos; depois de preenchida a ficha atribuída pela recepcionista, voltou então a aguardar novamente o mesmo tempo. Nada aponta de negativo sobre o atendimento por parte dos profissionais de saúde que o atenderam.
Nos dois dias seguintes, experienciou alguns sintomas adversos, nomeadamente febre, dores de cabeça e musculares, assim como vómitos. Admitiu que a primeira noite foi a pior. Foi-lhe administrada a Johnson & Johnson, da Janssen, também sem qualquer explicação apresentada pelos profissionais de saúde para o motivo da inoculação desta vacina em detrimento de outras.
Martim foi infectado com Covid-19 em Novembro do ano passado. A principal razão que o levou a optar por ser vacinado foi precisamente reduzir os efeitos colaterais do vírus. Nunca hesitou quanto à vacina, contudo, confessa ter ouvido dizer que inseriam um chip dentro da mesma. São vários os mitos que se espalharam desde os primeiros desenvolvimentos científicos, sendo este
apenas um de tantos.
Hugo Veiga, 24 anos, reside em Lagos, é licenciado em Direito e estudante de mestrado. Afirma ter tido uma «experiência calma» no âmbito da vacinação, especialmente depois de alguns testemunhos positivos que o tranquilizaram de antemão: «Estava mais reticente relativamente aos efeitos secundários, que, apesar de terem sido fortes, foram bastante suportáveis e de curta duração», recorda.
No seu caso, o agendamento foi relativamente rápido, embora tenha ficado em lista de espera após a primeira tentativa de pedido. A primeira toma foi incrivelmente célere, sendo que 2 minutos depois da hora marcada já estava a ser vacinado pela enfermeira. Neste sentido, caracterizou positivamente o atendimento prestado no Centro de Vacinação de Lagos, louvando «todo o trabalho e profissionalismo prestados [pelas equipas] à comunidade». Também a si não lhe foi explicado o porquê de ter tomado a Johnsson.
Considera que o facto de se desconhecerem ainda os efeitos da vacina a longo prazo pode levar a que alguns não a queiram tomar, assim como «a rapidez com que a vacina foi concebida e os poucos testes pelos quais passou» – argumentos que ouviu com alguma frequência, mas que, segundo o próprio, «não correspondem exactamente à verdade se fizermos uma pesquisa
rápida».
Também para Rita Ferreira, lacobrigense de 31 anos e estilista de unhas, o processo «correu bem e foi super rápido». Procedeu igualmente ao agendamento no site do SNS, tarefa que considerou fácil e simples. Esperou cerca de 15 minutos para tomar a primeira dose; já na segunda, foi atendida de imediato. Contou-nos que presenciou algum desrespeito pelas normas de segurança impostas pela Direcção-Geral da Saúde, como por exemplo na fila para o centro, sendo que nem sempre a distância de segurança foi cumprida.
Numa escala de 0 a 10, avalia o atendimento que recebeu com 8 pois pensa que deveriam ser fornecidas mais informações aos utentes sobre a vacina, aproveitando assim o tempo de espera. Foi-lhe administrada a Pfizer, uma vez mais, sem qualquer justificação.
Os sintomas que experienciou na primeira dose foram mais leves que os da segunda. De apenas dores no braço, passou a sentir fadiga e sono. Tal como Martim, também Rita teve conhecimento do mito de que a vacina seria um chip implantado.
Ana Paula Figueira, 60 anos, recepcionista e residente na Vila da Luz. Rapidamente tratou do agendamento pela Internet e «num curto espaço de tempo» recebeu a mensagem com hora e
data para se apresentar.
Partilhou que no centro de vacinação «estava tudo muito bem organizado», sem aglomerados de pessoas. Chegou à hora marcada e não teve que esperar. De imediato preencheu ficha e entrou no gabinete onde lhe foi administrada a vacina: «Decorreu tudo com eficácia», recordou, a seu ver, sem imprecisões ou problemas. Teve leves efeitos secundários, como dores no braço onde foi dada a vacina. Contudo, e mesmo tendo sido já há 3 meses, confessou que ainda as sente. Não teve dores de cabeça, no corpo ou febre.
Foi-lhe administrada, também sem apresentação de motivo, a Johnson & Johnson. Revelou que o atendimento foi agradável e que a equipa foi «bastante simpática». Embora não tivesse medo ou dúvidas, estava ligeiramente apreensiva devido aos efeitos que já várias pessoas próximas de si lhe haviam relatado após a toma. Acreditava que esta seria a que apresentava sintomas mais fortes por ser apenas administrada uma dose, no entanto, não experienciou nenhum efeito secundário alarmante.
Também Ana Paula se deparou com alguns mitos, como, por exemplo, o de que a vacina seria desnecessária porque não teria qualquer efeito. Não obstante, pesquisou e informou-se relativamente à taxa de mortalidade, bem como aos efeitos positivos que se verificaram nos vacinados, constatando que quem foi infectado posteriormente teve «efeitos mais mitigados e complicações bastante diminutas».
Maria José Escala, 72 anos, reformada. Foi através de uma chamada telefónica recebida que agendou a vacina. Considera que este foi fácil de realizar e que todo o processo de vacinação correu «muito bem», tendo durado apenas uns 10 minutos.
Nenhuma falha tem a mencionar no serviço que lhe foi prestado. Na sua opinião, o atendimento por parte dos profissionais presentes no Centro de Vacinação de Lagos foi «bom». Tal como a outros, foi-lhe administrada a Johnson & Johnson, que aceitou sem que nenhuma explicação lhe fosse oferecida.
Achou por bem ser vacinada e pensa que «todos deveriam ser». Embora tenha ouvido dizer que «a vacina não valia de nada», Maria José concorda plenamente com a vacinação.
Por fim, Beatriz Pacheco, 23 anos, advogada estagiária e residente em Odiáxere, relatou uma situação anómala face aos restantes. Se por um lado o processo de agendamento online foi «simples e rápido» (mesmo tendo permanecido em lista de espera por 4 dias úteis), por outro, no dia da primeira dose experienciou precisamente o contrário: «Esperei 3 horas até ser atendida. A minha vacinação estava agendada para as 15:30 horas e só consegui ser atendida às 18:30 horas. Esperei ao sol, ao calor e de pé», contou. Estavam na mesma situação outros tantos utentes, numa fila que se prolongava pela escadaria que dá acesso ao centro de
vacinação.
Após ter entrado, já na sala de espera, foi chamada por volta das 19:00 horas. Lá, informaram-na de que aquele tinha sido dos piores dias devido à «falta de enfermeiros» para administrar as doses, factor que aponta como «a grande falha» deste processo. Ainda assim, descreve os profissionais com quem se cruzou como «acessíveis e simpáticos» apesar dos imprevistos.
Beatriz tomou Moderna, com a explicação de que naquele dia era a vacina que estava a ser dada e, tal como os restantes, não pôde escolher. Deparou-se também, a dada altura, com o famoso mito do chip que visa «controlar a população», contudo, optou por ser vacinada «por questões de saúde pública, para poder ajudar no combate à pandemia» e ainda «para poder circular sem restrições».
Por forma a fazer um balanço deste processo, perceber se são muitos os que faltam às marcações, qual a faixa etária que mais aderiu e ainda se algo poderia ter sido feito de forma distinta não só em termos logísticos, mas também de sensibilização para a importância da toma da vacina, o jornal Correio de Lagos tentou contactar Paulo Morgado, Presidente do Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, bem como a responsável pelo Centro de Vacinação de Lagos, enfermeira Isabel Pedro, através do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Barlavento. Contudo, não foi obtida qualquer resposta por parte das duas entidades.
À data, os centros das Terras do Infante ainda se encontram activos. Com o país e a região já na recta final, o previsto seria que a extinção dos centros de vacinação acontecesse de forma gradual – quando 85% da população tivesse já as duas doses –, conforme anunciado pelo Vice-Almirante Gouveia e Melo em Agosto passado. Inclusive, vários foram já desactivados, como é o caso do centro de vacinação de Portimão, que se encontrava em funcionamento no Pavilhão Gimnodesportivo da cidade e encerrou domingo, dia 19 de Setembro. Perante este cenário, as doses passam a ser administradas no Centro de Saúde local.
Sobre os que continuam em funcionamento, o Primeiro-Ministro António Costa adiantou ontem, dia 23 de Setembro, após reunião do Conselho de Ministros, que se irão manter, para já, como estão, ficando assegurada uma terceira dose da vacina para grupos considerados de risco consoante decisão futura das autoridades de saúde.
No que respeita ao Centro de Vacinação de Lagos, foi-nos adiantado pelo Centro de Saúde que não existe ainda previsão para o seu encerramento.
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Imagens:
ARS / Algarve (sítio web).