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Eleições Autárquicas 2021: Entrevista a Manuel Marreiros, candidato do Grupo de Cidadãos Independentes "Renascer R" à presidência da Câmara de Aljezur: «Não se sabe para onde caminhamos e quem conduz os destinos do município. Não há rumo»

Eleições Autárquicas 2021: Entrevista a Manuel Marreiros, candidato do Grupo de Cidadãos Independentes "Renascer R" à presidência da Câmara de Aljezur: «Não se sabe para onde caminhamos e quem conduz os destinos do município. Não há rumo»

Tal como o CL anunciou em primeira mão na passada edição impressa de Junho, o antigo autarca Manuel Marreiros é candidato à Câmara de Aljezur pelo Grupo de Cidadãos Independentes “Renascer R”, o qual concorre, também, à Assembleia Municipal e às quatro Assembleias de Freguesia do concelho – Aljezur, Bordeira, Rogil e Odeceixe.

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Manuel Marreiros, de 64 anos, advogado, foi presidente da Câmara Municipal de Aljezur durante 20 anos, tendo cumprido, como independente, três mandatos pela CDU, entre 1989 e 2001, e dois pelo PS, de 2001 a 2009. O ex-autarca aljezurense, que também chegou à presidência da Assembleia Municipal, já se tinha retirado da política activa, deixando espaço para José Amarelinho que cumpria três mandatos, quando renunciou em 2018, devido a um processo judicial em que foi condenado. Para o seu lugar, avançou José Gonçalves, actual Presidente da Câmara.

No entanto, Manuel Marreiros decidiu regressar às lides políticas, tal como o próprio já tinha admitido ao nosso jornal numa entrevista publicada em Dezembro de 2020, por ocasião do Festival da Batata-Doce, na qualidade de Presidente da Direcção da Associação de Produtores da Batata-Doce de Aljezur. Nessa altura, deu a entender que estaria disponível para se candidatar à Câmara Municipal, sustentando que a população o abordava e incentivava a tomar uma posição.

Porém, Manuel Marreiros, desde então, manteve-se em silêncio durante praticamente seis meses, apesar dos insistentes contactos da comunicação social. Interessa, pois, desvendar as razões que determinam a sua ida às urnas no dia 26 de Setembro de 2021, o que fez em entrevista por escrito ao CL, antes da entrega das listas no Tribunal de Lagos. «A situação actual deve preocupar todos os aljezurenses», alertou, num recado à gestão camarária, liderada pelo socialista José Gonçalves.

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Nota introdutória

Com as notícias sempre em actualização, hoje, dia 12 de Agosto, completamos esta entrevista que, por lapso técnico, não foi publicada na íntegra.

Fica esclarecido que, ao contrário do que foi referido na primeira publicação datada de dia 7 de Agosto, Manuel Marreiros só não respondeu ao conjunto de perguntas porque parte delas não lhe foi enviada.

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Correio de Lagos – Em silêncio estratégico ou em reflexão, passados seis meses Manuel Marreiros confirmou que é candidato independente à Câmara Municipal de Aljezur. Tinha alguma esperança de concorrer pelo PS, cuja escolha recaiu em José Gonçalves, actual presidente? O que falhou?

Manuel Marreiros – Quando coloquei a hipótese de concorrer à Câmara Municipal já sabia que não iria ser pelo PS. Os partidos em regra “reconduzem” quem está no poder independentemente do trabalho desenvolvido. Ninguém faz uma avaliação de desempenho de um mandato. Os partidos só aparecem quando há eleições.

CL – Ainda na recolha de assinaturas mesmo em tempo de pandemia, chegou a equacionar concorrer numa coligação com outros partidos?

MM – Apesar de ter sido sondado, nunca pensei em concorrer numa coligação de partidos.

CL – Quando admitiu candidatar-se a presidente da Câmara Municipal de Aljezur numa lista de independentes, houve quem comentasse que o senhor pensaria tratar-se de um processo fácil a recolha de assinaturas, o que não terá acontecido. Seria como "assobiar e os pássaros viriam ao seu encontro". Sentiu dificuldades?

MM – A apresentação de uma candidatura independente requer procedimentos com que os partidos não têm de se preocupar o que lhes dá alguma vantagem na formação das listas. Os partidos podem completar as listas até ao último dia do prazo para apresentação das candidaturas. Os independentes têm primeiro de completar as listas porque na recolha das assinaturas essas listas têm de estar disponíveis para que os cidadãos as possam consultar no momento da assinatura.

Esta candidatura avançou tardiamente e a nossa primeira preocupação foi finalizar as listas para dar início à recolha de assinaturas. As listas foram concluídas duas semanas antes do último dia do prazo para a sua entrega. Não fazíamos a mínima ideia de como iria decorrer a recolha de assinaturas, embora sentíssemos que o ambiente era favorável. Tínhamos apenas duas semanas para recolher as assinaturas e não obstante a maioria das pessoas estar a trabalhar e outras mais recolhidas por força da pandemia, a recolha de assinaturas foi um grande sucesso uma vez que recolhemos centenas de assinaturas várias vezes acima do mínimo legal.

CL – Falou-se, em Aljezur, que chegou a iniciar contactos com o Partido Comunista Português (PCP), mas que este partido não o quis, e com Bloco de Esquerda através do deputado João Vasconcelos. O que se passou de concreto?

MM – Mais especulação. Como declararei a esse jornal há uns meses atrás, apenas admitiria concorrer pelo PS.

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«Voltei pela minha terra e pelas suas gentes»

CL – Em Aljezur, comenta-se que foi equacionada a hipótese de o seu nome ser incluído na próxima lista de candidatos a deputados do PS pelo círculo eleitoral de Faro, nas eleições legislativas a realizar em 2023, para o senhor não concorrer, agora, como independente à presidência da Câmara Municipal. Esse cenário chegou mesmo a ser colocado? O que houve de concreto?

MM – Isso é mera especulação. Falei com o presidente da Federação Distrital do PS para lhe dar conhecimento da minha intenção de concorrer e apenas falámos sobre isso. Ninguém me fez essa proposta e nem a aceitaria. Nunca estive na política por ambicionar certos cargos. Voltei pela minha terra e pelas suas gentes para, com a dedicação com que sempre me entreguei, impulsionar o desenvolvimento do concelho e encontrar soluções para os graves problemas que atravessa.

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Ouve-se muito a frase «concelho abandonado»

CL – Essa motivação de regressar à política resulta da insistência da população em o abordar e incentivar a voltar à presidência da Câmara Municipal. Ou existem mais factores?

MM – O regresso à política resulta não só do apelo de muitas pessoas descontentes com a gestão municipal (ouve-se muito a frase “concelho abandonado”) como também da minha própria apreciação do estado das coisas, uma vez que face aos anos que estive na autarquia sei muito bem como esta deveria funcionar. A actual situação deve preocupar todos os aljezurenses.

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«O orçamento municipal é integralmente “comido” em despesas correntes e de funcionamento. O investimento é nulo. E porque nada se investe o município vem acumulando milhões de euros nos bancos. No entanto, estradas e caminhos estão num estado indescritível, infraestruturas e equipamentos degradam-se e não funcionam»

CL – Mas, afinal, existem assim tantas lacunas no concelho de Aljezur, trata-se de má gestão, falta de estratégia ou de liderança? O que falhou durante este mandato, na sua opinião? Quais os aspectos negativos do actual executivo camarário? E positivos?

MM – O programa do PS para as eleições de 2017 dizia que estava tudo planeado para aproveitar fundos comunitários. No entanto, não se apresentaram nenhuns projectos a esses fundos. O orçamento municipal é integralmente “comido” em despesas correntes e de funcionamento. O investimento é nulo. E porque nada se investe o município vem acumulando milhões de euros nos bancos. No entanto, estradas e caminhos estão num estado indescritível, infra-estruturas e equipamentos degradam-se e não funcionam.

Ou seja, não se pode dizer que exista algo parecido com gestão. Planeamento e estratégia não existem certamente e liderança muito menos. Não se sabe para onde caminhamos e não se sabe bem quem conduz os destinos do município. Não há rumo.

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«Os resultados eleitorais de há 4 anos foram um sinal de que algo já não estava bem. Nada se corrigiu e nem sequer se tentou»

CL – Não receia que parte dos eleitores entenda que já passou o seu "reinado" e que agora é tempo de dar continuidade aos seus sucessores?

MM – O “rei” em Aljezur é o povo e é ele que decide quem o vai representar na gestão municipal.

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CL – Foi Manuel Marreiros que, inclusivamente, integrou José Amarelinho e José Gonçalves na política, como o nosso jornal teve oportunidade de apurar nos discursos de apresentação da candidatura do PS em 2017. Já falou com eles sobre a sua decisão de ir a votos novamente? Qual a reacção?

MM – Quem está na gestão municipal tem de fazer obrigatoriamente uma avaliação pessoal do seu próprio desempenho. Bastaria essa ponderação para se ter a noção que se perdeu o dinamismo, iniciativa e planeamento que caracterizava a minha postura. Fui dando alertas ao longo dos anos. Os resultados eleitorais de há 4 anos foram um sinal de que algo já não estava bem. Nada se corrigiu e nem sequer se tentou. Por isso, não faria muito sentido esse diálogo. Contudo, transmiti a minha posição ao Presidente da Federação Distrital [de Faro, do Partido Socialista – n.d.r].

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«Temos “tropas” e muitos dos seus elementos são “recrutas”. É um sinal muito positivo trazer novas pessoas que se interessam pela política local»

CL – Apresenta candidaturas à Câmara Municipal, Assembleia Municipal e às quatro Assembleias de Freguesia do concelho de Aljezur. Já tem “tropas” para mais esta batalha? Quem são essas pessoas, o que fazem e que experiência política têm?

MM – Vamos concorrer à Câmara, à Assembleia Municipal e a todas as juntas de freguesia. Por isso, temos “tropas” e muitos dos seus elementos são “recrutas”. É um sinal muito positivo trazer novas pessoas que se interessem pela política local.

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«Nunca fui um presidente de gabinete. (...) Sabem quem sou, como sou e o que fiz»

CL – Já como presidente da Assembleia Municipal de Aljezur, foi condenado pelos tribunais a quatro anos e três meses de prisão com pena suspensa, e ao pagamento de 5.000 euros de multa à Almargem – Associação de Defesa do Património e do Ambiente do Algarve, pelo crime de prevaricação no licenciamento de obras na zona de Vale da Telha. Depois desta situação, receia poder vir a ser encarado com alguma desconfiança pelo eleitorado?

MM – Quando saí da Câmara, em 2009, nada trouxe a não ser o orgulho do enorme trabalho realizado no concelho ao longo de 20 anos e, acima de tudo, o reconhecimento e carinho da população que ainda hoje sinto.

É difícil encontrar no concelho uma infra-estrutura ou um equipamento que não se tenha tornado realidade durante os anos a que presidi à autarquia. Escolas novas, jardins-de-infância, infantários, estações de tratamento de esgotos novas (rede de esgotos de Arrifana e Praia de Odeceixe), dezenas e dezenas de quilómetros de novas estradas e de novas repavimentações, caminhos pavimentados, piscinas, pavilhão desportivo, campo de futebol relvado, pavilhão de feiras e exposições, abastecimento de água a toda zona sul do concelho, Vale da Telha, Arrifana, Monte Clérigo e reforço de abastecimento de água ao Rogil, Maria Vinagre e Odeceixe. Um trabalho extraordinário de abastecimento de água a quase 100% das pessoas que residem no campo, desde o mar até à serra, trabalho que foi exclusivamente realizado pelos operários do município e que se traduziu em dezenas e dezenas de quilómetros de condutas. Arrecadações de pescadores, portinho de pesca da Arrifana. Museu da Carrapateira, Museu Municipal, Museu Antoniano, Casa Museu, galeria de exposições Espaço Mais. Requalificação urbana de Odeceixe, Rogil, Carrapateira e variante de Odeceixe.Uma grande preocupação com a fixação de jovens, disponibilizando cerca de 40 habitações sociais, criação loteamentos municipais em Odeceixe, Maria Vinagre, Igreja Nova, Sítio da Cruz e Carrapateira, onde cerca de 200 famílias construíram as suas habitações. Zona industrial para atrair empresas (um dos maiores investimentos do município). Sempre uma grande preocupação com o apoio às coletividades nas suas atividades e construção das suas sedes. Grande atenção às escolas, aos idosos e às famílias carenciadas.

Com grande dinamismo e persistência conseguiram-se financiamentos comunitários e nacionais, o que se traduziu num contributo relevante e decisivo para a execução de quase todos os projectos acima referidos. E tudo isto feito sempre em diálogo e proximidade com as populações, apresentando e discutindo os projectos e iniciativas numa verdadeira democracia participativa.

Nunca fui um presidente de gabinete e não aparecia apenas de 4 em 4 anos. Andava na rua, num contacto muito directo com os cidadãos. Uns chamavam-me presidente e a maioria tratava-me por Manuel.

Infelizmente, toda a dinâmica traduzida nos projectos e iniciativas atrás enunciadas, perdeu-se. O investimento municipal, nos últimos anos, é nulo. Os financiamentos comunitários caíram em desuso e são residuais. Milhões de euros nos bancos mas estradas e caminhos em mau, equipamentos fechados, património municipal degradado, etc. Nos últimos anos não se construiu um único edifício/equipamento, não se construiu nenhuma habitação. O orçamento do município é consumido em despesas de funcionamento. Os cidadãos e empresas esperam e desesperam meses pela resposta de alguns serviços às suas pretensões.

Por tudo isto os eleitores sabem ao que vão e porque vão. Ninguém vai ao engano. Sabem quem sou, como sou e o que fiz. A facilidade com que recolhemos centenas de assinaturas é um sinal de que as pessoas acreditam, confiam e querem um novo rumo para o concelho.

CL – Como pensa que será gerida a Câmara Municipal de Aljezur se nenhum candidato conseguir a maioria absoluta? Como será aprovar, por exemplo, o orçamento anual do município?

MM – Não vejo nisso qualquer problema ou obstáculo. Após as eleições, o “calor” das campanhas esmorece. No meu primeiro mandato não tinha maioria e tudo funcionou. No terceiro mandato não tinha maioria na Assembleia Municipal e tudo correu com normalidade. Afinal, todos queremos o melhor para a nossa terra.

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«Se as famílias são pobres o concelho não poderá ser rico», afirma Manuel Marreiros, que garante debruçar-se, caso vença, sobre a recuperação de habitações abandonadas e «elaboração de projectos» com jus à melhoria das condições de vida em Aljezur

CL – Qual a primeira medida que tomará se voltar a ser presidente da Câmara Municipal de Aljezur e porquê?

MM – Há um grande conjunto de medidas prioritárias que têm de ser implementadas com a maior brevidade. De entre elas e a título meramente exemplificativo destaco a habitação.

As rendas praticadas são muito elevadas. Quando as famílias gastam mais de metade dos seus rendimentos na renda de casa, essas famílias serão sempre famílias pobres. Se as famílias são pobres o concelho não poderá ser rico. Por isso, recuperar as habitações que o município tem abandonadas na vila e construir novas habitações é prioritário. Iniciaremos de imediato a elaboração de projectos para posterior lançamento dos concursos das empreitadas.

As famílias deparam-se também com uma grande falta de vagas em infantário e atelier de ocupação de tempos livres para deixarem os filhos quando estão a trabalhar. É urgente pegar neste assunto.

De forma a produzir efeitos mais imediatos, olhar para o funcionamento dos serviços municipais. Alguns serviços municipais demoram meses e meses para dar resposta às pretensões das empresas e dos cidadãos. A burocratização absolutamente desnecessária instalou-se. O diálogo entre serviços municipais é escasso. Parece que há várias câmaras. Os funcionários estão desmotivados e o seu trabalho não brilha como eles gostariam. O acompanhamento político é inexistente. É crucial que se saiba que existe uma liderança. Por isso, a primeira medida será colocar a "máquina nos carris" e organizar um novo paradigma de funcionamento, unindo e motivando os funcionários num esforço conjunto dirigido a uma melhor e mais ágil resposta aos anseios de empresas e munícipes e à resolução dos muitos problemas que o concelho atravessa.

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«Quando saí deixei projectos de execução prontos e que depois ficaram na “gaveta”. Iremos pegar neles uma vez que já estão prontos. No entanto, a certeza que deixo é que haverá liderança, planeamento e acção. O ritmo de trabalho dos eleitos será totalmente diferente e os serviços municipais irão seguramente entrar numa linha de eficácia e eficiência»

CL – Neste momento, que mensagem pretende deixar aos aljezurenses e que projectos tem em carteira para valorizar o concelho?

MM – Tenho uma ideia muito clara das áreas que devem merecer uma atenção urgente e também dos projectos que devem ser implementados. Mas deixemos isso para o programa que está em preparação. No entanto, quando saí deixei projectos de execução prontos e que depois ficaram na “gaveta”. Iremos pegar neles uma vez que já estão prontos.

No entanto, a certeza que deixo é que haverá liderança, planeamento e acção. O ritmo de trabalho dos eleitos será totalmente diferente e os serviços municipais irão seguramente entrar numa linha de eficácia e eficiência de forma a dar respostas atempadas às solicitações dos munícipes.

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Carlos Conceição

José Manuel Oliveira

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