Entrevista ao presidente da Direcção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Elidérico Viegas, sobre o impacto do coronavírus
“O facto mais importante, neste momento, é estarmos a assistir a uma diminuição das reservas para a época turística, já que é nesse período que as empresas realizam as receitas para suportar os custos”, alerta, em entrevista ao «Correio de Lagos», o presidente da Direção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, sublinhando que “60 por cento” dessas unidades “registam cancelamentos para os próximos três meses” e até já foi solicitado o reembolso dos depósitos efetuados em “40 por cento” dos casos. E numa altura em que a secretária de Estado da Saúde, Jamila Madeira, garante que o Hospital de Faro está preparado para o coronavírus (Covid-19), aquele responsável do turismo algarvio volta a carga para avisar: “o Hospital de Faro não dispõe nem de condições técnicas nem de profissionais em quantidade suficiente para as necessidades normais e, por conseguinte, muito menos para responder a uma situação desta natureza.”
Correio de Lagos - Há uma semana, o senhor afirmou, em entrevista ao «Correio de Lagos, que não tinha conhecimento de terem sido canceladas reservas nos hotéis e empreendimentos turísticos do Algarve, devido ao coronavírus. E agora, qual é o ponto da situação?
Elidérico Viegas - A situação evoluiu negativamente, diria mesmo muito negativamente. Assim, de acordo com os últimos números disponíveis, 60% dos hotéis e empreendimentos turísticos registam cancelamentos para os próximos dois a três meses.
CL - De que países são esses turistas e qual o montante dos prejuízos para as empresas afetadas?
EV - As zonas geográficas e os hotéis menos expostos aos Operadores Turísticos (OT´s) são aquelas que estão mais afetadas, na medida em que comercializam diretamente, enquanto as unidades que trabalham com OT´s ainda não tomaram conhecimento dos cancelamentos.
Quarenta por cento dos cancelamentos solicitaram o reembolso dos depósitos realizados. Acresce que, apesar de a isso não estarem obrigados, quase todos os empreendimentos devolveram os adiantamentos efetuados.
Este é um processo em crescendo, logo não é possível determinar, pelo menos para já, os montantes exatos, uma vez que os valores aumentam diariamente.
“Congressos, reuniões empresariais e outros eventos foram cancelados ou transferidos para o final do ano”
CL - Que eventos estão a ser prejudicados no Algarve?
EV - Todos os eventos (congressos, reuniões empresariais, incentivos, etc.) foram cancelados ou transferidos para o final do ano, havendo mesmo eventos cancelados e/ou suspensos para 2021.
“Seria uma boa altura para o governo suspender as portagens na Via do Infante, tendo em vista incrementar os fluxos turísticos de proximidade, nomeadamente os oriundos da vizinha Espanha e mercado interno, sobretudo durante o período o período da Páscoa”
CL - Em face do agravamento da situação do coronavírus e dos casos já confirmados em Portugal, como encara o período da Páscoa no Algarve?
EV – O receio de viajar generalizou-se em todo o mundo, consubstanciado no medo em utilizar o transporte aéreo e os aeroportos, considerados os mais expostos ao coronavírus.
CL - Em face do agravamento da situação do coronavírus e dos casos já confirmados em Portugal, como encara o período da Páscoa no Algarve?
EV – O receio de viajar generalizou-se em todo o mundo, consubstanciado no medo em utilizar o transporte aéreo e os aeroportos, considerados os mais expostos ao coronavírus.
A Páscoa, pelo menos, vai ser afetada, bem como o início da chamada época turística, que é precisamente a Páscoa.
Pensamos que esta seria uma boa altura para o governo suspender as portagens na Via do Infante, tendo em vista incrementar os fluxos turísticos de proximidade, ñomeadamente os oriundos da vizinha Espanha e mercado interno, sobretudo durante o período da Páscoa.
“Preocupa, de facto, que as autoridades competentes ainda não tenham sido capazes de distribuir um Manual de Procedimentos para o sector da hotelaria e alojamento turístico”
CL - Disse, também há uma semana, que os hoteleiros e empresários de empreendimentos turísticos aguardavam indicações das autoridades de saúde em Portugal e do Governo para atuar perante a eventualidade de haver turistas contaminados no Algarve. O que já foi feito nesse sentido? Que medidas estão a ser tomadas?
EV - Preocupa, de facto, que as autoridades competentes ainda não tenham sido capazes de distribuir um Manual de Procedimentos para o sector da hotelaria e alojamento turístico. Continuamos a aguardar o cumprimento dessa promessa. Os turistas não estão alarmados, uma vez que as maiores preocupações são para a viagem.
Sendo o coronavírus importado do exterior, os hotéis são os locais mais expostos, não se compreendendo porque é que o governo esqueceu e/ou ignorou o turismo do Algarve nesta matéria – a maior sala de visitas do nosso País.
“O Hospital de Faro não tem condições para receber doentes normais, designadamente nas urgências, quanto mais para um eventual surto de infeções com coronavírus”
CL - A secretária de Estado da Saúde, Jamila Madeira, diz que o Hospital de Faro “está preparado” para acolher doentes afetados. Qual é a sua opinião? O Algarve está mesmo preparado para enfrentar o coronavírus?
EV - Não precisa ser especialista para saber que o Hospital de Faro não tem condições para receber doentes normais, designadamente nas urgências, quanto mais para um eventual surto de infeções com coronavírus.
O Hospital de Faro não dispõe nem de condições técnicas nem de profissionais em quantidade suficiente para as necessidades normais e, por conseguinte, muito menos para responder a uma situação desta natureza.
CL - Qual o prejuízo que pode representar para o turismo no Algarve a expansão desta pandemia?
EV - Os prejuízos podem ser enormes e incalculáveis não só para o Algarve, mas também para o nosso País. As expectativas são para que o surto seja controlado ou possa esbater-se de forma natural ao longo dos próximos tempos.
CL - Pode haver desemprego neste sector na época alta do turismo?
EV - É cedo para antecipar cenários dessa natureza.
CL- Disse que o governo ainda não anunciou medidas de apoio financeiro às empresas lesadas. Como está a situação atual? Já existem apoios?
EV - Neste campo, o Primeiro Ministro já anunciou que o governo, caso seja necessário, criava uma linha de crédito de 100 milhões de euros para apoiar as empresas. O problema é que uma linha de crédito não são subsídios a fundo perdido, são empréstimos que terão que ser pagos, e com juros.
O facto mais preocupante, neste momento, é estarmos a assistir a uma diminuição das reservas para a época turística, já que é nesse período que as empresas realizam as receitas para suportar os custos.
José Manuel Oliveira