Uma equipa de investigação conduziu um estudo para avaliar as experiências turísticas no Santuário de Fátima.
A forte ligação ao lugar e a experiência memorável são duas das dimensões que marcam a experiência de quem visita este lugar no centro do país.
No artigo científico Exploring Memorable Sacred Tourism Experiences and Place Attachment, publicado no International Journal of Religious Tourism and Pilgrimage, os investigadores procuraram avançar com novos contributos para o conhecimento das experiências turísticas em lugares sagrados, em particular os impactos que têm nas pessoas que os visitam, usando como caso de estudo o Santuário de Fátima.
“O turismo religioso é um segmento direcionado para pessoas cuja motivação para a visita é a fé, a busca da espiritualidade, a prática religiosa e a busca por experiências espirituais”, explica a docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Cláudia Seabra. “É apontado como uma das mais antigas formas de fazer turismo: já nas primeiras civilizações, as peregrinações a lugares religiosos movimentavam um grande número de pessoas em busca de espiritualidade e de fé”, acrescenta a também investigadora do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da Universidade de Coimbra.
Com recurso a um questionário, que foi respondido por 329 visitantes nacionais e internacionais no Santuário de Fátima, a equipa de investigação identificou “quatro características principais que marcam a experiência turística destas pessoas: 1) significado e revitalização; 2) hedonismo; 3) novidade; e 4) envolvimento”, adianta Cláudia Seabra.
Além da experiência turística, a equipa procurou também perceber de que forma cada visitante se liga e apega ao Santuário de Fátima. A análise dos dados permitiu “sinalizar quatro dimensões na forma como os visitantes se ligam a esta tipologia de lugar: 1) identidade; 2) dependência; 3) familiaridade; e 4) simbolismo”, destaca a investigadora.
“No caso das experiências turísticas, os visitantes consideram-nas memoráveis, porque aquelas experiências turísticas apresentam ʽsignificado e revitalizaçãoʼ, ʽhedonismoʼ, ʽnovidadeʼ e ʽenvolvimentoʼ. Os turistas consideram ainda que a visita ao Santuário de Fátima desperta um significado de ligação emocional, designada como ‘identidadeʼ, e de vontade de regressar, o que designamos como ʽdependênciaʼ”, elucida Cláudia Seabra. Já o elemento “simbolismo do lugar” é “quase transversal a todas as experiências dos mais de 320 turistas inquiridos”, acrescenta.
A investigadora do CEGOT elucida que este estudo permitiu mostrar que “as experiências turísticas em lugares sagrados são diferentes de outras experiências, porque trazem à maioria dos turistas sentimentos de êxtase, de vivenciamento de uma experiência única na vida, ao mesmo tempo libertadora e revitalizante, percecionando a visita como importante e com grande significado pessoal”.
“Atualmente, as peregrinações e a visita a locais sagrados movimentam milhares de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, as peregrinações a Fátima e o Caminho Português de Santiago são exemplos de peregrinações incontornáveis que atraem milhares de portugueses e turistas estrangeiros que vêm ao nosso país em busca de experiências memoráveis e únicas todos os anos. A Jornada Mundial da Juventude em Lisboa (JMJ2023) é um outro exemplo paradigmático”, destaca a docente.
Neste sentido, este estudo permite mostrar que “estes lugares revelam ter um valor único e insubstituível e, muito provavelmente, quem os visita vai querer revisitar”, sublinha Cláudia Seabra. Assim, “o entendimento das experiências turísticas em lugares sagrados é essencial para a gestão destes lugares”, acrescenta a investigadora.
No conjunto de recomendações apontadas neste estudo, Cláudia Seabra destaca que “as organizações públicas e privadas devem ser capazes de criar experiências que promovam o envolvimento na visita e a realização de atividades, assim como a proximidade com as comunidades locais. Usando novamente o exemplo da JMJ2023, o aspeto mais referenciado e valorizado pelos visitantes foi a proximidade e o envolvimento que tiveram com os residentes, o que deu lugar a uma experiência cultural mais imersiva, mais marcante. Estando nós num país considerado tão hospitaleiro, esta dimensão deve ser sempre valorizada. Para além de que os próprios residentes aceitam melhor e ganham também com o turismo”.
O estudo contou ainda com a participação dos investigadores do Instituto Politécnico de Viseu, Carla Silva, José Luís Abrantes e Manuel Reis. O artigo científico está disponível em https://doi.org/10.21427/38P9-MC74.