Empresas estão comprometidas em ser mais diversas, equitativas e inclusivas
Departamentos e equipas de trabalho especializadas, desenvolvimento de competências nas lideranças, medição e monitorização do estado atual e/ou das práticas DEI desenvolvidas são os recursos fundamentais para a progressão da área DEI nas empresas, revela o estudo sobre “Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) no meio empresarial português”, desenvolvido pelo BCSD Portugal, em parceria com a EY Portugal, no âmbito do Grupo de Trabalho de Diversidade, Equidade e Inclusão (GT DEI) e que reúne mais de 50 empresas associadas.
Num universo de 73 empresas – de setores como serviços, atividades de consultoria, indústrias transformadoras e atividades ligadas à construção e engenharia – e 96.757 colaboradores, 60% da força de trabalho é composta por colaboradores acima dos 43 anos e, à medida que a progressão para cargos de liderança avança, apenas 27,3% das mulheres ocupam cargos de direção executiva. O género masculino é o que apresenta maior progressão dentro das organizações. Por outro lado, o género feminino é o que possui mais contratos a tempo parcial e o masculino contratos de trabalho temporário.
“Os resultados deste estudo vão permitir às empresas identificar as áreas de melhoria e preparar o reforço de algumas das políticas e práticas, com o intuito de as tornar mais equitativas e inclusivas. Já são notáveis alguns esforços realizados nesse sentido, mas ainda há um longo caminho a percorrer. É com o intuito de transmitir conhecimento, partilhar boas práticas e ferramentas de aplicação e promover processos de mudança que a equipa do BCSD Portugal trabalha diretamente com o tecido empresarial português, contribuindo para a diminuição dos impactos e acrescentando valor às suas jornadas de DEI”, refere António Pires de Lima, Presidente do BCSD Portugal.
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Análise das dimensões Liderança, Cultura, Processos & políticas e Impacto Social
Suportado pelo modelo de maturidade DEI desenvolvido pela EY, o BCSD Portugal investigou a perceção de 1.376 colaboradores face à aplicação das práticas e princípios DEI nas empresas, em quatro dimensões: Liderança; Cultura; Processos & políticas; e Impacto Social. Há pontos fortes e fracos e há pontos de melhoria na definição de novas estratégias nas dimensões Liderança, Cultura e Processos & políticas. Pontos positivos: o compromisso com DEI na dimensão Liderança; a predominância do sentido de justiça na dimensão Cultura de empresa, e a atração e seleção de talento na dimensão Processos & políticas. Por oposição, os pontos menos positivos, mostram onde deverão ser canalizados os principais esforços das empresas. As Lideranças devem olhar com atenção para a comunicação da DEI; tornar a Cultura da empresa mais inclusiva e ao nível dos Processos & Políticas deverá apostar-se em formação.
No que se refere à priorização da organização na procura de fornecedores e parceiros que assumem os valores de DEI, os resultados mostram que 48,8% dos participantes não têm conhecimento sobre estas políticas.
Quando questionados sobre como é que a sua empresa desenvolve e implementa a DEI, 42,4% dos colaboradores assinala a opção “Não sei”. No que concerne à organização e gestão do tema, 30,7% apontam o Departamento de Recursos Humanos como principal dinamizador de DEI na empresa. Do estudo resulta, também, que, globalmente, os líderes apresentam perceções mais positivas que os colaboradores em relação à Liderança, Cultura e Processos & Políticas de DEI.
O progresso de DEI requer um esforço contínuo e, de acordo com a informação recolhida, as empresas dizem estar comprometidas em aumentar a sua ação sobre os diferentes grupos de diversidade, desenvolvendo, por exemplo, parcerias com associações estratégicas que lhes permitam ganhar conhecimento sobre as necessidades dos grupos diversos. Nesta jornada, as empresas demonstram uma clara ambição de futuro, em que a consolidação da DEI e a abrangência / expansão dos objetivos, metas e iniciativas a implementar são uma prioridade.
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Caracterização do tecido empresarial português
O tecido empresarial é maioritariamente masculino (53,9%) e 64,2% dos colaboradores na amostra com mais de 20 anos na mesma organização também são homens. Mais de 80% da força de trabalho é representada por colaboradores com idades compreendidas entre os 27 e os 58 anos e 60% da totalidade dos trabalhadores tem acima dos 43 anos.
Sobre os vínculos contratuais, os resultados mostram que: os Contratos a tempo parcial são detidos por 71,3% indivíduos do sexo feminino, face a 28,7% no sexo masculino; os Contratos sem termo são detidos por 57% dos colaboradores do sexo masculino face aos 43% do sexo feminino; e os Contratos a termo incerto detidos por 60,7% do sexo masculino, face aos 39,3% do sexo feminino. São também os indivíduos do sexo masculino que exercem mais trabalho temporário, numa percentagem de 75,5% face a 24,5% no sexo feminino. Os contratos a termo certo são assinados por 55,8% por indivíduos do sexo feminino, face a 44,2% do sexo masculino.
Ao nível da categoria funcional, verifica-se uma diferença significativa entre géneros, que aumenta ao longo da hierarquia, e que se acentua em especial nos cargos de liderança. As funções enquadráveis nas categorias de direção executiva e gestão e coordenação são representadas, maioritariamente, pelo género masculino, com 72,7% de homens na direção executiva e 66,1% na gestão e coordenação. A representatividade do género feminino diminui à medida que o grau de responsabilidade e complexidade do cargo aumenta, com uma representação que se inicia em 49,3% nas funções de administrativos e operacionais e diminui para uma representação de 27,3% na direção executiva. O género masculino tende a receber um vencimento mais alto do que o género feminino, em particular nos cargos de direção executiva, onde, dentro da mesma organização, por cada euro auferido pelos homens, as mulheres ganham, em média, apenas 89 cêntimos.
Segundo o estudo do BCSD Portugal, as organizações têm vindo a recrutar um maior número de colaboradores do género masculino, uma vez que, em 100 contratações realizadas, cerca de 57 são homens. No que se refere à retenção e progressão de talento na organização, verifica-se uma maior aposta no género masculino, uma vez que apenas 33,7% das promoções internas foram de colaboradores do género feminino.
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Caracterização da amostra:
O Estudo DEI, desenvolvido pelo BCSD Portugal em parceria com a EY, contou com a participação de 73 empresas que contemplam um universo de 96.757 colaboradores. Mais de metade da amostra é composta por colaboradores de Grandes empresas, 50,7%, seguindose as Médias empresas, com 20,5% e as Pequenas empresas, com 16,4%. A maior parte das empresas que participaram no estudo estão sediadas na Área Metropolitana de Lisboa, 57,5% e no Norte, 34,2%. Desta amostra 37% pertencem ao setor dos serviços, 16,4% desenvolvem atividades de consultoria, 13,7% são indústrias transformadoras e 9,6% exercem atividades ligadas à construção e engenharia.
O questionário de auscultação aos colaboradores contou com a participação de 1.376 colaboradores. Os participantes no questionário ocupam quadros técnicos, 40,7%, cargos administrativos e operacionais, 25,5%, funções de gestão e coordenação, 21,8%, direção executiva, 5,6% ou estágios, 4,3%. No que toca à longevidade dos inquiridos nas empresas onde pertencem, 33,4% tem entre um e cinco anos na empresa; 17,7% tem entre cinco e 10 anos; 16,4% tem mais de 20 anos, 15,2% tem entre 10 e 20 anos e 15% tem menos de um ano. 50,4% dos colaboradores que responderam ao questionário são do sexo feminino, 44,1% são do sexo masculino e 2,1% prefere não dizer. Quanto à faixa etária, 45,1% dos inquiridos têm entre 43 e 58 anos, 35,3% têm entre 27 e 42 anos, 11,5% têm entre 18 e 26 anos e 5,5% têm entre 59 e 67 anos. A comunidade LGBTQIA+ ficou representada por 4,7% dos inquiridos a responder “Sim”, 88,7% a responder “Não” e 6,6% “Prefere não dizer ou Não responde”. Os colaboradores com deficiência ou incapacidade representam 2,8% dos inquiridos.
As entrevistas semiestruturadas foram realizadas junto dos responsáveis de Recursos Humanos e / ou pelo pelouro da DEI nas empresas, a fim de recolher a visão compreensiva das empresas, em termos de estado atual e práticas mais relevantes, bem como expetativas futuras para o tema. Foram entrevistadas 10 empresas pertencentes aos setores dos Transportes e Mobilidade, Grande Consumo e Retalho, Energia, Industrial, Consultoria e serviços e Financeiro.
O BCSD Portugal analisou a força de trabalho e respetivo grau de diversidade, equidade e inclusão do tecido empresarial português, através do levantamento de indicadores sociodemográficos junto dos responsáveis de RH e/ou do pelouro DEI das empresas participantes, abrangendo grupos com diferentes marcadores de identidade. Os indicadores de caracterização da força de trabalho reportam ao ano completo transato, ou seja, 2022. Os dados recolhidos através do questionário, bem como as entrevistas dizem respeito ao mês de julho de 2023.