«Como nunca, em plena pandemia o Dia Mundial da Conservação da Natureza é de uma oportunidade absoluta» – é assim que se inicia a missiva enviada pela União Empresarial do Algarve (ALGFUTURO) ontem, dia 28 de Julho, à comunicação social regional.
Infra remete-se a continuação deste apelo da Direcção da ALGFUTURO à valorização e conservação do Algarve, intitulado "Salvar o Algarve: Ressuscitar a Natureza – Agarrar os descalabros e reconvertê-los com urgência":
Como nunca, em plena pandemia o dia mundial da conservação da natureza é de uma oportunidade absoluta.
Podem-se escrever e têm-se escrito vários tratados e outros trabalhos e realizado muitas conferencias mundiais, mas em particular relativamente às alterações climáticas, pegada ecológica (carbono), tudo o que tem a ver com aquecimento global e poluição da terra, ar e mar causadores de desgraças com dimensão diluviana.
Mas, sejamos mais limitados no espaço a analisar, confinado neste pequenino retângulo de 500.000ha do nosso Algarve, visto do ar, mas também pelo que constatamos em terra, apenas em cerca de meio século, o Algarve foi severamente devastado, a serra e o interior ocupando cerca de dois terços do espaço, em grande parte estão desertificados e o resto para lá caminha.
Desde há 3, 4 décadas os Dirigentes da Algfuturo (anteriormente Dirigentes de outras Associações) reclamam um programa específico para dotar a serra de povoamento florestal, captar mais população com incentivos á mobilidade e núcleos em zonas adequadas que disponham de infraestruturas coletivas, conducentes a uma qualidade de vida diferente dos núcleos urbanos, mas boa. Acompanhado de polos de desenvolvimento com pequenos parques para indústrias brancas.
Em vez disso, temos a saga dos incêndios sempre e sempre atribuídas ao azar, aos ventos e á degradação do meio, nunca assumindo as entidades publicas as suas responsabilidades.
O resultado é o que se sabe: sem o acima exposto e sem uma rede de pequenas e médias barragens ou condições para reter a água das chuvas, a água que tanta falta faz aos meios urbanos, agricultura e outras atividades, em vez de ir lentamente reforçando os canais aquíferos, vai e escapa torrencialmente para o mar.
Querem chamar a isto uma gestão inteligente? Não é. Isto é uma política suicidária.
Já falámos sobre a serra, vamos agora falar do mar e das rias, com o adelgaçamento do cordão dunar, o setor das pescas desde há anos abandonado e, infelizmente ainda muita poluição, responsável pela contaminação e mortandade dos bivalves na ria e zonas confinantes, a saúde pública em risco, são os pescadores e mariscadores as vítimas da negligência pública, riscos para a saúde e atentado á economia regional.
E o que dizer de uma região em que cerca de três quartos da população está concentrada numa pequena faixa de cerca de um terço da área total? Um crime.
Durante cerca de três décadas assistiu-se alegremente ao “plantar” de casas umas em cima das outras como colmeias, só que não há mel. Há consequências nefastas para a saúde e desenvolvimento económico e social. Este tipo de construção na cidade é excelente para a propagação de vírus como se tem verificado, talvez com um peso de mortos e derrocada económica inaceitável.
Este é um pequeno retrato, mas bem duro e em que muitos dos desastres não os temos de atribuir a um diabo invisível.
Grande parte do exposto tem uma componente de responsabilidade humana muito grande em que agora mais do que discursos de pompa e circunstância com efeitos eleitorais, o que têm a fazer não é desculparem-se, é arrepiarem caminho. E mais do que se agarrarem a balões de oxigénio com obras que eventualmente poderão nunca ver a luz do dia, o que têm é com os pés, as mãos e a cabeça agarrarem-se aos prejuízos acima referidos e reverterem-nos com urgência e prioridade máxima.