Estudo do ICVS – Life and Health Sciences Research Institute da Escola de Medicina da Universidade do Minho procurou perceber se os valores de uma molécula no sangue podem indicar um pior prognóstico nos doentes – e a resposta é certeira. Este biomarcador, a interleucina-6 (IL-6), pode ajudar a guiar o tratamento e a prever de forma mais precisa o desenvolvimento de complicações relacionadas com a Covid-19.
Um teste barato pode ajudar a prever a evolução dos pacientes com COVID-19. Como?
Ana Frias (Investigadora do ICVS), André Santa Cruz (Médico Internista no Hospital de Braga e Investigador do ICVS) e Ricardo Silvestre (Investigador do ICVS) fazem parte da equipa que avaliou a capacidade de uma molécula, a IL-6, sinalizar antecipadamente o agravamento da insuficiência respiratória, a consequente necessidade de ventilação mecânica dos doentes ou um desfecho fatal.
A equipa, que publicou o artigo científico no qual descrevem as conclusões na Frontiers in Immunology, percebeu que a subida dos níveis desta molécula estão associados a uma maior gravidade da doença.
«Em fase de pandemia, a utilização de um biomarcador [IL-6] que possa informar se nas 48 horas seguintes o doente vai melhorar ou piorar, pode ser uma ajuda crucial na definição de um nível de cuidados e de vigilância para cada doente, optimizando-se a gestão de recursos hospitalares que é crítica nesta fase», explica o Médico André Santa Cruz. O teste, que permite medir os níveis de IL-6, além do baixo custo é rápido – e fornece os resultados no próprio dia.
O que é a IL-6?
IL-6 é uma molécula que permite uma comunicação celular. As células do sistema imunológico utilizam uma série de moléculas – as citocinas – que permitem essa comunicação. E a IL-6 é uma delas, sendo uma proteína cuja expressão é aumentada significativamente em casos de inflamação. Na Covid-19, a IL-6 parece sinalizar bem o estado hiper-inflamatório induzido pelo vírus e que se verifica nos doentes internados em que a infecção tem um pior prognóstico.
Biomarcador predictivo para o paciente e para o SNS
«Qual é a grande vantagem que damos neste artigo? A IL-6 já tinha sido previamente associada como um marcador de COVID-19, mas a maioria dos estudos prévios fazem a avaliação do doente à entrada do hospital. Nós fizemos o seguimento durante toda a hospitalização. E isto permite-nos, através dos níveis da IL-6, prever o que vai ocorrer», explica o Investigador Ricardo Silvestre.
Num estudo com 46 pacientes, a análise laboratorial conseguiu notar estas diferenças. «O doente passa por vários momentos durante o seu internamento. Há doentes que começam logo a melhorar, outros que têm uma fase de agravamento e depois melhoram, e há um conjunto de doentes que piora progressivamente», contextualiza André Santa Cruz. «Percebemos que a IL-6 tem esse dinamismo de acompanhar o curso da infecção ao longo do tempo e isso permite-nos perceber que a subida da IL-6 se dá em fases concrectas – habitualmente, entre o 7.º e o 10.º dia de sintomas– e é limitada no tempo. A grande vantagem é que existem fármacos no mercado que podem antagonizar a IL-6, diminuindo essa inflamação excessiva [que cria complicações]», explica.
Este trabalho pode ter contribuído para uma utilização eficaz desse tipo de fármacos no futuro, o que seriam excelentes notícias para o tratamento da Covid-19.