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OMD alerta para fuga de médicos dentistas e exige medidas económicas urgentes no OE26

OMD alerta para fuga de médicos dentistas e exige medidas económicas urgentes no OE26

A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) divulga o Diagnóstico à Profissão 2025, que evidencia preocupações crescentes com, estabilidade e reconhecimento da profissão, reforçando a necessidade de medidas estruturais no Orçamento do Estado 2026.

A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) apresenta hoje os resultados do estudo "Diagnóstico à Profissão 2025", o qual confirma uma realidade alarmante: Portugal está a perder médicos dentistas para o estrangeiro, devido à falta de condições económicas, à instabilidade profissional e à ausência de políticas estruturais. O não reconhecimento da profissão como sendo de desgaste rápido (mencionado por mais de 60% dos inquiridos), o crescimento dos seguros e planos de saúde que refletem a crescente intermediação financeira do setor, a instabilidade salarial (para 46,2%), a falta de proteção social (42,2%), a ausência de contratos de trabalho (26,5%) e a falta da carreira no SNS (24,7%) são algumas das principais preocupações identificadas no estudo.
Esta tendência não só ameaça a sustentabilidade da profissão, como também agrava as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde oral e representa um risco económico para o país.
Perda de capital humano: intenção de emigrar manifesta-se cada vez mais cedo
Os números falam por si. Atualmente, 7% dos médicos dentistas já trabalham fora de Portugal, sobretudo em França, no Reino Unido e na Suíça. 16,1% emigraram no último ano e 46% exercem no estrangeiro há mais de cinco anos, período a partir do qual a probabilidade de regressar diminui significativamente. Aliás, dos inquiridos apenas 18% pretendem regressar.
Dos motivos apontados para emigrar, 55% afirmam que não conseguiam auferir um rendimento satisfatório em Portugal, 48,3% consideram que a profissão não é valorizada e 43,9% procuram melhor qualidade de vida. A situação é ainda mais grave entre os mais jovens: 41,7% dos profissionais com menos de 30 anos decidiram emigrar antes de concluir o curso, o que indica uma perceção clara de falta de oportunidades no mercado nacional.
Instabilidade e rendimento ditam abandono da profissão
A precariedade da profissão é das principais causas apontadas. 60,4% dos médicos dentistas têm uma remuneração variável, que depende da percentagem dos tratamentos realizados, sem qualquer garantia de estabilidade, até porque o modelo assenta muitas vezes na prestação de serviços e recibos verdes. A isto acresce o facto de a maioria (60,8%) exercer em clínicas ou consultórios de outrem (excluindo hospitais e centros), em que cerca de 70% trabalham simultaneamente em mais do que uma unidade, afetando a qualidade de vida destes profissionais. Esta realidade desvaloriza a profissão e compromete a capacidade de atrair e reter talento.
Segundo o estudo "Diagnóstico à Profissão 2025", a carga horária é outro problema que deve ser discutido. Em Portugal, 28,4% dos médicos dentistas trabalham mais de cinco dias por semana, atendendo, em média, 48 utentes, mas auferindo rendimentos baixos. No estrangeiro, trabalham menos dias, atendem 62 utentes por semana e 56,7% exercem num único local, usufruindo de horários mais equilibrados e melhor qualidade de vida.
Por outro lado, os seguros e planos de saúde refletem-se nesta instabilidade. A esmagadora maioria (82,4%) refere que estes têm uma interferência na remuneração e são apontados pela classe como a segunda maior preocupação, até pelas possíveis implicações na sua autonomia.
Em suma, entre quem exerce em Portugal, 62,6% indicam que o rendimento auferido está abaixo do expectável para as habilitações que têm e 56,7% dizem estar abaixo do expectável para as horas de trabalho.
O estudo aponta ainda que quase 4% não exercem medicina dentária, dos quais 1,9% não trabalham noutra área, sendo que 94% destes inativos já praticaram a profissão (em 2024, eram 75%), o que demonstra que há mais médicos dentistas experientes a abandonar a profissão. Entre os principais motivos para não praticar medicina dentária, há uma mudança em relação à edição anterior: a insatisfação com o rendimento passou a fator dominante.
Impacto económico e social
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A fuga de profissionais qualificados não é apenas um problema da classe médica dentária, mas sim um risco sistémico para a economia e para a saúde pública. A emigração de cada médico dentista representa um investimento perdido em formação e uma diminuição da capacidade de resposta do sistema nacional”, alerta o bastonário Miguel Pavão. "O Diagnóstico à Profissão 2025 confirma uma realidade preocupante: a medicina dentária em Portugal está a perder competitividade económica. Se não criarmos condições para garantir rendimentos justos, estabilidade contratual e regulação dos seguros, continuaremos a assistir à saída de profissionais qualificados, o que terá um impacto direto na economia nacional e na equidade do acesso aos cuidados de saúde. As propostas que apresentámos para o OE26 não são opcionais. São medidas estruturais para travar a desvalorização da profissão e assegurar a sustentabilidade do setor

Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Miguel Pavão

Medidas estruturais no OE26: soluções para travar a crise
Perante este cenário, a OMD considera que as propostas apresentadas para o Orçamento de Estado para 2026 são decisivas para inverter a tendência de emigração e garantir a sustentabilidade do setor:
  • Criação da Carreira Especial de Médico Dentista no SNS. Esta medida corrige uma lacuna histórica e assegura estabilidade, progressão e condições equiparadas às restantes carreiras médicas. Seguindo o modelo da Madeira, permitirá integrar os profissionais nos cuidados de saúde primários e hospitalares, garantindo equipas consistentes e reduzindo a dependência da externalização.
  • Afetação de 30% da receita do imposto sobre bebidas açucaradas à saúde oral. Este financiamento estável permitirá reforçar os programas de prevenção, alargar o "cheque-dentista", digitalizar o boletim de saúde oral e apoiar as autarquias na criação de projetos locais destinados a populações vulneráveis.
  • Reforço dos gabinetes de medicina dentária nos cuidados de saúde primários. Mais de 80 gabinetes, equipados com fundos do PRR, permanecem encerrados devido à falta de integração de profissionais. A ativação destes recursos é urgente para garantir um acesso equitativo aos cuidados de saúde oral.
  • Reformulação do programa "Cheque-Dentista". Introdução de cheques específicos para reabilitação protética e para casos de traumatismos, de modo a garantir uma resposta a situações críticas e a reforçar a prevenção.
Estas medidas não são meras recomendações, mas sim soluções estruturais para proteger a saúde oral dos portugueses, travar a perda de talento e garantir que os médicos dentistas encontram condições para construir uma carreira no país.
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