Mais de uma centena de especialistas estiveram reunidos na primeira edição do Fórum AOP Health para discutirem os tratamentos atuais, o papel dos diferentes especialistas envolvidos na gestão da doença e os desafios no desenvolvimento da prática clínica.
A primeira edição do “AOPH Meeting”, um dos principais fóruns de debate multidisciplinar dedicados à hipertensão pulmonar (HP), reuniu em Madrid alguns dos principais especialistas de Espanha e Portugal para avaliar e partilhar alguns dos desafios e desenvolvimentos desta doença crónica provavelmente subdiagnosticada, estimando-se que existam atualmente em Portugal cerca de 500 doentes com este diagnóstico submetidos a tratamento específico.
O encontro contou com especialistas dos principais centros de referência para a doença em Portugal, localizados no Porto, Coimbra e Lisboa, colocou em debate os tratamentos atuais, o papel importante da enfermagem e os desafios na abordagem desta patologia em Espanha e Portugal, países com sistemas de saúde muito semelhantes. Diagnóstico, terapêuticas e acompanhamento do doente com hipertensão arterial pulmonar (HAP) e tromboembolismo pulmonar crónico, doenças crónicas que causam sobrecarga progressiva e consequente disfunção do ventrículo direito e insuficiência cardíaca, foram alguns dos temas que colocaram em evidência os avanços no desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas como as que nos últimos anos permitiram aumentar a sobrevida média dos doentes. No que diz respeito à HAP é mais comum em mulheres jovens e antes do aparecimento de terapias específicas a sobrevida média era de 2 a 3 anos [i].
Graça Castro, cardiologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, moderou um dos debates e considera que “este encontro constitui um importante fórum de discussão em torno da hipertensão arterial pulmonar (HAP) e tromboembolismo pulmonar crónico, doenças crónicas que afetam várias centenas de portugueses, estimando-se que a incidência possa chegar a 35 novos casos por ano e cujo manejo tem tanto de desafiante como gratificante”.
Apesar de todos os avanços nesta área, Nuno Lousada, médico cardiologista Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte – Hospital Pulido Valente acredita que “o principal desafio continua a ser melhorar os resultados para uma melhor sobrevida e qualidade de vida do doente. A verdade é que a mortalidade e a morbilidade dos doentes com hipertensão pulmonar continuam elevadas”.
Diagnóstico precoce e abordagem multidisciplinar, principais desafios
A deteção precoce de hipertensão pulmonar e referenciação precoce de doentes de alto risco ou complexos constam nas recomendações da European Society of Cardiology (ESC) e da European Respiratory Society (ERS) para o diagnóstico e tratamento de hipertensão pulmonar e encontram-se publicadas no European Heart Journal e no European Respiratory Journal.
Apesar dos esforços que têm sido feitos para divulgar a patologia, o diagnóstico continua a ser tardio e os pacientes geralmente recebem o diagnóstico em estágios avançados da doença, em classe funcional III ou IV Como os sintomas podem ser inespecíficos e semelhantes a outras doenças, muitas vezes são necessários testes especializados. Por isso, os médicos consideram fundamental garantir o acesso aos exames e que sejam utilizados de forma adequada para conseguir um diagnóstico precoce.
“Diagnosticar e tratar precocemente é um desafio que exige pensarmos neste diagnóstico no contexto clínico apropriado e referenciarmos estes doentes aos Centros de Tratamento de Hipertensão Arterial Pulmonar, que possuem equipas multidisciplinares com especialistas e recursos técnicos para o diagnóstico diferencial e o tratamento desta patologia complexa. É da responsabilidade de todos transformarmos essas possibilidades em ganhos de saúde reais para os doentes com hipertensão pulmonar”, acrescenta Mário Santos, cardiologista do Centro Hospitalar Universitário de Santo António no Porto.
Neste encontro marcado pela valorização do diagnóstico precoce e de uma abordagem multidisciplinar, Alzira Melo, enfermeira do Centro Hospitalar Universitário de Santo António, no Porto, acredita que “60% dos doentes podem melhorar a sua qualidade de vida e sobrevida quando diagnosticados atempadamente”. Quando abordada sobre a questão da sensibilização para a doença, não tem dúvidas que, apesar de se tratar de uma doença subdiagnosticada “os médicos estão cada vez mais atentos e referenciam cada vez mais doentes para as consultas de seguimento de HP, ainda que muitas vezes os próprios doentes não percebam o porquê da referenciação”.
Para Andreia Bernardo, uma das responsáveis pela Consulta de Enfermagem de Hipertensão Pulmonar do Centro de Tratamento de Hipertensão Arterial Pulmonar do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte - Hospital Pulido Valente, “esta área constitui um grande desafio para as enfermeiras pelas suas especificidades, o que exige uma constante atualização de conhecimentos. A HAP, sendo uma doença crónica, provoca grandes limitações na vida do doente, com forte impacto familiar, social e profissional, exigindo da equipa de enfermagem uma grande disponibilidade e um acompanhamento regular. A relação terapêutica, a parceria de cuidados com o doente e a família, assim como a articulação entre os vários elementos da equipa multidisciplinar desempenham um papel crucial na melhoria da qualidade de vida destes doentes”.