A equipa do Centro de Referência do Cancro do Reto do Centro Hospitalar Universitário do Algarve desenvolveu e está a implementar um projeto pioneiro e inovador em Portugal com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas ostomizadas.

O projeto, que arrancou em dois centros comerciais do grupo Sonae no norte do País, centra-se essencialmente na criação ou adaptação de instalações sanitárias já́ existentes para a utilização por parte das pessoas ostomizadas.

Em entrevista, o médico Edgar Amorim, Coordenador do Centro de Referência do Cancro do Reto do CHUA, explica-nos o projeto, as suas vantagens para o bem-estar e integração diária dos utentes e fala-nos ainda um pouco sobre a ostomia, sublinhando a importância deste projeto integrador e das soluções que visam melhorar a qualidade de vida dos portadores de ostomia.

Como surgiu a ideia deste projeto?

Uma das missões do Centro de Referência do Cancro do Reto do Centro Hospitalar Universitário do Algarve é identificar e criar projetos que possam ser úteis para a sociedade. Já há algum tempo que este tema, vinha sendo abordado pelos elementos da equipa.

A presença de um estoma pode implicar alterações profundas na qualidade de vida física e psicológica das pessoas ostomizadas e dos seus familiares ou acompanhantes, afetando, por isso, uma franja muito vasta da população.

Por ser desconhecida, ou não visível, é ignorada ou menosprezada, não havendo qualquer mobilização para normalizar o dia-a-dia destas pessoas. Na nossa opinião a criação ou adaptação de espaços de instalações sanitárias já existentes (por exemplo, instalações sanitárias de mobilidade condicionada) à utilização por ostomizados pode ser a chave para aumentar a sensação de bem-estar e a reabilitação dos ostomizados na sociedade.

Qual a participação do CHUA neste projeto?

O Centro de Referência do Cancro do Reto CHUA foi a “chave de ignição” para que todo este processo se desencadeasse. Neste momento, a nossa participação está direcionada para o aconselhamento técnico das necessidades que os doentes portadores de ostomia apresentam. O CHUA dispõe de profissionais altamente qualificados e consultas especializadas que permitem todo o acompanhamento e orientação destes utentes.

Porque motivo o projeto arrancou no Norte?

O Centro de Referência do Cancro do Reto CHUA deve ter uma ambição de projeção nacional e não apenas regional. A razão deste projeto ter arrancado no Norte, deve-se a uma parceria que estabelecemos com a equipa Reify, da Sonae Sierra. Tratando-se de um grupo que aposta muito na inovação e tem interesse por projetos inovadores (não esquecer que até ao momento não existe nada semelhante em Portugal), este projeto teve logo acolhimento por ser uma medida inovadora, diferenciadora e pioneira de inclusão e promoção da melhoria da qualidade de vida.

Em quantos centros comerciais vão ser instaladas as referidas casas de banho para doentes ostomizados?

Neste momento já estamos presentes em dois centros comerciais do norte (Arrábida e Maia shopping) mas em breve estaremos também presentes num projeto na ilha de São Miguel, em Viana do Castelo e Guimarães.

A ideia é alargar o projeto de forma gradual a todas as casas de banho dos centros comerciais da Sonae Sierra e ao mesmo tempo desenvolver parcerias com entidades públicas (autarquias) ou outros grupos privados.

Quando vai ser replicado este projeto no Algarve?

Atualmente estamos a trabalhar com a Câmara Municipal de Portimão para que tal seja possível. Esperamos ter em breve a primeira casa de banho pública adaptada ao doente portador de estoma. Isto assume especial importância pelo facto de Portimão ser um destino turístico procurado por muitos visitantes nacionais e internacionais.

Não nos podemos esquecer que só em Portugal existem cerca de 15 mil portadores de uma ostomia, dos quais cerca de 12 mil são ileostomias de eliminação.