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Em Portugal sabe-se pouco sobre as funções do rim e sobre os factores de risco para a doença renal crónica

Em Portugal sabe-se pouco sobre as funções do rim e sobre os factores de risco para a doença renal crónica

Inquérito à população revela desconhecimento sobre as funções do rim e sobre a associação às doenças cardiovasculares como consequência da doença renal crónica, que o especialista atribui à falta de literacia em saúde.

Existe, em Portugal, um grande desconhecimento sobre o papel do rim no organismo, confirma um inquérito realizado junto da população, uma iniciativa da Escola Nacional de Saúde Pública, sob coordenação da Doutora Ana Rita Pedro, com o apoio da AstraZeneca, que assinala o Dia Mundial do Rim. Ao todo, 32,5% dos inquiridos consideram que os rins não produzem urina, quando esta é uma das suas funções. A este ponto junta-se ainda 24,2% que reportam não saber a resposta.

Um desconhecimento que Edgar Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, atribui à falta de literacia em saúde, que continua a ser uma constante para muitos portugueses. “Estes dados mostram que há necessidade de se aumentar a literacia em saúde, mas ela não é isolada, deve estar incluída na educação global, que tem de ser implementada para que possamos ter resultados. Mas atenção, que estes nunca serão imediatos, é uma acção a médio e longo prazo, mas vale a pena começar. Até porque a nossa população está a envelhecer, os factores de risco aumentam com a idade e o grupo de pessoas com doença renal que atingem a fase em que são necessários tratamentos substitutivos aumenta bastante.1,2

Ainda de acordo com os resultados do inquérito, os problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca ou enfarte, não são identificados como factor de risco da doença renal crónica por 21,8% dos inquiridos, com 33,5% a admitir não saber a resposta. Ao todo, 45% não sabem ou respondem de forma errada quando questionados sobre se as doenças cardiovasculares são uma consequência desta doença, ainda que os inquiridos com história de problemas renais ou história familiar para esta doença revelem um nível de conhecimento superior.

Edgar Almeida explica que “os factores de risco para a doença renal crónica são muito semelhantes aos fatores de risco para as doenças cardiovasculares no geral. Ou seja, as pessoas que são obesas, hipertensas, os diabéticos, as pessoas que fumam, com um elevado consumo de sal na alimentação, também estão em risco de doença renal”. O que significa que “se fizermos tudo para termos hábitos de vida saudáveis estamos a proteger também o rim. No entanto, porque esta é uma doença muito vaga, surge a questão: quando é que as pessoas se têm que preocupar com isto? As pessoas têm que se preocupar em ter os chamados estilos de vida saudáveis, mas são os profissionais de saúde que têm de estar alerta para o diagnóstico da doença renal crónica. E a nossa missão não é só dirigida à população geral, mas também aos médicos, que podem detectar precocemente esta patologia, sobretudo quando as pessoas têm os fatores de risco referidos”. 2

De acordo com o especialista, a doença renal crónica tem duas fases distintas: “uma fase até ao início do tratamento substitutivo renal, em que as pessoas são acompanhadas nas consultas; e uma segunda fase, em que as pessoas têm necessidade de fazer hemodiálise, diálise peritoneal, transplante”. Nesta situação estima-se que, em Portugal, se encontrem aproximadamente 20 mil pessoas, às quais se juntam “6,1% da população que se estima esteja na fase dita pré-diálise, ou seja, com uma doença moderada a severa”. O que significa que a doença renal crónica “é importante, embora passe despercebida e terá uma dimensão que não fica muito aquém, infelizmente, da diabetes como doença crónica”. 3,4

E tudo isto com um grande impacto. “Felizmente, o tratamento é integralmente suportado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), existindo um grande impacto económico para o País. Mas além desse custo, com o qual todos nós contribuintes nos devemos preocupar, porque o dinheiro podia ser usado para outras coisas, há outro impacto, que se sente na vida das pessoas, que se altera de forma significativa. A hemodiálise costuma ser feita durante quatro horas, três vezes por semana, num centro de diálise, o que torna as pessoas limitadas na sua mobilidade e isto é muito limitativo para quem quer ser autónomo.3

Precisamente com o intuito de alertar a população para a importância de reconhecer e não desvalorizar os sintomas da doença renal crónica, tentando assim chegar a um diagnóstico precoce e que permita um tratamento da doença menos limitativo, a Associação Portuguesa de Insuficientes Renais, a Sociedade Portuguesa de Nefrologia e a AstraZeneca, uniram-se para lançar a campanha #SemFiltros, uma alusão ao papel dos rins no organismo que, entre outras, têm a função de filtrar o sangue.

Referências:

*Os dados referem-se a uma iniciativa desenvolvida pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa, com base num inquérito realizado à população.

1. Censos 2021 disponível em https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21_main&xpid=CENSOS21&xlang=pt consultado em Março de 2022.

2. Clin Pract (Lond). 2014; 11(5): 525–535.

3. Disponível em https://www.portaldadialise.com/articles/doenca-renal-cronica-em-portugal-importancia-da-prevencao consultado em Março de 2022.

4. Disponível em https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2017/06/RNEHR-Nefrologia-Aprovada-19-06-2017.pdf consultado em Março de 2022.

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