Um novo estudo, publicado recentemente na revista científica Journal of Translational Medicine, reporta o sucesso do tratamento de quatro bebés prematuros com displasia broncopulmonar, recorrendo a células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical. O tratamento consistiu em duas administrações intravenosas de células estaminais do cordão umbilical, com uma semana de intervalo, tendo os bebés sido observados uma semana, um mês, seis meses e um ano após o tratamento.
Duas gémeas, nascidas às 24 semanas de gestação, foram diagnosticadas com displasia broncopulmonar quatro meses após o nascimento. A gémea mais velha iniciou o tratamento com células estaminais 144 dias após o nascimento, e a mais nova na semana seguinte. Três dias após o segundo tratamento, a gémea mais velha conseguia respirar espontaneamente, com uma saturação de oxigénio de 96%, tendo recebido alta hospitalar passadas duas semanas. A irmã mais nova também reagiu favoravelmente ao tratamento, tendo recebido alta três dias após o tratamento com células estaminais, ainda dependente de terapia com oxigénio, devido a uma saturação de oxigénio de 83%. A evolução das duas gémeas durante o período de seguimento revelou-se muito positiva e, um ano após o tratamento, ambas apresentavam saturação de oxigénio de 100%, sem necessidade de suporte respiratório.
O terceiro bebé nasceu às 34 semanas de gestação, com necessidade de ventilação mecânica durante os primeiros três meses e foi tratado com células estaminais quase seis meses após o nascimento. A sua evolução nos meses seguintes ao tratamento revelou-se muito favorável, tendo conseguido respirar de forma independente dois meses depois, com níveis de saturação de oxigénio entre os 96-98%. O quarto bebé nasceu às 28 semanas de gestação, com graves dificuldades respiratórias, que obrigaram à ventilação mecânica durante nove semanas. Esta bebé foi tratada com células estaminais aos cinco meses de idade e apenas quatro dias após a primeira administração, era capaz de respirar espontaneamente. O período de seguimento revelou uma recuperação da função pulmonar, tal como nos casos anteriores e, um ano após o tratamento, a bebé respirava autonomamente com uma saturação de oxigénio de 100%.
O tratamento com recurso a células estaminais revelou-se seguro em todos os casos, sem efeitos adversos associados, conduzindo a uma evolução favorável dos bebés no primeiro ano após o tratamento: «Estes resultados, apesar de não permitirem retirar conclusões definitivas acerca da eficácia do tratamento de displasia broncopulmonar com células estaminais, são muito encorajadores e sublinham o seu potencial para o tratamento desta condição e a necessidade de conduzir ensaios clínicos com maior número de doentes que permitam avaliar adequadamente esta opção terapêutica», conclui Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, grupo pioneiro na criopreservação de células estaminais em Portugal.
Do nascimento prematuro podem advir complicações a nível respiratório, que podem conduzir ao desenvolvimento de displasia broncopulmonar, a doença pulmonar crónica mais prevalente em bebés prematuros. O suporte respiratório com oxigénio e a administração de corticosteroides e broncodilatadores fazem parte do conjunto de recursos actualmente disponíveis para o tratamento desta doença.
Apesar da evolução dos cuidados neonatais, nos últimos 50 anos, terem permitido melhorar significativamente o seu tratamento, a displasia broncopulmonar continua a deixar sequelas que afectam a função pulmonar do indivíduo ao logo da sua vida. Desta forma, têm sido realizados diversos estudos que demonstram a segurança da terapia celular no tratamento desta doença.
Em Portugal, a taxa de prematuridade é de cerca 8% e a prevalência de bebés prematuros abaixo das 32 semanas é de 1,2%, sendo uma das taxas de prematuridade mais alta da Europa. Por dia, nascem em Portugal cerca de 20 bebés prematuros, o que representa 10% de todos os nascimentos.
O Dia Mundial da Prematuridade assinala-se a 17 de Novembro.