A diabetes e a insuficiência cardíaca ocorrem frequentemente em conjunto e aumentam o risco uma da outra
Para assinalar o Dia Mundial do Coração, celebrado anualmente a 29 de setembro, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) reforça a importância de se estar atento aos sinais de alerta da Insuficiência Cardíaca (IC) em pessoas com diabetes, cuja prevalência continua em crescimento. Cerca de um terço destas têm também IC (2-5 vezes mais frequente do que nas pessoas sem diabetes), estando associada uma mortalidade a 5 anos de 30-40%.
“A diabetes e a IC ocorrem frequentemente em conjunto e a presença de cada uma delas em associação aumenta o risco absoluto da outra. Em comparação com as pessoas sem diabetes, a presença da doença duplica o risco de IC no homem, e quadruplica o risco na mulher. Quanto mais avançada a idade, maior a possibilidade de uma pessoa com diabetes vir a ter insuficiência cardíaca.”, alerta Pedro Matos, cardiologista na APDP.
A IC na diabetes manifesta-se clinicamente de forma variada, alternando entre sintomas inespecíficos, como o cansaço, e outros mais clássicos, como a dispneia e os edemas periféricos. “Na maioria dos casos, o processo de desenvolvimento da IC na diabetes é diferente, não havendo diminuição da contractilidade cardíaca evidenciada pelas técnicas diagnósticas. Por isso, muitas vezes, o diagnóstico é menos óbvio do que nos casos em que a função sistólica cardíaca está comprometida.”, acrescenta.
Nas últimas décadas tem-se assistido a inúmeras transformações no que diz respeito à luta contra a diabetes, tanto no diagnóstico e seguimento, como no tratamento e na utilização das novas tecnologias. “É certo que as transformações das últimas décadas nos têm feito caminhar para uma melhoria do controlo glicémico em pessoas com diabetes. Também na doença cardiovascular, a maior sensibilização da comunidade para os fatores de risco tem contribuído em muito para a redução do número de eventos major.”, avança o especialista.
“No entanto, a crescente melhoria nas abordagens terapêuticas destas complicações levou a que a expressão da doença cardiovascular deixasse de ser predominantemente derivada da doença coronária, passando a estar mais relacionada com a insuficiência cardíaca.”, explica.
Atualmente, existem já várias opções de tratamento com benefício comprovado, sendo crucial apostar no diagnóstico precoce, de forma a realizar uma intervenção atempada. Ainda assim, e apesar de toda a evolução verificada nesta área, em especial nos últimos 10 anos, a prevalência de IC em pessoas com diabetes continua extremamente elevada e com sinais de crescimento.
“Devido a isto, verifica-se um enorme acréscimo de pessoas hospitalizadas por descompensação da IC, um maior recurso aos serviços de urgência e um aumento de pessoas com incapacidade temporária.”, refere.
Depois de muitos anos sem novos fármacos disponíveis para tratar a IC, existe agora uma janela de oportunidade, que poderá permitir modificar o futuro das pessoas que já têm esta complicação. Eventualmente, poderá ser ainda possível mudar o rumo de quem está em significativo risco de a vir a desenvolver.
Ainda assim, a Associação defende a importância de se estar atento aos sinais de alerta para a IC, sendo mais proactivos no diagnóstico precoce e na seleção das estratégias de tratamento. “Talvez assim, possamos todos, profissionais de saúde e pessoas com diabetes, inverter ou estabilizar a progressão desta pandemia de IC na diabetes, que se parece estar a anunciar.”, conclui Pedro Matos.